Diante do enorme emblema da Vila Oculta da Folha, sob o magnífico céu noturno e estrelado de verão, estremeci. Não por conta da brisa suave que bagunçou as ondas do meu cabelo e acariciou a pele nua dos meus braços, mas sim pela percepção da presença dele.Eu não estava sozinha.
— O que faz aqui tão tarde? Ainda que não possua chakra, é perigoso.
Ao mirar o par de olhos vermelhos, admirei o contraste deles com a pele e cabelo pálidos, então estremeci mais uma vez; por um motivo completamente diferente. Meu corpo se acendeu e o calor esquentou o meu rosto, levando o rubor às minhas bochechas.
— Eu ainda estou procurando por eles. -confessei.
Tobirama estalou a língua, inclinou a cabeça para a direita e repousou uma das mãos, grande e calejada, na lateral do meu rosto. Seus olhos exalavam consternação, mas eu não queria que ele sentisse pena de mim.
— Está tudo bem, vou encontrá-los. -emendei rapidamente.
Tobirama sorriu, mas o olhar não mudou.
Seu polegar comprido acariciou minha bochecha e eu me permiti sentir conforto. Quando me dei conta, a consternação em seus olhos já não me incomodava tanto.— Khione, -ele disse o meu nome como se me adorasse. — por que continua recusando a minha ajuda?
Nós sempre discutíamos sobre o mesmo assunto.
Recuei, ainda que ficar longe das mãos dele fosse ruim.— Eu sei como as pessoas reagem quando me vêem. Nem todos me aceitam como você faz. A maioria vai me questionar e até mesmo duvidar de mim. Serei vista como uma ameaça!
— Eu estou disposto a cuidar de você. E você sabe disso, mas insiste em me rejeitar.
— Eu jamais o rejeitaria. -afirmei com certeza.
Tobirama avançou na minha direção, segurou um dos meus pulsos e me puxou para si. Parei há centímetros de distância do seu corpo, podendo sentir a respiração quente no topo da cabeça e o calor da sua pele apesar das roupas. Ergui o queixo, encontrando o par de olhos carmesim.
— Então prove.
Suas palavras soaram como um desafio.
Hipnotizada pelos traços do seu rosto e pelo movimento dos seus lábios, eu apenas ouvi, sem interrompê-lo.— Eu prometo que cuido de você, prometo que meu irmão enviará tropas à procura da sua família e que todos serão acolhidos quando forem encontrados. Contudo, prove que jamais me rejeitaria e aceite minha oferta.
Por um instante, imaginei a situação.
Ser protegida por Tobirama e receber a ajuda do Hokage seria uma benção, mas eu não passaria de um fardo que se tornaria pesado demais para eles. E eu não queria ser um estorvo.— Não quero levá-la à força, mas estou farto desses encontros secretos. Quero que todos saibam que eu pertenço a alguém e quero que seja você!
Tobirama estava falando bem perto da minha boca e suas palavras soaram tão sinceras que eu me vi abandonando os bons modos. Beijei-o em meio à comoção, ciente de que me deixar levar pelas emoções sempre seria um erro. Porém, aquele Senju havia se tornado o meu ponto fraco. Ser tocada por ele me fazia sentir anestesiada e eu precisava me livrar das preocupações rotineiras, ainda que fosse por breves instantes.
— Eu sinto muito.
Minha voz saiu entrecortada, interrompida pelos lábios insistentes dele. Porém, quando ouviu minhas palavras, Tobirama recuou. Suas mãos se afastaram do meu corpo e eu senti falta da pressão dos seus dedos em minha carne, mas seria egoísmo revelar, sob tais circunstâncias, que a atração física que eu sentia não era o suficiente para me fazer enfrentar obstáculos ao seu lado.
— E eu lamento.
Tobirama proferiu aquelas palavras com tanta sinceridade que eu as tomei como um aviso. Meus músculos ficaram tensos e um arrepio de alerta desceu pela minha espinha. Quando olhei para trás, estava cercada.
— Não posso deixá-la desaparecer por mais tempo. Eu lamento, mas preciso ser egoísta desta vez.
Estremeci quando procurei e não visualizei uma brecha. Eu seria pega e não havia escapatória. Fui tomada pela mesma sensação aterrorizante de anos atrás, quando minha família e eu fomos encurralados por um esquadrão inimigo e apanhamos como animais durante dois dias e duas noites.
