Trinta e seis

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Victoria

— Eu pensei no negócio da tatuagem no pé — Nadine estica a perna, a apoiando na minha enquanto me observa passando o esmalte nas unhas da sua mão, que também está apoiada na minha coxa.

Sorrio e viro a cabeça para olhar para o seu tornozelo que está para fora da calça moletom.

— E então? Qual vai ser? — pergunto, palitando os cantinhos do último dedo e fazendo um último risquinho preto na minha coxa.

Nisso eu não pensei — Sorri e se encosta no sofá, remexendo o pescoço para tirar os cabelos do rosto, visto que estou mantendo as mãos dela reféns — Talvez eu copie o símbolo que você tem nas costas.

— Copia. Eu acho lindo, ele e o significado dele.

Ela acena com a cabeça, enquanto volta a me encarar.

— Eu lembro dele de uma aula de filosofia.

— É tão bonito... — murmuro, ajeitando as mãos dela e me esticando para pegar o removedor de esmaltes — Na sua época eles já falavam sobre, é?

— "Na minha época" — repete, com uma risadinha — Sim e não. Falavam por alto, sabe? De qualquer forma, uns dois anos atrás, um casal pra quem a gente tava trabalhando pediu um desses em gravura com uma estátua numa fonte, ficou a coisa mais linda do mundo, apesar de eu não ter me envolvido muito nessa parte.

— Um casal lésbico? — questiono casualmente, começando a limpar os dedos dela.

Nadine me olha como se eu tivesse feito a pergunta mais óbvia do mundo e assente, sorrindo.

— Parece que elas têm bom gosto — brinco, passando o dedo indicador sobre a mão dela, e ela solta aquele risinho nasalado — Acho que a tatuagem vai ficar linda em você — Sorrio largamente, trocando a ponta de algodão.

Nadine sorri também, olhando suas unhas enquanto eu me concentro no que estou fazendo.

— Dói?

— Olha... a do meu pulso doeu mais do que na coxa. Acho que depende do lugar, né? Mas não acho que seja realmente ruim, é uma dor gostosinha, sabe?

— Sei — responde, com um olhar divertido — E você, quer fazer mais alguma?

Levanto o olhar, colocando o cabelo que estava me impedindo de olhar para ela atrás das orelhas.

— Eu quero uma da página 28 no braço.

Ela entreabre a boca e eu sorrio ao ver o seu semblante de dor.

— Ai, Victoria, por que foi me lembrar? — Nadine morde o lábio e leva a mão ao coração com um suspiro dramático — Por que? Por que? — repete, como se eu tivesse causado uma catástrofe mundial.

— Porque eu sou má — murmuro, enquanto limpo os dedos dela com cuidado.

— É, você é — Ela se inclina para frente, apontando para mim com o indicador livre — Você é terrível para o coração alheio, sabia? Que ódio que eu tenho de você.

— Aham. Você me odeia com todas as suas forças.

— Muitíssimo — Ela balança a cabeça, fingindo estar profundamente magoada — Não é nem humanamente descritivel a quantidade de ódio acumulado dentro de mim.

Rio, trocando o algodão outra vez.

— Que bom, pois depois que eu tatuar essa, vou te fazer sofrer, Nadine. Vou te torturar te fazendo lembrar como você chorou assistindo aquele filme.

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