quatro.

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📍 Flashback do dia 2 de março de 2022. Allianz Parque, São Paulo.

Cara, minha vida tava numa maluquice tão grande no começo desse ano, que eu nem sei por onde começar.

Minha clínica, que era modesta e num espaço singelo, teve uma alta demanda surreal e eu precisei me mudar pra um espaço maior, aumentar o número de colaboradores, organizar cursos de aperfeiçoamento e treinamento pra eles. Então, acabou que o "recesso" que tivemos só funcionou pra eles, porque eu não descansei um dia, até agora.

Esses 3 meses de alta demanda nos atendimentos e a responsabilidade de ser dona de um cnpj tem me cansado e exigido muito de mim. Mais do que posso entregar, então tomei a maior decisão da minha vida profissional: chegou a hora de delegar, de ser empresária. Eu não consigo mais doar tudo de mim, pra tentar resolver a maioria das coisas sozinha.

Isso além de me desgastar, tem me privado de viver e de aproveitar coisas simples da vida, como: as visitas aos meus pais e aos meus avós que agora são inexistentes. Conviver com os meus amigos também está nesse nível. Não consigo ver a maioria deles porque sempre tô trabalhando até tarde, tô resolvendo algo quando eles se reúnem ou tô cansada demais pra ir dormir tarde e acordar cedo no dia seguinte.

Como sempre, os que eu mais vejo são o Raphael, a Anna e o Joaquín. Ah, e minha nova amiga também. Minha vizinha, dona Liana. Que ora chamo de dona Lia, ora dona Ana.

Rapha e Anna, porque sempre que podem dão uma passada na clínica. Minha vizinha é uma senhora, viúva, que é um amor. Ano passado nós tomamos alguns cafés da manhã juntas, mas quando essa loucura começou, acabou que nem pra isso mais eu tenho tempo. Joaco, mesmo morando ao lado, não nos vemos tão frequentemente quanto gostaríamos, porque nossas agendas parecem estar em conflito. Quando um pode, é impossível pro outro.

Inclusive, eu até deixei a entrada dele liberada e dei a senha da porta de casa, pra ele ter livre acesso e eu não precisar abrir quando ele vier. Isso é uma baita economia de tempo, viu? Mas segundo ele, era porque eu com certeza iria fazer uma surpresa pra ele e estar o esperando só de lingerie em algum cômodo da casa, o que não era uma ideia tão ruim, porque o tesão acumulado entre nós dois, tava sem condições, puta que me pariu.

Além de todo o desencontro de agendas, nos poucos dias que conseguimos nos ver, sempre teve algo que nos atrapalhou quando resolvíamos transar. Foi Raphael passando mal, Annaliz dando PT, os pais dele que chegaram de surpresa em São Paulo, até o alarme de incêndio do meu condomínio foi acionado sem necessidade e feita uma evacuação mais desnecessária ainda.

Nada tá dentro da normalidade.

Eu sequer estava conseguindo acompanhar um jogo do meu querido vizinho. Esse é o primeiro do ano que consigo vir. E ele tem falado desde o ano passado e antes mesmo de toda essa loucura começar na minha vida, o quanto ele queria que eu estivesse presente, por ser uma final, e que seria muito especial se eu pudesse vir.

Então, aqui estou mais um dia, pra acompanhar o Joaquín atuando em mais uma final pelo Palmeiras. Mas pelo menos, dessa vez estou no camarote e não precisei viajar pra outro país.

Novamente, tô com a família dele e dessa vez, me sinto muito mais à vontade. Já conseguimos conversar bem mais do que conversamos no Uruguai, ainda estamos naquela de nos conhecer, mas está fluindo muito mais.

Me bateu um puta arrependimento por estar aqui com a cara mais lavada do mundo depois do bafafá da comemoração da Libertadores? Sim. Porque sei que eles viram. Mas até os pais dele levaram numa boa a possibilidade e vira e mexe cutucavam a gente pra saber se era amizade mesmo. Então depois de ver que eles não se incomodaram com isso, eu fiquei mais aliviada.

Cicatrizes | Joaco Piquerez Onde histórias criam vida. Descubra agora