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    A luz do sol estava tão intensa que foi difícil abrir os olhos, mas a cama era muito confortável e por isso não me desesperei. Acostumei-me com a luz e não reconheci o ambiente onde estava acomodada. Lembrei-me, então, de que havia sido pega.

— Enfim, você acordou!

    Sentei-me rapidamente ao ouvir a voz feminina e desconhecida. Eu nem reparei que havia uma mulher no mesmo cômodo, sentada ao lado da cama onde eu estava. Sua mão delicada segurou o meu ombro e o olhar dela não me fez sentir ameaçada, mas ainda assim, recuei.

— Quem é você?

    A mulher ruiva sorriu, nada incomodada com a minha grosseria.

— Sou Mito Uzumaki, noiva do Hokage e líder do grupo de ninjas médicos em Konoha. Sei que você ainda não confia em mim, eu também não confio em você, mas tenho certeza de que nós duas podemos construir uma relação de confiança se formos colaborativas uma com a outra.

    Pestanejei, surpresa com o quão direta ela podia ser.
    Seus doces olhos verdes escondiam a bravura de uma kunoichi e esse era um detalhe difícil de ser ignorado. Além disso, colaborar era a única opção que eu tinha. Eu já havia sido pega, então de nada adiantaria complicar as coisas.

— Por quanto tempo fiquei desacordada?

— Três dias.

    Fiquei perplexa.
    E envergonhada.

— O veneno era tão forte assim? -perguntei.

    Mito sorriu, leu o conteúdo anotado no papel que estava segurando e voltou a olhar para mim.

— Não, era básico. Contudo, você estava exausta, desnutrida e desidratada. De acordo com os relatos de Tobirama, você viajava bastante e sem chakra. Presumo que a última temporada tenha sido escassa.

    Ela acertou sobre tudo.
    Os últimos três meses foram os piores no quesito alimentação. Entretanto, eu não estava me sentindo cansada e queria encontrar a minha família o mais rápido possível. Por isso, deixei a saúde de lado.

— O meu corpo estava reagindo bem. Eu sentia os músculos sempre tensos, mas isso não é algo anormal na vida de alguém que cruza o país tantas vezes sem o auxílio de chakra. Não pensei que fosse tão ruim.

— Você nasceu assim? Sem chakra?

    Olhei de soslaio para Mito e soltei uma risada áspera. Eu não conseguia ser simpática respondendo tantas perguntas.

— Tobirama não te contou tudo o que sabia sobre mim?

— E você prefere que eu acredite na versão dele ou na sua?

— Pensei que você confiasse nele. -retruquei.

— E confio, mas é a sua vida.

    Cerrei os punhos e desviei o olhar.
    Eu até queria colaborar, mas era difícil lidar com o constrangimento. Logo, Mito emendou:

— Sei que pode ser difícil fornecer informações pessoais para uma pessoa que você não conhece, mas as mesmas perguntas serão repetidas pelo Hokage e ele não terá tanta paciência se souber que você se recusou a colaborar comigo. Portanto, saiba que eu sou sua melhor opção.

    Naquele instante, eu quis gritar com Mito, dizer que estava ali contra a minha vontade e que agradecia pela ajuda, mas que recusava. Entretanto, eu estava em posição de recusar algo? A vida raramente me favorecia tanto.

    Parei de contrair os músculos das mãos, aceitei a derrota e suspirei. Decidi ser uma pessoa mais colaborativa, pelo menos com aquela médica.

— Eu nasci sem chakra, é verdade.

𝐀𝐤𝐚𝐢 𝐈𝐭𝐨 • 𝒆𝒏𝒕𝒓𝒆 𝑼𝒄𝒉𝒊𝒉𝒂𝒔 𝒆 𝑺𝒆𝒏𝒋𝒖𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora