𝐇𝐀́ 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐎𝐓𝐓𝐄 𝐌𝐀𝐓𝐓𝐇𝐄𝐖𝐒

𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟏𝟗)

DIAS ATUAIS

Lampejos das noites vividas na Transilvânia com Sebastian se mesclavam na mente de Charlotte, trazendo à tona o que ele havia despertado nela. Ao lado dele, aprendeu tudo o que sabia agora, permitindo que sua natureza cruel emergisse sem barreiras. Ela gostava da sensação de poder, da ausência de medo, e se entregou a isso por completo. Sebastian não era apenas seu mentor; ele a moldou, recriando-a à sua imagem. Mas, com isso, veio um vínculo que Charlotte nunca esperava — algo que a mantinha presa a ele, uma necessidade profunda de obedecê-lo, de seguir suas ordens sem questionar. Ela se via incapaz de desafiá-lo, como se sua própria essência estivesse ligada à vontade dele.

Voltou para casa quando decidiu que estava preparada para dar início à sua missão. A mansão dos Matthews estava abandonada, deixada de lado enquanto seus pais se abrigavam na cobertura da torre mais alta e moderna de Toms River. Charlotte os rastreou com facilidade, sendo uma surpresa para Emilia quando atendeu a porta e deparou-se com a filha, que, de fato, havia desaparecido durante a internação na Romênia. Naquela noite, Charlotte estava disposta a matá-los ou, pelo menos, fazê-los sofrer por longas horas, mas precisava se alimentar e de alguém para limpar sua bagunça. Se matasse os pais naquele momento, seus planos não se desenvolveriam. Por isso, os compeliu e voltou para casa; muito trabalho ainda precisava ser feito.

Tudo estava indo bem, até que, no meio da noite, resolveu dar início à missão. A princípio, tinha em mente a primeira garota que levaria a Sebastian: Natalie.

Poderia ser estupidez de sua parte, mas Charlotte acreditava que a imortalidade caía muito bem para a loira Scatorccio. O difícil seria fazê-la aceitar a nova vida, mas ela se acostumaria, da mesma forma que Lottie se acostumou. Sendo teatral, pensou em fazer uma entrada que a outra garota jamais esqueceria. No entanto, não teve coragem de completar o que deveria quando finalmente teve o grande momento. Era certo que Natalie jamais a perdoaria por isso; sua personalidade era forte demais para seguir normas impostas. Ela não obedeceria a Sebastian, muito menos sua própria criadora. Então, ver a garota que amava vivendo para sempre, longe dela, era doloroso demais. Uma ideia absurda passou por sua cabeça: matar Natalie soou tentador nos segundos em que ficou abraçada com ela, farejando seu sangue tão atraente. Naquele instante, seu lado predador falou mais alto. Precisava de apenas uma mordida, e, depois que começasse, nem doeria tanto. Entretanto, também não teve coragem de fazer isso. Não era justo acabar com a vida de alguém só porque não era correspondida, sem ao menos pedir uma chance.

Charlotte deixou Natalie com um visível ponto de interrogação no rosto e partiu, mas ainda precisava de uma garota. Christine foi sua primeira vítima naquela noite e a primeira a ser entregue a Sebastian. O que ele faria com elas quando tivessem, enfim, as dez meninas, não era importante naquele momento. Entretanto, agora, isso a preocupava. Foi tola quando aceitou o acordo. Estava pensando apenas em si mesma, e naquele momento, isso não parecia errado — bem, ainda não era tão ruim. Agora, os problemas estavam se tornando maiores do que o esperado.

Charlotte começou a sentir a corda invisível ao redor de sua consciência apertar de um jeito insuportável. A ideia de seguir Sebastian cegamente já não era mais aceitável. Cada ordem dele, cada expectativa que impunha, a sufocava. A vida de Natalie agora estava em jogo, e foi nesse momento que Charlotte percebeu que havia algo que ela não estava disposta a sacrificar. O controle que Sebastian tinha sobre ela ainda era poderoso, mas sua vontade de proteger Natalie começava a se sobrepor à necessidade de agradá-lo. A luta interna se intensificava, e Charlotte sabia que, cedo ou tarde, teria que escolher entre seguir seu mestre ou lutar contra ele.

Seu olhar recaiu brevemente sobre o rosto pálido da humana sentada ao seu lado na cama e, em seguida, desviou-se vagarosamente para o vampiro recém-criado que estava na poltrona do outro lado do quarto. Duas situações estavam diante dela, e ela não sabia como as coisas seriam dali em diante.