𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟎𝟕)

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DIAS ATUAIS

Haviam quatro coisas que Natalie odiava, na qual, poderia listar facilmente. A primeira, sem dúvidas, era o verão. O calor insuportável, os insetos que mordiam no meio da noite e o corpo suado mesmo após o mais longo banho gelado se tornavam uma verdadeira prova de resistência. O Segundo: café gelado. Natalie gostava de café, desde que fosse quente, com quase nada de leite e muito açúcar. Isso era café! E não aquela mistura com gelo que as influenciadoras inventaram nas redes sociais. Terceiro: musicais, ela realmente queria entender o sentido de pessoas saírem de um diálogo sério para uma música com coreografia ensaiada. Não, definitivamente esse não era seu gênero favorito. Quarto, e não menos importante, Charlotte Matthews, sim, e talvez essa devesse assumir o primeiro lugar da sua lista imaginária, disputando um acirrado espaço com o verão. Estranhamente, eles até combinavam, eram quentes como inferno, assim como perigosamente frios durante algumas noites.

A caminho de casa, sentiu a cabeça doer ao recordasse dos últimos dias que estava vivendo. E, principalmente, de como todas as bizarras situações vividas voltavam sempre à estaca zero. Charlotte Matthews era um fodido enigma na sua vida, principalmente quando decidiu fazer uma visita completamente insana em sua casa. Aliás, o que ela queria com isso? Assustá-la? Matá-la? Pois, certamente, os ataques causados na mesma noite possuíam ligação exclusivamente com uma pessoa. Natalie se sentia incomodada, já que desde a volta da filha do prefeito, estava sendo constantemente assombrada por sonhos lúcidos e, talvez, crises de sonambulismo. A sensação de ser vigiada crescia a todo instante. Bastava piscar para ter a sutil incerteza de está sendo observada por algo que seus olhos não podiam capturar. Se antes do seu desaparecimento, Charlotte já não era lá essas flores, após suas volta, parecia ainda menos confiável. E não havia como dizer que tudo era uma coincidência, porque não era.

Com o cigarro bem preso nos lábios, Natalie puxou a fumaça para os pulmões. Talvez se não morresse em um dos supostos ataques animais, então morreria como uma estrela do rock. Para ela, morrer fazendo o que mais gostava era um bom jeito de partir. Por isso, tragou o cigarro e prendeu a queimação o tempo necessário para soltar novamente. Os pensamentos precisavam serem colocados em ordem, e faria isso andando algumas quadras até sua casa. Obviamente, a escola era longe de onde morava, por isso, precisava do ônibus escolar para ir de um lugar para o outro, mas naquele dia, após enfrentar a diaba de saias da escola, sentiu a necessidade de andar para esvaziar as tempestades em seu interior. Confrontar Charlotte logo no primeiro dia foi pura burrice da sua parte, mas ver todo aquele teatro foi demais. Natalie odiava ser impulsiva, mas toda essa confusão a estava fazendo entrar em colapso. Chutando uma pedrinha para longe, a loira rangeu os dentes e segurou o cigarro entre os dedos. Charlotte estava presa em uma parte dos seus pensamentos. Enraizada como uma maldita planta venenosa. Natalie chutou outra pedra no mesmo instante que ouviu uma buzina apitar ao seu lado.

— Quer carona? — Ouviu a voz presunçosa vir de dentro do carro. A garota bufou. — Aí, Natalie, entra no carro, eu te levo pra casa! — Spencer diminuiu a velocidade do opala preto recém-reformado. Sua boca com piercing se alargou com um riso em direção a loira. Natalie revirou os olhos, soltando um ruído irritado. — Vamos, você vai gostar, tenho umas coisas bacanas aqui.

— Seu bacana e o meu bacana carregam significados distintos, Spencer. — Natalie parou, jogando o cigarro para o chão para apagar a ponta com a bota.

— Da outra vez você gostou das coisas bacanas que eu tinha.

— Da outra vez eu estava chateada e querendo ficar chapada o mais rápido possível. — Dizer isso em voz alta era ainda mais vergonhoso do que fazer. Spencer tinha vinte e um anos, e mesmo assim, mal sabia qual era a décima letra do alfabeto. Saiu da escola para continuar os negócios ilícitos do pai após sua prisão. Como eram quase vizinhos, Natalie podia dizer que o conhecia desde sempre, e quando mais jovem, acreditava que um dia ainda perderia a virgindade com ele. Felizmente, isso nunca aconteceu, pelo menos, não com Spencer Monroe. — Se você tentar alguma coisa, eu mato você e escondo o corpo na mala dessa carroça.

𝐇𝐀́ 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐎𝐓𝐓𝐄 𝐌𝐀𝐓𝐓𝐇𝐄𝐖𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora