Um

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Victoria

𝒜nna Fox está prestes a tomar outro comprimido quando Clara chuta os meus pés.

— Pode ser? — Ela pergunta, cutucando a ponta dos dedos com as unhas.

Fecho meu exemplar de A Mulher na Janela e me viro na direção dela:

— Ouvi, claro — Eu não ouvi.

— Do que que eu tô falando, então? — Clara não se dá por convencida e me encara como se estivesse na presença de um réu que insiste em se auto representar no tribunal — Será que você consegue ficar em casa esse final de semana?

— Por que? — questiono, mais por curiosidade do que para fazer ela me convencer.

Muitas vezes eu costumo passar o fim de semana na casa dos meus pais, assim como Ana e Clara. A diferença é que elas também gastam o tempo delas com os seus respectivos namorados, coisa que eu, honestamente, não tenho a menor vontade de fazer.

— A Ana e o Vitor terminaram — diz com uma casualidade que só.

— De novo? — Coloco os pés no sofá para me acomodar e Clara me dá dois tapinhas, fazendo com que eu reverta a ação — Essa é o quê? A terceira vez que eles terminam o namoro?

Ela se levanta, deixando os longos cabelos pretos deslizarem pelas suas costas e murmura alguma coisa me avisando que essa não foi a última vez que Ana brincou de ioiô com o próprio relacionamento.

𖦹

Ana quase se rasteja no seu drama particular para passar da mesa da cozinha até o sofá, onde estou. O cabelo loiríssimo agora tingido por um castanho que, eu não me orgulho, mas estou rezando para que seja temporário.

— Acho que a gente precisa dar uma saída — Ela diz, já me incluindo.

— A gente? — Arqueio uma sobrancelha e deixo o meu dedo paralisada sobre algum botão qualquer do controle remoto.

— É claro! — Ana exclama e então, como se uma ideia surgisse em sua mente, sai correndo até o seu quarto, voltando alguns minutos depois com um conjunto de paetê rosa nas mãos — Você foi tão gentil ficando aqui pra me fazer companhia, mesmo eu estando completamente bem, que eu vou ter que te levar pra sair como agradecimento — Ela joga o conjunto sobre o próprio corpo — Gostou desse?

— Lindo! — Elogio — Mas espera, por qual motivo eu iria querer sair se pudesse escolher o meu presente de agradecimento?

— Ah, poxa. Você pode ser um pouquinho mais sensível e ir comigo comemorar a minha nova vida de solteira — Ela groceja com uma voz que quase me dá vontade de gargalhar.

Forço um sorriso e me rendo, me deixando entrar em um processo de me arrumar com ela por quase duas horas. Ela fica divina com um esfumado quase tão vibrante quando a sua roupa, e eu me contento em mesclar mais uma vez o preto ao redor dos meus olhos com o do meu vestido. Chamamos um Uber, que nos leva até uma boate chamada Luar Lounge e Ana me arrasta até a primeira mesa vazia que vê.

— Vão querer beber algo? — pergunta o moço que logo vem nos atender. O uniforme que ele usa quase me arranca um risinho, mas me contenho, tendo o bom senso de saber que ele não é o culpado pela péssima escolha de designs dos donos desse lugar.

— Você escolhe — Ela diz, piscando para ele, que sorri.

— Não, obrigada — solto em contrapartida.

Alguns tempos depois ela está bebendo o terceiro drinque vermelho com guarda—chuvinha que por insistência minha baixou o teor alcoólico depois da segunda rodada.

Tic-Tac do Destino | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora