dezessete.

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Nas duas semanas que passei em São Paulo, além da despedida do Gustavo, também tiveram outros eventos que eu preciso compartilhar com vocês. Mas antes, preciso deixar uma observação, que foi pro fato de voltar a estar no mesmo ambiente que o Joaquín e ter que agir como se eu não sentisse um tesão absurdo naquele homem.

Primeiramente, na casa do Scarpa. Depois, nos jogos que tenho ido.

Eu adoro ele em qualquer skin, mas a do lateral-esquerdo Piquerez me pega demais. Aquele homem correndo, suado, concentrado e bravo é demais pra minha sanidade. É inevitável não pensar nas maravilhas que ele também faz fora de campo.

Nessa minha breve passagem por SP, eu obviamente não poderia deixar de ir ver o Raphael. Combinamos de jantar na casa dele e o fiz prometer pela nossa amizade que não me aprontaria nada. Como, por exemplo, chamar o Joaquín pra aparecer lá, "despretensiosamente".

— Vocês não conversaram ainda, né? - Veiga perguntou.

— Não... E na verdade, eu nem sei se tem algo pra conversar, sabe Rapha? - devolvi a pergunta, no intuito de me esquivar do assunto.

— Ah, parça... Cê tá querendo tirar uma com a minha cara, né? - ele riu, completamente sarcástico - O que você e a mula mais tem é algo pra conversar. Poderiam começar falando dos sentimentos que vocês escondem um do outro.

O Raphael falou com a maior naturalidade do mundo e com a maior convicção. Minha honesta reação foi rir.

Mas assim, rir mesmo. De verdade. De chorar. Da barriga e do maxilar doer.

E em contrapartida, Veiga me olhava com a maior cara de cu do mundo.

— Que sentimentos, Raphael? - perguntei assim que me recuperei da crise de riso.

— Como você é sonsa, Mavie! - ele respondeu indignado - Mas pelo menos pra cima de mim, você pode deixar seu teatrinho de lado. Eu sei muito bem que entre vocês dois, não é só amizade - Rapha concluiu.

— Ah, pronto! - bufei de raiva, sabendo que o Raphael estava completamente certo.

— Você teria comigo, a mesma amizade que tem com o Jacó? - questionou.

— Claro que não! - respondi prontamente e com certeza, no meu rosto tinha a mais estranha careta.

Ele fez uma cara de ofendido e colocou a mão no peito.

— Nossa, foi muito... Instantâneo? - ele comentou e deu uma risadinha sem graça.

— Não é nada com você, Rapha. Você é um homem lindo, incrível, gostoso, mas sei lá... Não consigo... Nem imaginar? - tentei sorrir pra disfarçar a gafe.

— Tá vendo, porque entre nós é só amizade mesmo! Você é uma cretina, querendo mentir que realmente é só amizade entre você e Joaco, logo pra mim... Me respeita!

Raphael é um vagabundo sem vergonha e sem coração. Ele ficou me encarando convencido e com um sorrisinho no canto da boca, só esperando que eu retrucasse.

Mas não o fiz.

Logo eu, que sempre tenho uma resposta na ponta da língua, dessa vez estou sem palavras.

— Vi, eu acho que já passou da hora de vocês conversarem sobre isso. Vai ser muito melhor, pros dois. Tentem algo, pelo menos. Vocês não tem nada que impeça isso - Rapha comentou.

— Ah, temos sim! - eu retruquei.

— Não, Ma... Tipo, vocês não têm que lidar com distância, não vão estar destruindo família, essas coisas, sabe? E mesmo assim, vocês preferem viver com a incerteza. Vivem com esse "e se" - ele respondeu.

Cicatrizes | Joaco Piquerez Onde histórias criam vida. Descubra agora