Questões pendentes.

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O frio da cidade invadia a a climatização dos ambientes em que andavam, então, aquela delegacia precária estava quase tão feia quanto um iglu. Tweek segurou firme a mão de Sharon enquanto esperavam do lado de fora, logo vendo um policial se aproximar e a mulher mais velha de levantar; eles conversaram por alguns minutos a fio, mas Tweek não conseguia escutar, pois sua cabeça estava completamente cheia de informações em turbilhão passando a cada segundo que se passava no relógio da parede. Tic tac, tic tac. O som ecoou na cabeça dele então não pode ouvir a voz distante que o chamava até que virasse um grito.

TWEEK! — Então saiu de seu transe, olhando para Sharon, que lhe oferecia a mão para levantar. — Vamos? Você já pode entrar. — Dessa forma o garoto em silêncio concordou com a cabeça, pegando em sua mão e se levantando.

Por que estava ali? Aquela delegacia nada amigável, fria e escura... não conseguia entender o que exatamente havia levado a sua vida se tornar aquilo; um grande negativo em sua história havia se tornado bem visível, mas não fazia ideia de a quanto tempo isso vem acontecendo. Seus passos ecoaram o corredor, então visualizou um policial parado em frente a porta da sala de interrogatório, Sharon olhou para ele com certa pena, o abraçou e deu um carinho em seus cachos. Ah, sim... Não podiam entrar juntos.

O garoto respirou fundo, tendo a porta aberta a ele, se direcionou para dentro, olhando para o chão e logo virando o corpo, vendo a mesa, a luz fraca no centro dela e...

Olá, querido. — Sua mãe, algemada na mesa e sentada na cadeira, com aquele típico sorriso que, agora que podia ver melhor de longe, lhe dava arrepios. — Se sente, vamos conversar, faz tempo que não te vejo.

Claro...

Então o garoto se sentou, olhando fundo nos olhos da mulher. Beatrice havia sido encontrada em Julesburg a caminho do Nebraska, então, como estava dada como procurada por sua participação na facilitação e andamento do tráfico e produção de drogas em South Park, foi detida. Havia mudado um tanto sua aparência, trocou seu corte Blunt Bob castanho natural com franja por um Shaggy loiro, mas com raiz levemente visivel, usava uma sombra escura nos olhos que não costurava por, mas o batom vermelho de sempre nos lábios; tinha um óculos escuro em sua cabeça com a armação combinando com a saia, suas roupas eram um tanto justas, usava uma blusa azul índigo com um decote cruzado em v e uma saia verde azulada um pouco mais clara com alguns babados na costura lateral a barra da saia, com, na finalização, uma jaqueta de couro marrom e pelinhos na região do pescoço jogada por cima dos ombros.

Tweek encarou suas vestes por alguns instantes, não parecia a Beatrice que conhecia, então provavelmente ela havia conseguido exatamente oque queria com tudo aquilo que havia feito. Cruzou os braços e então esperou que ela reagisse, falando oque queria de uma vez, mas apenas a causando um riso leve.

— Que marra, mocinho. Não te criei assim. — Ela disse em tom de zombaria. — Me diz algo, meu bem... Tem visto seu pai? — Então falou, mas não em bom tom, nem mesmo na língua materna do garoto. Fez a pergunta em japonês, sua língua materna.

Oque..? — Ficou confuso, por que estava usando outro idioma, tinha apenas eles dois ali. Então olhou em volta e viu uma câmera no alto da sala e um policial atrás de si, no canto oposto.

— Eles não tem um tradutor. Tem visto ele? Sabe se ele tem tudo visitas? — Continuou indagando, causando uma leve ansiedade no garoto, que apenas negou com a cabeça. — Você... Continua tão ingrato assim, garoto? — Bateu as costas contra a cadeira, suspirando e revirando os olhos, vendo a expressão de Tweek se fechar mais.

— Eu só não me sinto confortável vendo ele, não queria estar aqui também, sabia? — Resmungou, arrastando o olhar pelo chão, batendo a perna seguidas vezes pela ansiedade consequente daquele encontro.

— Isso é sério? Nós temos os filhos para sermos tratados como lixo, não é possível... — Reclamou, então voltou a encarar o garoto. — Vai pensar em uma forma de me tirar daqui, não? Vou alegar que o Richard era o cabeça das coisas, você vai depor a favor da mamãe, não vai? — Seu olhar fixo contra o rosto do garoto, falando baixo e rapidamente, se não tivesse feito aulas durante a infância estaria realmente confuso com seu japonês.

