Hoje cheguei a casa e mãe e filha tinham regressado.
Cheguei à cozinha e Maria estava aflita.
- O que foi Maria?
- A senhora Mariana trouxe carne e pediu para eu cozinhar. Está na geladeira.
- Não vais cozinhar. Hoje vamos fazer hambúrgueres de grão de bico e uma salada de quinoa.
Estávamos a duas a modelar os hambúrgueres quando ela entrou e me ignorou completamente.
- Maria, podes fazer essa carne grelhada para mim e para a Marina.
- Não faz não. A carne já foi para o lixo- eu havia-a escondido para a Maria levar para casa.
- Com que autoridade você deita as minhas coisas fora?
- Com a autoridade que o seu filho me deu e se não está satisfeita reclame com ele.
- Eu programei um jantar aqui no próximo sábado. Quer dizer que não posso servir carne aos meus convidados.
- Jantar? Eu autorizei algum jantar?
- Essa é boa. Quer dizer que eu preciso de pedir autorização a ti para receber na minha casa?
- Exactamente. Ainda não percebeu que aqui quem manda sou eu?
- RODOLFFO! Chega aqui e explica à tua mulherzinha que eu vou receber uns amigos no sábado.
- Mãe, calma. Juliette, sê condescendente só uma vez.
- Um jantar por um milhão, Rodolffo. E condescendência é palavra que neste momento não faz parte do meu vocabulário.
- Mãe, está fora de questão esse jantar.
- Não é possível que essa assassina agora venha mandar na nossa vida. Rodolffo, no que te tornaste!
- Cuidado com essa língua, senão eu jogo a senhora no olho da rua. Respeito é bom e eu gosto e por aqui tem havido muito pouco.
- Vais deixar ela falar assim comigo, Rodolffo?
- Mãe, sem dramas, por favor.
- Vamos conversar no escritório só os dois, Rodolffo.
- O que se passa? O que fizeste para ela proceder assim.
- Não fiz nada.
- Então? Não entendo.
- Deixa, mãe. Dei um tiro no pé. Agora tenho que aguentar e vocês também. A alternativa é irem para a outra casa.
- E tu, vais também?
- Não. Eu tenho que morar aqui.
- E isso termina quando?
- Quando um quiser pagar um milhão ao outro.
- MÃE. Ouviu-se a voz de Marina.
- Estou aqui no escritório.
- O Filipe vem jantar connosco.
- Não sei se pode. Tens que pedir autorização à tua cunhada.
- O quê? Como pedir autorização?
- Eu vou lá, disse Rodolffo. Não quero mais gritaria.
Rodolffo saiu do escritório com ar abatido. Ele que nunca gostou de conflitos via-se agora entre a espada e a parede.
- Juliette, a Marina quer que o Filipe, seu namorado venha jantar aqui hoje. Deixa, por favor.
- Aquele advogado engomadinho que não me defendeu?
- Esse mesmo.
- Pode vir sim. Esse eu faço questão de ter por perto.
- Não entendi, disse Rodolffo.
- Tanta coisa que não entende, senhor.
A cláusula do contrato em que eu punha e dispunha aqui em casa, bloqueou o que quer que ele tivesse projectado para me humilhar. Trabalhar não era humilhação para mim e aqui os humilhados eram outros.
- A Juliette aceitou, disse Rodolffo subindo de imediato para o seu quarto.
Porque é que ela aceitou a presença dele. Será que os dois tiveram alguma coisa naquela altura? Isto e outras coisas povoavam o pensamento de Rodolffo e ele não queria sentir os ciúmes que sentia.
Marina foi à cozinha e tirou uma garrafa de vinho da garrafeira.
- Isso é para quê?
- Vou abrir para o Filipe. Ele gosta de vinho ao jantar.
- Lamento. Hoje todos bebem àgua. Vinho e para festas e que eu saiba não comemoramos nada.
- Veremos se na hora tens coragem de não servir vinho.
- Como?
- Nada. Estava a pensar alto.
- Espero que o teu namorado aprecie o jantar vegetariano.
- Mas eu e a mãe comprámos carne!
- Carne é para ricos e pelo caminho que isto leva, vocês têem que começar a poupar para juntar um milhão.
- Não entendi!
- Pergunta ao teu irmão.
Marina saiu e Juliette desatou à gargalhada com Maria que não sabia o que dizer.