𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟎𝟓)

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Era difícil de acreditar no que seus olhos mostravam. Contudo, era verdade, e não uma alucinação. Charlotte Matthews estava de volta. Seu sorriso de dentes brancos e bem alinhados refletia não só para a garota parada na porta, mas para toda a turma. Todos estavam em choques, assim como curiosos. Aliás, Lottie estava desaparecida há três meses, e tirando o episódio esquisito na casa de Natalie há alguns dias, ela parecia perfeitamente saudável. Perfeita até demais para o nível Matthews. Como se estivesse em uma passarela, caminhou para a primeira fileira de balcões ao lado da janela, onde sempre se sentou na aula de biologia. Natalie deu o seu primeiro passo para dentro da sala, sentindo o peso nos ombros vindo do outro lado. Quando ousou olhar na mesma direção, deparou-se com olhos castanhos brilhantes e ousados. Eles eram diabolicamente lindos, como ela nunca havia reparado.

Embora quisesse ir até a colega e perguntar que diabos estava acontecendo, Natalie se sentou o mais longe possível, enquanto sua cabeça trabalhava a mil. Encarando o relógio no alto da parede, percebeu que o ponteiro não se movia, o tempo também parecia ter parado. A loira encarou o outro lado da sala, onde as enormes janelas mostravam as árvores além da grade de ferro que limitava o terreno da escola. Tudo estava quieto. O vento não soprava, e o céu, antes radiante, agora se encontrava escuro. Nuvens pesadas formavam uma espécie de círculo cinzento e sombrio, como um aviso de mau presságio sobre a escola.

O quanto perigoso era o repentino retorno de Charlotte Matthew?

Até quando poderia ligá-la aos episódios estranhos que estavam rondando a cidade?

Natalie carregava inúmeras perguntas sem resposta em sua cabeça, mas de uma coisa ela sabia: não era loucura concluir que Lottie com certeza estava envolvida com boa parte das esquisitices dos últimos dias. Era como um jogo, onde se sentia montando um quebra-cabeça banhado a sangue. A aparição de Charlotte na escola talvez fosse para não levantar tantas suspeitas. O que não pareceu ter dado muito certo, não para a Scatorccio. A filha do prefeito sempre gostou de joguinhos e desafios, e talvez, fosse isso que estivesse fazendo agora. Felizmente, Natalie era competitiva o suficiente para entrar no jogo, só precisava saber das regras. Assim como teria que ser cautelosa com que tipo de ser a garota mais popular da escola era agora, e, principalmente, como detê-la.

Natalie ergueu os olhos novamente, encontrando Charlotte do outro lado enquanto conversava com algumas colegas sentadas na mesa de trás. O mais bizarro era vê-la agindo normalmente, e a ignorando como de costume. O professor entrou na sala sem dar atenção aos alunos.

— Bom dia. — Cumprimentou rapidamente. — Quero que procurem suas duplas para a atividade de hoje. — Disse ele, ao vestir o jaleco.

Natalie revirou os olhos. Enquanto seus colegas se uniam em duplas rapidamente, ela continuava sozinha. Talvez não só Charlotte a ignorava naquele instante, mas toda a turma. Seu coração bateu mais forte ao ver Lottie erguendo uma das mãos com um charmoso sorriso.

— Ah! Senhor Lang, estou sem dupla. — Seu tom era ingênuo, mas havia uma pitada de maldade presente nas palavras. O professor, que não soube disfarçar a surpresa ao notar a presença dela, procurou na turma por alguém que a auxiliasse na tarefa do dia.

— Senhorita Scatorccio, você tem dupla? — O senhor Lang perguntou diretamente a aluna que parecia se esconder atrás da enorme mochila com bottoms coloridos. Charlotte virou o rosto em direção a colega no fundo, reparando em todos os trajetos de Natalie. Ela estava desconfortável, mas seu olhar irradiava raiva, sendo perceptível o fogo cintilando no mar esverdeado de seus olhos.

— N-não. — Respondeu Natalie, esforçando-se para as palavras saírem entre seus dentes. Charlotte sorriu de lado.

— Ótimo, então você será dupla da senhorita Matthews. Por favor, venha para a frente. — Disse o professor ao apontar para a banqueta disponível ao lado de Lottie. — A propósito, Charlotte, é bom saber que voltou.

𝐇𝐀́ 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐎𝐓𝐓𝐄 𝐌𝐀𝐓𝐓𝐇𝐄𝐖𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora