𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟎𝟑)

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DIAS ATUAIS

Natalie sempre gostou de filmes, e o gênero terror era o seu preferido. Quando criança, fugia da cama só para poder reprisar os clássicos do horror que passavam tarde da noite. Ela não se assustava com as mortes e sangue, pelo contrário, adorava os efeitos especiais exagerados e como algumas atuações eram bem ruins. Contudo, o que via na TV não passava de ficção. Demônios, monstros, zumbis, alienígenas não existiam na realidade, então, obviamente, não tinha o que temer. Foi nisso que a jovem Natalie acreditou por um longo tempo. Agora, ela se questionava até quando os filmes possuíam um fundo de veracidade, talvez, eles quisessem mostrar algo de uma forma mais distorcida e caricata. Os monstros existiam, e talvez um estivesse a solta pela cidade fazendo um belo estrago. Só de pensar nisso, ela já sentia todos os pelos do corpo arrepiarem e o coração palpitar.

— Mãe, talvez esses ataques estão sendo causados por um lobo ou um urso. Pode ser que seja até algum animal que fugiu do zoológico e as autoridades não querem preocupar a população. Logo será resolvido. — Natalie falou na tentativa de tranquilizar a mãe. Ela não acreditava naquelas palavras, e Vera também não. No entanto, prefeririam não demonstrar uma à outra o que sentiam nas entranhas. — Vou para meu quarto, boa noite.

Cruzando o corredor até o quarto, Natalie jogou-se na cama com o notebook aberto na página principal de pesquisa. Enquanto o ponteiro piscava diante seus olhos, imaginou o que pesquisaria. Ela mordeu os lábios ao ponto de feri-los. O gosto de sangue inundou sua boca, salgado e quente. Natalie torceu a cara em uma careta e se achou uma idiota ao digitar "Ataques de Animais salvagens a humanos" no Google imagens. As pesquisas mostraram uma série de imagens onde animais como elefantes, tigres, ursos, cachorros e até patos, atacavam seres humanos. Nem de longe aqui que via parecia com os ataques descritos pelo jornal. Natalie digitou novamente na caixa de busca "morcegos", na intenção de achar alguma espécie que tem o sangue humano no topo da cadeia alimentar, mas as pesquisas não lhe entregaram o que queria. Se sentindo ainda mais idiota, digitou "vampiros" no google, mas teve receio de continuar as buscas.

Algo se chocou contra sua janela, roubando sua atenção. Em alerta, Natalie fechou a tela do notebook o empurrando para longe. Novamente, ouviu o barulho de um corpo pequeno ir ao encontro do vidro, dessa vez, abrindo uma passagem devido à força usada. Algo adentrou pelo espaço, indo em disparada ao armário de roupas que se encontrava semi-aberto. Natalie fechou as mãos em punhos quando um barulho semelhante a um pequeno grito veio de dentro do seu armário.

— Mãe... — Gritou, na esperança de ter alguma ajuda, mas não foi respondida. — Merda!

Praguejar não ia adiantar. Reunindo a pouca coragem que tinha, caminhou até o armário. Empurrou a porta, vendo que um morcego emitia um barulho insuportável aos seus ouvidos. Notou uma trilha de sangue no carpete do quarto, e viu que uma das asas do animal estava ferida. Muito provavelmente ele se cortou no momento que atravessou o vidro da sua janela. Mesmo que quisesse ajudar, Natalie não saberia por onde começar, assim como se aproximar de um animal daquela espécie era perigoso.

A garota estremeceu, sentindo os pelos da nuca eriçarem. Ela não sabia explicar, mas se sentiu observada. Virou o rosto para a janela, onde a cortina era empurrada sutilmente pelo buraco no vidro. Não tinha ninguém do lado de fora, muito menos no quarto. Talvez fosse só sua imaginação e o susto que levou. Engolindo seco, Natalie buscou algo para capturar o pequeno animal e por para fora. Usou uma fronha para poder alcançar o bicho, mas foi na tentativa de se aproximar, que um pandemônio se instalou a sua volta. De uma hora para outra, o morcego se recuperou, voando com fúria sobre ela. Suas garras traseiras afundaram na pele macias, fazendo-a gritar. Ela se debateu, tropeçando nos próprios pés até cair no chão, se defendendo da forma que podia.

𝐇𝐀́ 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐎𝐓𝐓𝐄 𝐌𝐀𝐓𝐓𝐇𝐄𝐖𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora