Vinte e sete

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Narrador

𝒜 primeira coisa que Nadine vê quando põe os pés em sua sala é a rosa vermelha, envolta em um embrulho transparente, descansando em sua mesa. Ela gira nos calcanhares e seus olhos imediatamente encontram os de Victoria. A estagiária está sentada à sua mesa, ligeiramente afastada, a olhando por cima do computador, com a ponta dos lábios se erguendo e brincando com a ponta do cabelo.

Nadine não consegue evitar um sorriso bobo. Ergue as sobrancelhas e encara a jovem, encolhendo os ombros como um gesto de agradecimento. Vic coloca a língua entre os dentes e apoia o queixo na mão direita, voltando a atenção ao monitor.

— Ai que bonitinha você — Renata comenta, fazendo a mulher perceber que não está sozinha.

Nadine finalmente entra. Ela tira o sorriso besta do seu rosto e fecha a porta com um baque de leve.

— Você é pior que assombração — diz, colocando a bolsa ao lado do sofá, próximo à colega.

— Anteontem um lírio, ontem uma margarida e hoje uma rosa. Eu sei que você tá gostando dessas flores — ri e retira mais uma folha de cima do montinho que está segurando. Ela levanta o olhar — Mas não achei que fosse tanto a ponto de te fazer sorrir feito uma adolescente apaixonada — Debocha.

A diretora atravessa a sala, passando a mão pelos cabelos e finalmente se escorando na escrivaninha.

— Não posso mais sorrir, é?

— Nesse lugar você é a pessoa mais séria que eu conheço, então ver você sorrir como uma doida apaixonada não é uma imagem muito comum pra mim.

Nadine pega a rosa com delicadeza, examinando cada pétala vermelha e sentindo o perfume doce que a invade. Ela solta uma risada suave e responde:

— Eu nunca sorrio como uma doida apaixonada.. — reclama.

— Você sabe que sim — retruca, sem tirar os olhos da pasta — E eu sei muito bem a razão disso, aliás — acrescenta.

— E qual seria a razão disso? — pergunta, tentando manter um ar de desinteresse enquanto dobra o celofane com a ponta dos dedos.

— Ai, por favor, Nadine — Renata resmunga, sorrindo maliciosamente — Só se eu fosse homem pra ser tão lerda assim, né? — ela solta uma risadinha zombeteira enquanto levanta os olhos dos papéis na mão e os leva para a direção da janela.

— Você é um pé no saco, sabia? — bufa alto, olhando fixamente para a mulher de tranças — Vai me obrigar a admitir com todas as letras que eu tô enrolada com ela?

— Não preciso te obrigar a nada. É só ver o jeito que a menina te come com os olhos — ela dá de ombros, com um sorrisinho brincalhão nos lábios — Mas eu quero a confirmação antes da fofoca se espalhar, viu?

Nadine arregala um pouco os olhos, fitando horrorizada as orbes escuras à sua frente.

— Por acaso as pessoas andam... Fofocando? — pergunta, com um pingo de nervosismo na voz.

— Ai, é claro que não — ela dá de ombros, se levantando do sofá e se aproximando da outra mulher — Mas vão começar se vocês continuarem a rir descontroladamente na copa.

— E a gente riu descontroladamente na copa quando?

Renata permanece em silêncio, balançando a cabeça ao mesmo tempo em que procura um documento em sua pasta, e quando finalmente o acha, o coloca na mesa.

— Foi você mesma quem indicou a empresa das câmeras que rodeiam a minha casa — fala brincando, indo em direção à porta da sala.

Nadine abre a boca, mas não diz nada. Ela franze o cenho, deixa a rosa na mesa e leva a mão à nuca, voltando a compor a figura de chefe inabalável. Ela se desencosta antes de falar:

Tic-Tac do Destino | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora