Cicatrizes | Joaco Piquerez

dez.

2/3 da maratona já está entre nós! Espero que gostem.

O Felippe vai aparecer nesse capítulo, o que gera gatilhos e crises na Mavie (apenas avisando pra quem é sensível a esse tópico).

Coloquem "dói sem tanto - anavitória" no repeat e na medida do possível, aproveitem a leitura ao máximo ❤

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No dia em que eu e Pique conversamos, foi só aquilo mesmo.

Da minha parte, eu estava muito emotiva, mas também ainda estava muito chateada, magoada e não me sentia pronta pra falar tão profundamente sobre isso em detalhes e em voz alta. Ainda mais, se fosse pra falar com ele.

Fora que por si só, eu tenho muita dificuldade em me expressar.

Acho que já deu pra perceber, né?

Ele foi super compreensivo e não forçou a barra. O que eu agradeci profundamente, sério. Até porque ele me conhecia muito bem pra saber que assim que eu me sentir pronta, vou acabar falando.

Acabamos ficando em silêncio, apenas o apreciando por alguns segundos. Ele me estendeu a cuia, mas ainda em silêncio, eu só balancei a cabeça negativamente.

Por mais que eu quisesse muito dizer que tava com saudade e me deliciar naquele chimarrão maravilhoso que ele faz.

Talvez até mais do que só no chimarrão, porém, admitir isso, em qualquer situação que seja, tá totalmente fora de cogitação.

Isso me faz pensar no quanto eu também sinto falta dele, do jeito que tudo era tão mais fácil quando ele tava aqui comigo. Pra dormir junto, acordar junto e viver junto, me contando cada detalhe do que ele fazia quando não tava comigo.

Agora, só tenho a ausência dele e saudade absurda que não sabia que sentia até ele vir aqui e me falar tudo aquilo.
Tem lembrança de felicidade, de todos os bons momentos que passamos juntos e de como ele me fazia bem.

Mas agora também tem uma parte do meu guarda-roupa vazio, sem aqueles um milhão de tons de verde e de camisas do Palmeiras que ele teimava em deixar aqui, na esperança de que algum dia chegasse e eu estivesse usando, ou que eu aparecesse no Allianz pra assistir ele com uma delas.

Realmente, como diz Anavitória, dói sem tanto lembrar.

Por mais que desse várias voltas e fizesse esse meu mundo bambo e triste girar, mal ele sabia que meu peito agora só tem falta do fogo dele, a qualquer momento do dia. Me agarrando e distribuindo beijos pelo meu corpo todo, me fazendo desmanchar naqueles braços musculosos e fortes que mais parecia uma geladeira Electrolux enorme de duas portas.

Ele me dizia a todo segundo que ser liberdade vinha de dentro, mas eu queria muito que ele me disesse então por que as amarras dele me machucam.

E não propositalmente, porque essas amarras são todos os momentos bons que passamos juntos, todo o carinho e o cuidado que ele tem comigo.

Eu sei que nossa verdade é bonita e que essa lealdade é coisa rara, mas no momento, prefiro meu canto, que pede solidão pra ver o mundo.

E é por isso que as amarras do Joaco me machucam. Porque eu quero estar ali. Mas ao mesmo tempo, sei que não posso e também tenho noção do quanto podemos sair prejudicados se insistimos nisso.