VINTE DE SETEMBRO DE 2006
Há muito tempo haviam lhe dito que a dor do parto é a dor de uma nova vida. As mulheres sabiam como parir e os bebês como nascerem. Vera Scatorccio recordou-se de todas as palavras da mãe a respeito da maternidade, enquanto dava o seu melhor para colocar sua primogênita no mundo. As coisas dali em diante seriam diferentes, e ela acreditava que com uma criança em seu colo, tudo se tornaria mais colorido. Aliás, descobrir que estava grávida já era o início de começar a ver o mundo com mais cor, pois ainda no início da juventude, descobriu que gerar uma nova vida seria mais difícil do que esperado. Por isso, quando soube que carregava uma criança, interpretou como um milagre, seu pequeno milagre. Ver sua barriga crescendo com o passar dos meses, a enchia de uma felicidade tão genuína que nem mesmo as palavras duras do marido a desanimava. Durante as noites, sentava-se na cadeira de balanço, no quartinho rosa preparado para a filha, e conversava com ela como se fossem grandes amigas de longa data. Sempre lhe falaram que meninas eram mais próximas das mães, e isso era tudo que Vera esperava da sua garotinha. O suor escorreu pelo rosto. A dor de colocar uma vida para o mundo era maior que qualquer coisa, assim como a responsabilidade de criar um filho. Vera gritou, enquanto seu rosto era enxuto pelo marido ao lado. Joe estava nervoso, e embora preferisse disfarçar, toda aquela situação o deixava aflito. Segurou a mão da esposa, enquanto tentava formular algumas palavras motivacionais só para que ela aguentasse mais um pouco.
Então um grito fino e um choro partiram a tensão da sala. Joe abriu a boca, reparando no pequeno corpo magro e acinzentado devido à placenta ser erguido pelo médico. É uma menina! Foi o que o homem ouviu o médico confirmar. Vera sorriu entre as lágrimas vendo sua garotinha ser embrulhada em uma manta cor de rosa antes de ser colocada em seu colo. Joe se afastou da esposa, ansioso para carregar sua criança, no entanto, sua atenção foi roubada pelo grito de vera mais uma vez. A mulher fechou os olhos e mordeu os lábios com força, enquanto outra contração a pegava completamente desprevenida.
— O que está acontecendo? — Gritou Vera, buscando respostas na feição do médico.
— Pelo que parece, você continua em trabalho de parto. — O médico a avaliou. O choque foi instantâneo na face dos pais de primeira viagem.
— Joe! — Ele ouviu a esposa gritar antes de se lamentar de dor.
— Não diga besteira, todos os exames de imagem só mostravam uma criança, impossível ela ter duas. — Joe bradou. Outro filho? Nem sabiam como iriam lidar com uma criança e agora teriam que cuidar de duas?
— Faça força, senhora Scatorccio, tem um novo bebê a caminho! — O médico instruiu voltando rapidamente ao seu dever. Vera afundou as unhas no colchão e gritou. Dessa vez, o bebê pareceu agarrar em suas estranhas, relutante a sair para o mundo.
— O que está acontecendo com minha mulher? Isso é sangue? — Joe tentou se aproximar, mas foi impedido de chegar mais perto quando reparou em uma quantidade de sangue escorrendo pelas pernas da esposa.
— O senhor vai precisar esperar lá fora. — Uma enfermeira impediu seu caminho. Joe abriu a boca para falar, mas Vera acenou para ele sair.
Sem poder contestar, Joe se retirou da sala com passos pesados até o corredor. Ele não iria para longe, não com sua esposa dando à luz a um segundo filho. Por isso, se manteve de prontidão na porta, enquanto os gritos de Vera incomodavam até sua alma. Durou cerca de trinta minutos até que o choro de um novo bebê deixasse uma sensação estranha em seu peito. Não era exatamente medo, talvez fosse a surpresa e a negação do destino ter lhe dado um bebê a mais do que havia planejado. Duas crianças em um só dia, qualquer outro pai acharia uma dádiva, mas não Joe Scatorccio. Ele ainda se lembrava bem do dia que Vera descobriu a gravidez, mesmo tendo lhe declarado que seria incapaz de gerar filhos. Joe teve que se conformar, já que a ideia de ser pai não era do seu agrado. Vindo de uma família tradicional, Joe foi o décimo filho de um casal rígido, por isso, acreditava muito que não fosse conseguir ser o exemplo ideal de pai para sua filha. Quando viu o primeiro exame de ultrassom, não acreditou no que os olhos viam, e principalmente, na única lágrima que derramou. Naquele momento, enquanto o médico deslizava o aparelho pela pontuda barriga da esposa, tentou garantir a si que tudo daria mesmo, mas agora, não sabia mais se isso seria possível.
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𝐇𝐀́ 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐎𝐓𝐓𝐄 𝐌𝐀𝐓𝐓𝐇𝐄𝐖𝐒
Fanfiction𝐇𝐀́ 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐎𝐓𝐓𝐄 𝐌𝐀𝐓𝐓𝐇𝐄𝐖𝐒 | +18 | Durante uma viagem nas férias de verão, Charlotte Matthews desaparece misteriosamente. O tempo se encarrega para que seu sumiço caia em esquecimento entre seus colegas da...