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    Cometi o erro de adormecer antes do anoitecer e por isso despertei pela primeira vez ao cair da noite. Levantei, lavei o corpo e consegui voltar a dormir. Alguns minutos depois, despertei pela segunda vez e decidi bisbilhotar cada canto da casa. Depois disso, voltei a dormir, mas acordei ainda antes do amanhecer e aquele ciclo estava começando a me incomodar.

    Minha família e eu éramos muito disciplinados quando o assunto era "horários de descanso". Dormir antes do anoitecer ou acordar tarde demais tinha como resultado um dia sonolento ou uma madrugada de tédio. Meu corpo estava doendo e eu estava cheia de energia, ficar deitada se tornou insuportável e eu desisti de tentar voltar a dormir.

    Através da janela do quarto, olhei para o céu e suspirei, levemente frustrada.
    Nenhum sinal do amanhecer.

    Antes que eu enlouquecesse, tomei a decisão de sair para caminhar um pouco e conhecer a vizinhança antes que os meus vizinhos acordassem. A movimentação shinobi era constante por ali, visto que as equipes se dividiam em turnos para proteger a aldeia. Sendo assim, as ruas nunca estavam vazias e explorar sozinha não poderia ser tão perigoso quanto viajar sozinha e sem proteção por um dos países mais violentos do mundo ninja.

    Calcei as sandálias que Mito me dera e saí de casa.
    Ao fechar a porta, já do lado de fora, fechei também os olhos e inspirei a brisa gélida e aconchegante do verão noturno. Era tão úmido e nostálgico. Eu amava o cheiro da noite, principalmente daquelas que antecediam os dias mais quentes.

    Comecei a caminhar por ali e não pude deixar de admirar as casas que foram construídas com capricho. Algumas enormes, outras médias e outras bem pequenas – como a minha. Quase todos os moradores cultivavam algo em seus quintais e eu fiz uma anotação mental de conversar com Mito a respeito do cultivo das ervas medicinais quando me encontrasse com ela.

    Após andar por alguns quarteirões, virei em uma esquina e paralisei completamente ao avistar um enorme leque branco e vermelho pintado em um muro de pedra. Precisei de poucos segundos para entender que estava diante do Distrito Uchiha, cujo líder – um dos homens mais poderosos do mundo ninja – me odiava.

    “Nem todos os Uchiha são cruéis.”
    “Meu irmão acredita que pode existir bondade ali.”
    Lembrei-me das palavras de Tobirama e me obriguei a permanecer firme. Madara até podia me odiar e ser a pessoa mais cruel que eu conhecia, mas ele não me mataria se eu não lhe desse motivos.

    A grandeza daquela área me cativou.
    O muro era feito de pedra, mas não era tão alto. Estava ali somente para marcar o perímetro, visto que qualquer um poderia pular, se quisesse. Entretanto, ninguém seria louco o bastante para fazer isso.

    O silêncio nos arredores daquele lugar era assustador. A energia densa que emanava dali era quase palpável, mas eu sabia que podia ser só a minha mente projetando no ambiente os sentimentos ruins que eu cultivava pelo líder deles. E eu não podia cometer o erro de culpar um grupo inteiro pelas ações infelizes de quem os governava.

    Passei em frente aos portões do distrito e fui cumprimentada por dois ninjas que montavam guarda ali. Um deles, inclusive, foi simpático e me deu indícios de que queria iniciar uma conversa.

— Você é Khione, certo? A protegida do Hokage.

— Sou, sim. Ele está me ajudando.

— Eu ouvi falar que você era bonita. Aparentemente, os boatos não eram mentirosos. É um prazer conhecê-la, apesar dos conflitos entre você e o nosso líder.

    Congelei por um segundo.

— Eu agradeço pelo elogio. -respondi. — Vocês costumam ser gentis com alguém que briga com o seu representante?

𝐀𝐤𝐚𝐢 𝐈𝐭𝐨 • 𝒆𝒏𝒕𝒓𝒆 𝑼𝒄𝒉𝒊𝒉𝒂𝒔 𝒆 𝑺𝒆𝒏𝒋𝒖𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora