Before you go | Wenclair

24. me ame.

"Antes que você vá... me ame."
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Aviso: uma parte desse capítulo possui conteúdo sexual.
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Definitivamente, aquilo era uma má ideia.

Havia repetido aquilo para Enid algumas vezes durante o caminho, mas era incapaz de lhe dizer um "não". Entrávamos em sua casa naquele exato instante, meus olhos capturando o máximo de informações que conseguia. Ao mesmo tempo em cada parte minha estava em estado de alerta, eu forçava os pés a se locomoverem. A casa estava silenciosa, vazia, escura e sem vida. E de repente tudo que era normal da primeira vez em que estive ali, agora era visto de uma maneira diferente.

- tudo bem, Willa. Ela não está em casa, vai demorar pra chegar do trabalho. Não nos arriscaria assim. Venha comigo. - ela sorriu, andando após fechar a porta e deixar a chave do carro na mesinha, até alcançar a escada.

Dei uma última olhada ao redor, gravando os detalhes em minha mente, notando mais uma vez a inexistência de porta-retratos e em como parecia tudo muito vazio, mesmo com uma riqueza evidente. Acompanhei os seus passos, degrau por degrau, a seguindo para onde quer que me levasse, ainda com o sentimento incerto no peito. Agora que sabia toda a história de Enid, tudo naquela casa parecia diferente da primeira vez. Olhava para as paredes e de repente lembrava de sua voz contando das noites de agonia e de solidão. Olhava para os degraus e lembrava de quantas vezes havia descido aquela escada sozinha, acompanhada do silêncio na casa grande. Não parava de pensar, e por consequência, sentia aquele familiar aperto no peito, dessa vez mais intenso por estar ali, onde tudo acontecia entre as paredes.

Será que isso poderia ser chamado de lar?

A segui pelo corredor, ainda com os olhos atentos aos detalhes, observei mais uma vez a porta diferente das demais de cor vermelho vivo. Enid abriu a porta do seu quarto e entrou, dando espaço para que entrasse também, sem fechá-la quando já estava dentro dele pela segunda vez. Observei se mover pelo espaço, jogando a mochila na cama, o quarto dessa vez um pouco mais bagunçado, cama por fazer e canecas jogadas na mesinha, ao lado do porta-retrato com a fotografia dela e do pai. Observei o rosto sorridente do homem na foto, o imaginando de uma maneira diferente após toda a história.

- pode deixar a mochila na cama, Willa. Não vamos ficar aqui, quero mostrar uma coisa. Só preciso pegar a chave antes. - falou enquanto alcançava a escrivaninha, também um pouco bagunçada, abrindo uma gaveta a procura de algo.

Meus olhos acabam focando nos papéis pequenos coloridos colados na parede logo acima, em uma quantidade maior do que havia visto da última vez. Havia colado mais papéis durante aquele tempo. Movida pela curiosidade, deixei a mochila na cama e andei em sua direção, chegando mais perto da parede para que pudesse enxergar melhor o que havia escrito. Observo os papéis em silêncio, lendo cada frase e tentando raciocinar o que elas significavam. Ouvi a gaveta novamente, e senti seu olhar em mim quando tentou entender o que chamava a minha atenção.

"O mundo é bonito. Viva"
"Você merece ser amada"
"Fácil amar você"
"Eu amo cada parte de você"
"Eu acredito"

- comecei a colar frases nas minhas paredes desde a terapia. É um exercício para se manter focado e lembrar das coisas que realmente valem a pena, me ajudam todos os dias como combustível todas as vezes em que olhar pra elas. Quando comecei, logo no início, haviam centenas para todos os lados, em todas as paredes, eu meio que estava desesperada. Hoje é mais fácil, há uma quantidade menor, mas isso pode mudar caso eu sinta que preciso de mais. - ela esclareceu, como se houvesse lido meus pensamentos. Continuei observando os papéis coloridos, percebendo que muitas delas eram frases minhas.