Tobirama conhecia a história e ainda assim me fez reviver tudo.
— Essa era a sua intenção desde o início? Me trair?
— Eu jamais trairia a sua confiança, Khione.
Lembrei-me de quando minha mãe, Davina, me aconselhava a respeito dos homens e meu pai, Yohan, me preparava para relacionamentos futuros. Segundo eles, ninguém era capaz de ser perfeito o tempo inteiro. Pessoas boas – e reais – tinham defeitos e características das quais se envergonhavam. E eu ignorei todos os conselhos deles quando conheci Tobirama.
Fiquei encantada por ele, por ter encontrado um homem livre de defeitos. Um homem que nunca reclamava da própria vida, que nunca era grosseiro ou agressivo e que me respeitava. Pessoas reais eram cheias de defeitos, então como eu não percebi isso? Como não me preparei para o momento atual?
— Você pode até me levar à força, mas saiba que não seremos um casal dentro desses portões. Eu não o perdoarei por isso. O amor não fere assim!
— Cruzar o país sozinha e sem chakra é um risco constante. Estou te protegendo de si mesma.
O esquadrão permanecia disperso, mantendo o círculo aberto ao invés de me sufocar no centro. Entretanto, eu sabia que aquelas pessoas reagiriam no instante em que eu tentasse fugir. Estavam todos em alerta, com a guarda alta e os olhos fixos em mim.
O sentimento de impotência trouxe consigo a raiva e a frustração. Eu me sentia patética por reconhecer que a única coisa que eu podia fazer era gritar.
— Você não pode me obrigar a aceitar ajuda. Eu não quero!
— Pode não querer agora, mas precisa.
Mesmo ciente de que seria derrotada, eu me deixei ser guiada pelos meus instintos. Encontrei uma brecha; uma árvore próxima e desprotegida pelo esquadrão que me cercava. Tobirama certamente alertou seus homens a respeito da minha falta de chakra, mas nem ele sabia o quão flexível e rápida eu podia ser. Eu tinha o elemento surpresa.
Saltei na direção da minha rota de fuga e aterrissei perfeitamente no galho mais baixo. De cima, pude ver que havia somente uma fileira de homens me cercando. Dessa forma, minhas chances de fugir aumentaram em pelo menos 20%.
— Eu jamais usaria a força contra você, Khione.
A declaração de Tobirama chamou minha atenção.
Não resisti ao reflexo natural de olhar para ele pela última vez e fiquei estarrecida quando percebi o incensário em suas mãos.Todos os shinobi, inclusive Tobirama, vestiram uma espécie de máscara que cobria o nariz e a boca. Um cheiro doce tomou conta do meu olfato e eu logo entendi que havia sido pega sem sequer ser tocada por eles.
— Espero que possa me perdoar. -disse o Senju.
Sentei-me no galho da árvore conforme os meus membros paravam de responder aos comandos do meu cérebro. Eu queria correr, a oportunidade estava diante dos meus olhos, mas a essência a ser queimada no incensário me impedia.
Era um veneno respiratório usado para paralisar os inimigos. E seus efeitos eram certeiros.— A partir de hoje...
Comecei a falar, mas minhas cordas vocais foram corrompidas pelo veneno que eu estava inalando. Em um último impulso, me esforcei o máximo que pude para completar a frase.
— ... eu o rejeitarei para sempre.
Perdi a visão e cambaleei.
Percebi, antes de cair, que um shinobi também havia sido afetado e outros o acudiram. Pensei que seria ótimo cair daquela altura diretamente no chão. Não havia ninguém para aparar a minha queda e eu adoraria ver Tobirama sendo consumido pela culpa.Mas ele me segurou e, incapaz de lutar, adormeci.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐀𝐤𝐚𝐢 𝐈𝐭𝐨 • 𝒆𝒏𝒕𝒓𝒆 𝑼𝒄𝒉𝒊𝒉𝒂𝒔 𝒆 𝑺𝒆𝒏𝒋𝒖𝒔
Fanfiction"Um fio invisível une todos aqueles que estão destinados a encontrar-se, independentemente do tempo, lugar ou circunstância. O fio pode esticar-se ou emaranhar-se, mas nunca se partirá." Segundo a lenda Akai Ito, os deuses amarram um fio vermelho no...