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    Exausta, quase desidratada e ofegante, deixei as várias sacolas cheias de roupas, tecidos e sapatos na cozinha da minha casa. Mito estava carregando as sacolas com comida, muito mais pesadas, mas era como se estivesse carregando sacos de penas. Ela deixou tudo ao lado da lareira e deu uma boa olhada ao redor.

— É uma ótima casa, não é?

    Entre um copo de água e outro, respondi:

— Muito mais do que eu preciso e mereço. Prometo retribuir quando puder.

— Aceite os presentes que recebe e pare de agir como se estivesse em dívida conosco. Você sequer pediu por isso, mas ganhou. Aproveite em paz.

— Eu estou aproveitando, mas prefiro retribuir porque é um costume do meu povo. É raro recebermos presentes, mas fazemos boas trocas quando temos a oportunidade.

— Se é assim, tudo bem. -Mito deu de ombros, caminhando até a porta. — Preciso descansar um pouco, pois partirei em missão ao anoitecer. Mais uma vez, obrigada pela conversa que tivemos mais cedo. Nos vemos em alguns dias.

— Espere, Mito!

    Chamei, mas ela já estava lá fora.
    Corri até a porta e chamei mais uma vez. Mito estava há poucos metros de distância, mas me deu sua atenção.

— O que foi?

— Alguém vem buscar as sacolas? Você disse que conseguiria levar tudo sozinha, mas acabou esquecendo.

— Ah, não. Ninguém vem buscar e eu não vou levar. São suas.

    Pestanejei e comecei a gaguejar, incapaz de formular uma frase. Mito riu de mim e continuou andando, mas eu não podia aceitar presentes tão caros que eu nem merecia. Recuperei a fala e gritei:

— Vou enviar para o Hokage, não posso aceitar tudo isso!

— Pode me pagar quando começar a trabalhar, se isso fizer você se sentir melhor. Por ora, aceite e em silêncio. Ficarei ofendida se qualquer uma dessas sacolas for devolvida!

    Ela desapareceu, correndo rápido demais para ser alcançada por mim. Movida pela frustração, fechei a porta da minha casa com toda a força que tinha. Um vizinho reclamou do barulho, mas não consegui ouvir o que ele disse e não me importei com isso. Eram tantas sacolas espalhadas pela minha casa que me senti mal. Literalmente, fiquei tonta e enjoada.

    Sentei-me no sofá, ao lado de algumas sacolas, e respeitei o meu próprio tempo. Decidi que colocaria tudo em seu devido lugar quando eu melhorasse, mas por enquanto, descansar era primordial.


•••


    Depois de guardar todos os alimentos, lavei o corpo e comecei a organizar as roupas. Mito mentiu que as medidas dela eram as mesmas que as minhas e eu sequer desconfiei. Ela me perguntava: "Qual número você veste?" e quando eu respondia, ela fingia surpresa e dizia: "Que coincidência! É o mesmo que o meu!". Assim, retornei com mais roupas do que tinha de espaço no armário, sem dinheiro e contra a minha vontade.

    Porém, eram peças lindas, feitas de tecidos caros e de altíssima qualidade. Vendo pelo lado bom, eu usara trapos durante toda a vida, então aquelas roupas durariam anos comigo. Eu retribuiria Mito pela boa ação, mas faria bom uso dos presentes que me foram dados.

    Em uma das sacolas, encontrei bandagens e lembrei-me de ter comentado com Mito sobre o incômodo que era correr e andar sem ter uma boa sustentação para os seios. Ela apenas respondeu que as bandagens que eu estava usando quando fui capturada foram postas no lixo, pois estavam muito gastas e sujas, e eu apenas lamentei por isso.

𝐀𝐤𝐚𝐢 𝐈𝐭𝐨 • 𝒆𝒏𝒕𝒓𝒆 𝑼𝒄𝒉𝒊𝒉𝒂𝒔 𝒆 𝑺𝒆𝒏𝒋𝒖𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora