Before you go | Wenclair

23. não tenha medo.

"Antes que você vá... não tenha medo."
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Deitei minha cabeça no pano e fechei os olhos, ouvindo o canto dos pássaros. Foquei minha atenção no silêncio libertador que aquele lugar nos permitia, o barulho dos galhos das árvores sendo o única coisa que o quebrava vez ou outra. Senti o peso em minha barriga segundos depois, dedos sendo entrelaçados aos meus. Sorri ainda de olhos fechados, o perfume doce invadindo meus sentidos. Logo o peso subiu um pouco pelo corpo, chegando em meu peito.

Abri os olhos com um pouco de dificuldade no início por conta da luz, dois segundos depois pude ver o rosto bonito da minha garota, olhos azuis me encaravam de volta, intensos e cheios de um brilho desconhecido. Sentia seu queixo ser apoiado ali, enquanto dedicava aquele tempo para me observar de perto. Ergui uma das sobrancelhas, lhe perguntando silenciosamente o que estava fazendo. Ela sorriu, o gesto sendo capaz de acertar meu coração imediatamente, uma dose pequena de felicidade me era entregue.

- eu já te disse o quão apaixonada eu sou nas sardinhas do seu rosto? - ela disse em um tom baixo, como se quisesse que somente eu ouvisse. Não havia ninguém ali além de nós.

Eu sorri, sentindo imediatamente as bochechas arderem em resposta, incapaz de impedir que aquilo acontecesse. Enid solta uma risada, se divertindo com minha reação, e eu aprecio o som em segredo. A mão que estava livre se aproxima do meu rosto e logo sinto as pontas de seus dedos em minha pele. Fecho os olhos de imediato, sentindo o carinho delicado, sabendo que naquele momento contornava as sardas. Já havia feito aquilo algumas vezes, mas nunca conseguiria descrever a sensação.

- acho que já disse, sim. Mas eu posso me acostumar a ouvir isso com frequência. - pronuncio baixo, da mesma forma que havia feito.

Ouço mais uma risada.
Mais uma pequena dose de felicidade.

- parece uma constelação inteirinha... será que serei capaz de beijar cada estrela? - diz enquanto ainda toca meu rosto, tão delicadamente que quase não podia sentir.

Abro os olhos mais uma vez, notando sua atenção em minhas bochechas. Levo um dos braços até suas costas e o deixo ali, como se a segurasse. A mão oposta vai até seu rosto, levando uma mecha de cabelo para trás de sua orelha, me dando uma visão melhor dos seus olhos. Observo cada pequeno detalhe que naquele momento estavam mais evidentes pela luz e sinto meu coração se encher com o sentimento novamente.

Será que era isso que estava sentindo naquele momento?
Será que também sentia aquela dor no coração de tanto que a amava?

- nós vamos ficar bem, não vamos? - sussurro. Sua atenção no mesmo instante muda para os meus olhos. Posso notar seu sorriso se tornar vacilante e se perder ao mesmo tempo, mas tenta esconder esse fato. Sem sucesso. O brilho no olhar muda e se torna mais profundo.

Sua cabeça deita sobre minha palma por alguns segundos enquanto ainda me olha. Sei que consegue perceber o que seu silêncio foi capaz de fazer em mim, e então, logo depois de observar olhos azuis intensos de perto e minha visão se fechar, sinto seus lábios nos meus. O toque era tão delicado e vagaroso que sentia minha consciência tomar um novo rumo. Não importava quantas vezes faria aquilo, sempre era uma das melhores sensações que já havia sentido. Sempre era como ir ao paraíso, como tantas vezes já descrevi, e talvez, fosse ainda melhor do que isso.