𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟎𝟔)

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TRÊS ANOS ANTES DO DESAPARECIMENTO DE CHARLOTTE MATTHEWS

Natalie já havia participado de muitas festas do pijama, mas nenhuma onde tinha que dormir com um grupo com mais de cinco meninas. Para início, não se recordava ao certo quando aceitou o convite de passar uma noite na mansão de Charlotte Matthews, mas acreditava que a persuasão de Christine Barnes dera muito certo. Agora ela se encontrava em meio a adolescentes cantando um pop ruim no karaokê. Era uma sessão de tortura, ela tinha certeza disso. Com a cabeça latejando, levantou-se do meio das inúmeras almofadas embrulhadas em cetim rosa a caminho da cozinha — ou fez o percurso que deduziu ser o que levaria aonde desejava.

O lugar era realmente grande, e para uma família de três pessoas, uma casa com dez quartos era um tanto desnecessária. Um buffer fora contratado pela primeira dama, a fim de deixar as amigas da filha à vontade para comer todos os tipos de doces até que não aguentasse mais. Natalie se atreveu a comer um cupcake com uma xícara de chocolate belga quente, estava gostoso, mas ainda faltava algo para aquela festa ficar realmente interessante. Descendo o vão de escadas de piso de mármore branco, a garota prestou atenção em cada adorno que preenchia a mansão. Na sala, que deduziu ser a principal, um enorme quadro jazia acima da lareira, onde a família Matthews era retratada em um campo florido.

Um pequeno porta-retrato estava sobre a mesinha ao lado do sofá de couro branco. Era uma foto de Lottie quando deveria ter volta dos seis anos. Seus enormes olhos castanhos se destacavam em seu rosto redondo e infantil. Faltavam dois dentinhos na frente, o que, segundo Natalie, a deixava uma gracinha. Charlotte ainda carregava muitos traços de quando era criança, principalmente a covinha que tinha sempre que sorria. A família Matthews parecia ter saído de um verdadeiro comercial dos anos sessenta, onde todos os integrantes eram livres de defeitos e extremamente sorridentes. Uma família perfeita, algo que os Scatorccio jamais seriam, mesmo que se esforçassem o máximo para isso.

Saindo daquele cômodo, Natalie caminhou para o corredor, acreditando que logo alcançaria a cozinha. No entanto, ao ver a movimentação dos empregados que saiam pela porta dupla, desistiu da ideia. Quando chegou na mansão, foi recepcionada pelo mordomo e levada diretamente até Charlotte e seu enorme quarto, que, muito provavelmente, caberiam duas casas onde Natalie cresceu. Havia muitos empregados, o que deixou a Scatorccio acanhada com o tratamento real. Charlotte cresceu em meio ao luxo, por isso, para ela, era completamente normal transformar pequenas diversões em grandes eventos mesmo com pouco esforço.

— Nat! — Christine a chamou quando finalmente a encontrou parada no corredor. Natalie olhou por cima do ombro. — Para onde você vai?

— Procurar alguma coisa para alegrar a festa. — Respondeu ela. Christine sorriu.

— A Liv já está bem animada. — Alegou enquanto dava passos até a colega. Natalie revirou os olhos.

— É só excesso de açúcar no organismo dela.

— Tá, eu entendi, senhorita-problema, eu sei onde encontrar o que você quer. — Chris acenou para Natalie, chamando-a em silêncio.

Natalie confiou em Christine, aliás, ela e Charlotte eram amigos há mais tempo. Chris retornou à sala principal e se aproximou de um quadro da paisagem do jardim. Natalie franziu o cenho, enquanto cuidava da segurança para que nenhum adulto as flagrasse naquele momento. Com cuidado, retirou o quadro da parede, revelando uma coleção de uísques que Natalie nunca vira em toda sua vida.

— Escolhe um. — Chris encarou Natalie, estranhamente confiava no paladar dela.

— Bem, que tal esse Royal Salute de vinte e um anos? — Natalie apontou para a garrafa azul de uísque. Christine o alcançou na prateleira de cima. Aquela bebida deveria valer muito. — Bom gosto, garota.

𝐇𝐀́ 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐎𝐓𝐓𝐄 𝐌𝐀𝐓𝐓𝐇𝐄𝐖𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora