Vinte e quatro

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Victoria

— Não acredito que você lembrou! — falo enquanto Nadine empurra o copo com suco de laranja na minha direção.

— Claro que eu lembrei! Eu presto atenção em tudo que você me diz — ela sorri, e eu me sento na cadeira à sua frente, colocando minha mochila apoiada nela — Na próxima vez que a gente almoçar juntas, eu vou te buscar na faculdade.

— Não pre-

— Precisa, sim. É muita correria pra você.

— Pior que é verdade, tá sendo uma loucura. Só passou dois dias e eu acho que tô ficando louca indo e saindo de casa no meio-dia. Ainda não sei muito bem como conciliar. Todos os estágios da faculdade que eu fiz foram home office — desabafo enquanto olho para a rua.

Estamos em uma das mesas da área externa, visto que hoje é um dia surpreendentemente quente.

— Você dá um jeitinho, a gente acaba se acostumando.

— Disse a dona do maior carrão que eu já andei.

— Carrão... — Nadine repete rindo e eu preciso fazer um esforço pra não cruzar as quando ela revira os olhos — O que é um carrão pra você?

— O seu! — digo como se fosse a resposta mais certa que eu já dei na vida e ela solta um meio riso, apoiando o rosto na mão.

— Qual seu carro dos sonhos?

— Um fusca preto! Aquele brilhante, mais recente, sabe? Eu vi esses dias e fiquei completamente apaixonada.

— Você entende de carros? — pergunta enquanto circula o copo com a ponta do dedo.

— Nem um pouquinho — respondo fazendo uma careta e olhando para o menu aberto na mesa.

— Entendi... — sorri — Ah, eu esqueci de te avisar. Eu me dei o direito de pedir por nós duas.

— Que ousadia! — brinco — O que eu vou comer? — ela se inclina um pouquinho na mesa e aponta pra uma das opções do cardápio.

— Esse aqui e um filé de salmão — ela volta a se acomodar e eu percebo o garçom se aproximando, mas não da nossa mesa.

— Vou deixar você escolher por mim sempre, viu? — aviso, me apoiando na mesa e não conseguindo parar de olhar nos olhos dela. No rosto dela. No quanto ela é linda.

— Vai mesmo, né?

— Aham. Assim, se eu não gostar, eu posso te culpar.

— Esperta você, hein?

— Só por estar com você, eu acho que muito — digo e vejo algo que se eu não conhecesse Nadine eu poderia chamar de um sorriso tímido surgindo no canto da boca dela.

O garçom aparece com os nossos pedidos e passamos o resto do almoço conversando, mas  o tempo passa rápido demais, pois, por mim, eu poderia passar muitas mais horas aqui, mesmo que em silêncio, apenas admirando ela, tentando contar as sardas do seu rosto e as pintas que se espalham pelo pescoço.

— Vamos indo? — Nadine pergunta, se levantando.

— Vamos! — falo, pegando minha mochila.

Quando chegamos ao carro, abro a porta do passageiro para ela com um gesto exagerado, a fazendo rir.

— Olha só, que cavalheirismo! — ela se diverte, entrando no carro.

— Sempre à disposição, madame —respondo, entrando do outro lado enquanto ela liga o automóvel.

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