Trinta e cinco

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Victoria

ℳeu celular não está no quarto. Eu não ouvi o maldito despertador. Não me acordaram, não me acordei e não fui para aquela faculdade maldita. Acho que é o melhor que eu posso fazer.

Enterro meu rosto ainda mais fundo no travesseiro, fechando os olhos com a maior força que consigo. Não sei nem que horas é, mas sinto como se tivesse dormido por um ano inteiro.

Finalmente, consigo abrir os olhos, e percebo o quão quente está o meu quarto. Tão quente que parece uma sauna. Me sento devagar, arranco o cobertor gay de cima de mim e sorrio um pouco. O suor escorre pela minha pele e sinto a minha camisa grudada no corpo.

Levanto da cama lentamente, enquanto passo a mão nos meus olhos, em um esforço para acordar um pouco mais.

Depois de um banho, eu ando lentamente, quase como um zumbi, pelo corredor, até chegar na sala. Grudo meus olhos no relógio e vejo que quase três aulas já se passaram.

Me jogo no sofá, me apoiando no canto dele, com as pernas cruzadas de baixo de mim. Olho aleatoriamente para o nada, sentindo uma angústia me consumindo. Ligo a TV, mas não realmente presto atenção no programa de culinária que está passando.

Meu olhar fica preso na minha bolsa largada na cadeira à minha frente. Meu celular deve estar descarregado e eu estou morrendo de vontade de usá-lo, de mandar mensagem para alguém, mas ao mesmo tempo eu não quero jogar os meus problemas para ninguém, além de eu provavelmente estar com medo de ter recebido algo de alguém da minha família.

Sinto um aperto no peito novamente, pensando em Nadine. Estou morrendo de saudade dela. Queria ligar para ela e arrastá-la até aqui comigo, mas eu não sei se deveria. Não sei se deveria perturbá-la com a historinha da menina que se assumiu para os pais enquanto ela já passou disso há tempos. Mas não consigo deixar de pensar como poderia ser aconchegante a presença dela comigo nesse momento, com os braços dela me abraçando.

Ela provavelmente não se importaria em estar comigo, não pararia de perguntar se eu estou bem, seria a pessoa incrível que ela é. Mas não consigo deixar de pensar se estaria sendo egoísta de envolvê-la nisso ou algo do tipo.

Olho para a janela, encarando o céu completamente nublado. Não chove faz algumas semanas e parece que vai finalmente cair algum temporal bem forte hoje.

Passo as mãos pelo rosto novamente. Não estou com fome, talvez até o contrário, mas estou com uma tremenda vontade de comer alguma coisa.

Levanto do sofá e me dirijo até a cozinha, abrindo a porta da geladeira para ver o que tem. Meus olhos focam na bandeja transparente, que cobre uma fatia de bolo. Um post it cor de rosa Neon, com a caligrafia de Ana dizendo "Vic" com um coraçãozinho grudado em cima.

Dou um sorriso triste e a pego junto de um garfo. Arrasto a cadeira para me sentar e o barulho me incomoda. Me apoio no tampo da mesa enquanto corto um pedaço da fatia com o garfo, percebendo que nem o quero. Meus pensamentos continuam me atormentando, enquanto o silêncio do apartamento chega aos meus ouvidos.

Me seguro na cadeira, lembrando do meu estado na noite passada, quando cheguei,  depois de ter saído sem olhar para meus pais. No momento que eu abri a porta, Ana e Clara me encararam, sentadas no sofá, com expressões preocupadas, enquanto comiam pipoca.

Eu entrei, fechei a porta com força atrás de mim, deixando cair minha bolsa no chão. Me sentei no braço do sofá, sem dizer nada, e arranquei a bacia das mãos delas. As duas me encararam enquanto eu enfiava um punhado na boca e então, como aparentemente virou a minha especialidade, meti o fodase.

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