— Eu... — Pensou em negar, não queria mais se envolver nisso, não queria entrar naquele redemoinho, mas... Aquele olhar era penetrante. — Claro, mãe. — Suspirou, vendo ela abrir um sorriso aliviado.

— Eu logo vou sair daqui, querido, então nós dois vamos embora. Vamos morar pra Quito morar com a sua avô, forma uma nova vida, ninguém precisa saber do que aconteceu aqui, tudo bem? Você tem que confiar em mim. — Então seus olhos se encontraram, era como se ela queimasse a alma dele; seu coração disparou e a respiração quase parou, mas concordou com a cabeça em um impulso habitual.

Eu confio. Confio em você, mamãe.

— Tudo bem, faça tudo certinho e se comporte. — Um policial entrou do outro lado da sala, se aproximando dela e a soltando da mesa, a levando para fora. — A mamãe vai voltar para cuidar de você. — Foram suas últimas palavras, em sua linguagem, saindo daquela sala e deixando Tweek sozinho.

Seu coração disparou e lágrimas ameaçaram sair de seus olhos, a porta se abriu e o policial tocou seu ombro, indicando que devia sair, mas não tinha forças. Logo, Sharon entrou, se abaixando em sua direção e lhe dando um abraço forte, "Vai ficar tudo bem, as coisas vão se acertar." Ela disse baixo para ele e o garoto afundou o nariz em seu ombro, se acalmando na fragrância de seu perfume.

Haviam se passado dois dias e Craig continuava curioso sobre o lugar vazio de Tweek na sala, provavelmente ele iria comparecer no dia seguinte, mas aquilo era algo que lhe batucava na cabeça, então, no intervalo se aproximou da conta do muro, nos fundos da escola, onde um grupinho se juntava para fumar; não estava sozinho, Clyde insistiu em lhe acompanhar e agir como um bom amigo, então só deixou que andasse atrás de si de uma vez. Os três garotos e a menina encararam os dois ali; a garota com uma maquiagem gótica pesada, cabelo muito curto preto e bagunçado, usando um vestido longo e preto com mangas de renda fechando feito luvas, uma gargantilha preta com pedrinhas vermelhas combinando com os brincos,  balançando um leque com calma um leque preto e uma piteira longa preta com um cigarro acesso. O garoto mais alto com cabelos cacheados olheiras grandes e pele pálida, usava uma camiseta social branca com um sobretudo longo preto e calça preta, botas com salto na mesma cor, usava um broche de aranha vermelho e um anel preto coma jóia da mesma cor do broche, o segundo garoto com um cabelo longo e pintado de vermelho e pintas pretas, uma camisa preta vitoriana gótica, calças pretas de couro e coturnos, no rosto uma sombra preta nos olhos, um brinco único vermelho, um piercing lateral de nariz preto e um de língua com jóia preta. Por último um garoto mais novo que aparentava ser o dono da carteira de cigarro, com um batom preto e delineado preto marcante, orelha com diversos piercings pretos, camiseta social preta, e calça da mesma cor, fora os tênis plataforma perto e branco.

— Qual... De vocês é o Thelman mesmo? — Craig perguntei sem vergonha alguma na cara, sem ter nenhuma lembrança do rosto do garoto que havia falado com ele e Bárbara em outro momento. Com aquilo, o garoto se levantou e deu alguns passos a frente, cruzando os braços em sua frente. — Você conhece o Tweek, não é?

— Craig, seja um pouco mais educadinho, cara! — Clyde cutucou o mais alto, que deu uma cotovelada leve nele, agora que ficasse quieto. — Grosso...

— Conheço.

— Quão próximo?

Ex-namorado.

— Okay, qual o lance dele?

Oque...? — Pete olhou os dois garotos, claramente confuso com aquela situação que estavam criando. — Como assim "o lance dele"? Donovan, qual é a desse cara? — Pete jogou a bola da pergunta para Clyde, que nesse ponto não estava bem mais dentro daquele papo.

— Acho que ele quer saber qual o problema dele... Fala um pouco do Tweek! — O mais baixo castanho respondeu, tentando desvendar de forma sutil as palavras do mais alto.

— Por que eu deveria? — Ele encarou os dois garotos, então sentiu um grande peso de lidar com dois idiotas. — Por que eu falaria sobre meu ex-namorado pra dois esquisitos conformistas?

Só Uma Tardezinha Com Você. - Creek, South Park.Onde histórias criam vida. Descubra agora