dezenove.

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A leitura de hoje precisa ser ao som de Campo De Morango, da Luísa Sonza.

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Aquela tarde/noite na casa da Annaliz rendeu, viu?

Nós conversamos pra caramba, fofocamos pra caramba, jogamos uno, tomamos o mate do Joaco, assistimos filme e jantamos.

E sim, Raphael Veiga se rendeu aos nossos pedidos e cozinhou pra nós.

Foi incrível passar esse tempo com eles. Eu não sabia que precisava tanto daquilo, até estar ali. Como pode, três pessoas tão chatas conseguirem me fazer tão bem?

— Bora, Mavie? - Pique perguntou.

— Bora pra onde, Joaquín? - devolvi a pergunta o encarando e o olhando confusa.

¿Qué quieres decir con a dónde? - ele riu - ¿No vives a mi lado?
     Como assim, pra onde? - ele riu - Você não mora do meu lado? - perguntou.

— Ah... Sim! Então... Vamos? - perguntei de volta.

Yo te pregunté primero.
     Eu perguntei primeiro - Joaquín retrucou, convencido.

— Olha lá, já voltaram ao normal - Liz comentou e ela e Raphael riram.

— Não tô entendendo vocês dois - reclamei.

— Ah, você entendeu sim. Não se faz, Mavie - Veiga retrucou.

— Ai, quer saber? Vambora, Joaco. Cansei desses dois - peguei meu carregador e em seguida, peguei na mão do Joaco.

Pidiendo tan amablemente ¿Cómo voy a negar?
     Pedindo assim com jeitinho, como eu vou negar? - ele perguntou e nós rimos.

Demos um breve tchauzinho pros dois insuportáveis que ficaram e chamei o elevador.

Quando chegou, o Joaquín foi se acomodando lá e olhou pra minha cara, tipo: e aí, vai demorar muito?

Mas eu estava relutante, pois tinha uma família inteira dentro do elevador. Era muita gente. Porém, antes de eu conseguir dizer que não iria descer, Joaco pegou na minha mão, me puxou e me colocou na frente dele.

Isso só poderia ser brincadeira.

Agora eu tô aqui, com minha coluna grudada no abdômen trincado desse gostoso. Não que isso seja ruim, mas ficar assim, tão perto dele e ainda por cima, como a mão dele tá na minha cintura, me faz lembrar de coisas.

Mas como toda desgraça pra pobre é pouco, no andar debaixo, mesmo com o elevador já lotado, um querido resolveu que seria uma ótima ideia se espremer no pequeno espaço que ainda tava disponível.

E com isso, todos nós tivemos que nos espremer ainda mais também.

Joaco me pressionou ainda mais contra si e cada milímetro de pele do meu corpo se arrepiou. Tudo dele tocava tudo em mim e foi humanamente impossível não pensar em outras vezes que estivemos assim.

Que em noventa por cento dessas vezes foram sem roupa, é só um detalhe. Meu rosto queimar e coloquei a mão nele pra esconder e disfarçar. Porém, o cachorro percebeu e não perdeu a oportunidade de me provocar.

No veía la hora de volver a estar así contigo, pero no pensé que iba a ser en un ascensor lleno de gente.
     Eu não via a hora de ficar assim com você de novo, só não achei que ia ser num elevador lotado.

Ele falou bem baixinho, bem rouco no meu ouvido e deslizou os dedos delicadamente na alça da minha calcinha, por cima do vestido que eu usava.

O meio das minhas pernas já tava formigando pra caramba e eu me xingava muito mentalmente por ser tão vulnerável à esse uruguaio safado.

Cicatrizes | Joaco Piquerez Onde histórias criam vida. Descubra agora