Vinte e nove

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Victoria

ℰstamos largadas no sofá de Nadine, lado a lado. Ela está com a taça de vinho tinto apoiada na própria coxa enquanto ri de alguma piada besta que eu contei. Eu ainda não consigo digerir o fato de conseguir deixar essa mulher assim.

— E a representante ignorou tudo que a turma disse sobre a saída e sobre o trabalho que a gente faria pra compensar e deu a própria opinião pros professores na reunião. Ai, por favor, pensei que a gente vivesse em uma democracia — suspiro dramaticamente e a risada dela só aumenta.

— Que idiota!  — diz ela, levando a mão ao meu cabelo, passando os dedos pelos fios, em gestos delicados.

Assinto com a cabeça, já tendo esquecido o que eu acabei de falar. Fecho os olhos com o toque. Deus, como eu adoro quando ela faz isso.

— Se eu fosse um gato, estaria ronronando agora.

Ela solta outra risadinha nasalada, parando a mão no meu ombro.

— Você já é uma gata — diz, com aquele jeitinho malandro.

Reviro os olhos e mordo a taça, tentando segurar um sorriso. É difícil não concordar com ela. Além de, é claro, toda a minha beleza, eu estou quase ronronando agora mesmo.

— Eu acho que se eu ronronasse agora, você ia se aproveitar da situação — faço uma carinha de vítima e Nadine ri alto.

— Óbvio que eu me aproveitaria — diz ela, sem hesitar um segundo.

— Nota mental. Vou guardar essa informação pra me aproveitar um dia desses, então — digo, voltando a atenção para o filme na TV, que é a única luz acessa na casa.

— Ai, você já tá planejando demais — reclama forçadamente, apoiando os joelhos nas minhas pernas.

— Sempre — digo balançando a cabeça exageradamente, deixando a mão sobre sua perna. Fazendo carinho com a ponta dos dedos no tecido da calça moletom.

Nadine dá uma risada, colocando as nossas taças na mesa de centro, enquanto se estica. Ela volta com a atenção para o Catherine Zeta-Jones vestida de chef de cozinha surtando com um cliente e se ajeitando no sofá novamente, apoiando as mãos nas minhas pernas também. Não de um jeito sexual ou algo do tipo. É um gesto só... carinhoso.

Ela está observando a tela da TV e eu estou observando ela. Eu nunca me canso. É sempre como se fosse a primeira vez que eu a vejo. A pele dela brilha de leve com o brilho da televisão, seus cabelos caem no rosto em mechas bagunçadas, as linhas ao redor dos seus olhos, que ficam aparentes quando ela ri, os lábios um pouco molhados do vinho que tomou. Eu poderia ficar admirando cada detalhe dessa mulher por horas. Tudo nela parece perfeito.

Seus olhos desviam da tela e vêm na minha direção, me pegando olhando e eu nem mesmo me dou o trabalho de esconder. Nadine apenas levanta uma sobrancelha, abrindo um sorrisinho.

— Assiste! — ela me acorda, tentando parecer séria enquanto aponta para a TV — Eu acho essa parte muito fofa.

— Eu tô assistindo — digo, com ironia.

Nadine rola os olhos e dá um tapa de leve na minha perna, girando o pescoço para frente de novo. Eu rio baixinho e obedeço, finalmente volto a prestar atenção no filme. A cena está realmente fofa, com o interesse amoroso da protagonista interagindo com a sobrinha dela. Nadine parece realmente entretida, me sinto quase culpada por estar prestando mais atenção no cheiro do perfume dela misturado com o do vinho do que no filme escolhido. Quasse.

Nós assistimos em silêncio por mais alguns minutos, até que ela se remexe um pouco no sofá, antes de apoiar a cabeça no meu ombro.

— Que bonitinhos, né? — diz, sem tirar a atenção da tela.

Tic-Tac do Destino | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora