𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟏𝟖)

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UMA SEMANA ANTES DO DESAPARECIMENTO DE CHARLOTTE MATTHEWS

PRIMEIRA PARTE

Uma inquietação cresceu em seu peito à medida que tentava se manter parada, de braços abertos. Charlotte revirou os olhos e bufou, tentando se concentrar nos detalhes do vestido que usava. O preto realçava o bronzeado natural de sua pele, e o modo como o modelo se ajustava à cintura deixava suas curvas ainda mais acentuadas. Mesmo que o corpete a deixasse sem fôlego, ela gostou do volume dos seios comprimidos, já que eram naturalmente pequenos. A cintura parecia mais fina graças ao volume das saias esvoaçantes, nas quais um sutil brilho se destacava com o movimento. Era um verdadeiro vestido de princesa, preparado há meses pelo melhor ateliê de costura da cidade.

Obviamente, Charlotte não teve poder de opinião sobre o vestido, muito menos para dizer se queria ou não uma festa para comemorar seus dezoito anos. Charlotte sempre sentiu que era uma extensão da ambição dos pais, especialmente de sua mãe. Emilia não media esforços para transformá-la na perfeita herdeira dos Matthews, mesmo que isso significasse sufocar quem ela realmente era. Em cada detalhe da festa — do vestido apertado ao local em Nova York — tudo parecia mais um desfile dos sonhos de Emilia do que o próprio aniversário de Charlotte. Ela sabia que nunca teria a liberdade de ser apenas... ela mesma.

Era irônico pensar que, com dezoito anos, ela finalmente seria uma adulta legalmente, mas nunca se sentiu tão presa. Enquanto seus pais planejavam cada detalhe de sua vida, desde suas roupas até suas amizades, Charlotte só desejava escapar. Ela não queria ser a mulher que eles queriam que ela fosse — a mulher que vestia o que os outros queriam, frequentava festas chatas e sorria para os aliados políticos de seu pai. Mas cada vez que tentava imaginar um futuro diferente, as opções pareciam se desfazer, como uma miragem que desaparecia antes que ela pudesse tocá-la.

A irritação foi grande o suficiente para fazê-la se mover em um pequeno espasmo e, como castigo, foi perfurada por uma agulha na coxa.

— Ai! — Queixou-se, olhando para baixo.

— Não se mova. — A voz da costureira preencheu o ambiente. Charlotte voltou à antiga posição. Seus braços estendidos começavam a doer, e logo novos espasmos se repetiriam, fazendo com que fosse perfurada mais vezes.

Quando finalmente foi libertada da tortura, caminhou até o bar do ateliê, segurando a pesada saia para que não tropeçasse nas camadas de tule que davam um volume desnecessário ao vestido. As costureiras estavam distraídas o suficiente para não notarem a adolescente do outro lado da sala. Nas pontas dos pés, Lottie alcançou o primeiro vinho que avistou e, sem pensar duas vezes, bebeu direto do gargalo até saciar sua sede. Uma parte sua precisava daquilo, já que tudo indicava que aquele dia demoraria muito para acabar. Segundo Emilia, sua agenda estava lotada, e isso a afastou das amigas logo no início das férias de verão.

Charlotte possuía compromissos em eventos de caridade e até em comícios políticos ao lado dos pais. Nitidamente, odiava essas obrigações, mas as coisas estavam se afunilando com o passar dos dias. Logo ela faria dezoito anos, e o que era para ser um grande marco em sua vida estava se tornando um verdadeiro problema. A começar pela proibição das amigas em sua própria festa. Emilia alegou que como tudo aconteceria em Nova York, levar um time de futebol inteiro para uma festa sairia caro para os Matthews. Charlotte não acreditou em uma palavra dita pela mãe e, por isso, resolveu não discutir se aquilo era certo ou não, já que de nada adiantaria.

— Charlotte, o que está fazendo? — E, por falar no diabo, ouviu a voz aguçada da mãe. Engasgou com o vinho, o largou em cima da bancada e tentou recompor-se. — Bebendo a essa hora?

𝐇𝐀́ 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐎𝐓𝐓𝐄 𝐌𝐀𝐓𝐓𝐇𝐄𝐖𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora