Cap. XII

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Hoje cheguei a casa e mãe e filha tinham regressado.

Cheguei à cozinha e Maria estava aflita.

- O que foi Maria?

- A senhora Mariana trouxe carne e pediu para eu cozinhar.  Está na geladeira.

- Não vais cozinhar.  Hoje vamos fazer hambúrgueres de grão de bico e uma salada de quinoa.

Estávamos a duas a modelar os hambúrgueres quando ela entrou e me ignorou completamente.

- Maria, podes fazer essa carne grelhada para mim e para a Marina.

- Não faz não.  A carne já foi para o lixo- eu havia-a escondido para a Maria levar para casa.

- Com que autoridade você deita as minhas coisas fora?

- Com a autoridade que o seu filho me deu e se não está satisfeita reclame com ele.

- Eu programei um jantar aqui no próximo sábado.  Quer dizer que não posso servir carne aos meus convidados.

- Jantar?  Eu autorizei algum jantar?

- Essa é boa.  Quer dizer que eu preciso de pedir autorização a ti para receber na minha casa?

- Exactamente.  Ainda não percebeu que aqui quem manda sou eu?

- RODOLFFO! Chega aqui e explica à tua mulherzinha que eu vou receber uns amigos no sábado.

- Mãe, calma.  Juliette,  sê condescendente só uma vez.

- Um jantar por um milhão,  Rodolffo.  E condescendência é palavra que neste momento não faz parte do meu vocabulário.

- Mãe, está fora de questão esse jantar.

- Não é possível que essa assassina agora venha mandar na nossa vida.  Rodolffo,  no que te tornaste!

- Cuidado com essa língua, senão eu jogo a senhora no olho da rua.  Respeito é bom e eu gosto e por aqui tem havido muito pouco.

- Vais deixar ela falar assim comigo, Rodolffo?

- Mãe, sem dramas, por favor.

- Vamos conversar no escritório só os dois,  Rodolffo.

- O que se passa?  O que fizeste para ela proceder assim.

- Não fiz nada. 

- Então?  Não entendo.

- Deixa, mãe.  Dei um tiro no pé.  Agora tenho que aguentar e vocês também.   A alternativa é irem para a outra casa.

- E tu, vais também?

- Não.   Eu tenho que morar aqui.

- E isso termina quando?

- Quando um quiser pagar um milhão ao outro.

- MÃE. Ouviu-se a voz de Marina.

- Estou aqui no escritório.

- O Filipe  vem jantar connosco.

- Não sei se pode. Tens que pedir autorização à tua cunhada. 

- O quê?  Como pedir autorização?

- Eu vou lá, disse Rodolffo.  Não quero mais gritaria.

Rodolffo saiu do escritório com ar abatido.  Ele que nunca gostou de conflitos via-se agora entre a espada e a parede.

- Juliette,  a Marina quer que o Filipe, seu namorado venha jantar aqui hoje.  Deixa, por favor.

- Aquele advogado engomadinho que não me defendeu?

- Esse mesmo.

- Pode vir sim.  Esse eu faço questão de ter por perto.

- Não entendi, disse Rodolffo.

- Tanta coisa que não entende, senhor.

A cláusula do contrato em que eu punha e dispunha aqui em casa, bloqueou o que quer que ele tivesse projectado para me humilhar.  Trabalhar não era humilhação para mim e aqui os humilhados eram outros.

- A Juliette aceitou, disse Rodolffo subindo de imediato para o seu quarto.

Porque é que ela aceitou a presença dele.  Será que os dois tiveram alguma coisa naquela altura?  Isto e outras coisas povoavam o pensamento de Rodolffo e ele não queria sentir os ciúmes que sentia.

Marina foi à cozinha e tirou uma garrafa de vinho da garrafeira.

- Isso é para quê?

- Vou abrir para o Filipe.  Ele gosta de vinho ao jantar.

- Lamento.  Hoje todos bebem àgua. Vinho e para festas e que eu saiba não comemoramos nada.

- Veremos se na hora tens coragem de não servir vinho.

- Como?

- Nada.  Estava a pensar alto.

- Espero que o teu namorado aprecie o jantar vegetariano.

- Mas eu e a mãe comprámos carne!

- Carne é para ricos e pelo caminho que isto leva, vocês têem que começar a poupar para juntar um milhão.

- Não entendi!

- Pergunta ao teu irmão.

Marina saiu e Juliette desatou à gargalhada com Maria que não sabia o que dizer.

Nós dois e o restoOnde histórias criam vida. Descubra agora