𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 (𝟎𝟏𝟐)

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As palavras de Lilian Clark eram como um eco nos pensamentos tempestuosos de Natalie Scatorccio, e esse foi o motivo de deixá-la em uma inquietação pelo resto do dia até a manhã seguinte. A nova moradora de Toms River parecia ter muito o que declarar em relação aos supostos ataques de animais, e era isso que preocupava Natalie. Aliás, era perigoso ter Lily por perto, principalmente agora que a Scatorccio se encontrava dividida entre o certo e o errado ao referir-se à perversa filha do prefeito. Havia uma linha tênue entre se aproximar de Lilian para descobrir mais sobre o mundo sobrenatural e em colocá-la no caminho que levava diretamente a vampira que estava aterrorizando a cidade. Foi Charlotte Matthews que assassinou Bill Clark e foi ela que trouxe todo o caos a pacata cidade onde cresceu, e Lilian estava disposta a acabar com esse mal. Natalie não sabia se podia denominá-la como uma caçadora, mas esse parecia o termo mais aceitável até aquele momento. Era óbvio que a nova vizinha se movia com sede de vingança, e descontaria toda a raiva que sentia na primeira besta sanguinária que encontrasse. A chegada dela na cidade só mostrava que talvez suas pistas a tivessem levando para onde queria.

Natalie gostaria de se odiar naquele momento, já que agora se mostrava incapaz de dar um fim definitivo ao mal que assombrava não só ela, mas como toda a cidade. A filha do prefeito era um demônio que brincava com suas emoções, e que estava transformando o restante da cidade em um grande banquete. Pegar uma estaca e enfiar em seu coração deveria parecer fácil, mas Natalie realmente não conseguiria fazer isso, assim como não tinha certeza se a vampira ainda carregava um no peito. A ideia de está sendo manipulada por algum encanto estava completamente descartada, por ser muito mais simples acreditar que o sentimento que crescia em seu peito era completamente racional e reprimido por muito tempo por alguém que sempre se recusou amar. O problema maior é que tudo estava acontecendo do jeito errado, nas piores momentos. Natalie se sentia no emaranhado de problemas e seu alvo agora se tornara algo de outra pessoa.

Eu não posso matar a Lottie, nem permitir que matem ela. Pensou tão alto que as palavras saíram pelos lábios. Natalie jamais se imaginou matando ou perdendo mais alguém. A morte era algo que não sabia lidar, e reagir ao luto era complicado para ela que só tentava não sentir mais nada. Por isso, precisava deixar Lily distante de Charlotte, pelo menos durante o tempo necessário para manter a vampira segura. Um sorrisinho seco espocou em sua boca. Quem diria, Natalie Scatorccio protegendo a garota que só a infernizou. Isso não parecia muito justo, considerando tudo que Charlotte já tinha aprontado desde que voltou, mas também não era justo deixar que outra pessoa matasse uma garota que provavelmente fora vítima de algo. Pois, se Charlotte Matthews era uma vampira, significava então que outros vampiros também caminhavam por aí, e só Deus para saber tudo que ela vivera de fato nesses meses que foi dada como desaparecida.

Natalie puxou o telefone do bolso e buscou a rede social de Charlotte. Encontrou em poucos segundos. Seus dedos tocaram a tela, bem acima do texto que levava para a parte de mensagens instantâneas. Pensou no que escreveria, e deduziu até se não parecia um pouco desesperada em fazer um pedido para encontrá-la, principalmente depois da festa. A festa. O lampejo da noite do seu aniversário a atingiu em cheio, assim como as lembranças do beijo, as palavras ditas uma a outra — mesmo carregadas de ameaças — as mortes. Morte. Três corpos sem vida no meio do galpão. Natalie apagou a tela do telefone, ela não iria mandar mensagem a Charlotte. Não pretendia se arriscar a ter um encontro novamente com a garota que estava virando sua cabeça. Levantando-se da cama, vestiu a jaqueta de couro, pronta para sair. A caminho da porta, digitou uma mensagem para Greg, informando que não demoraria para encontrá-lo na biblioteca. Ele respondeu em poucos segundos, informando que tentaria sair de casa para encontrá-la.

Natalie atravessou a grama seca, em direção ao ponto de ônibus. Teria tido uma fuga perfeita se seu pai não surgisse diante seus olhos, carregando algumas sacolas enquanto saía da caminhonete de lataria vermelha e enferrujada. A garota parou abruptamente, como se estivesse cometendo algum crime. Joe uniu os lábios ao encarar a filha parada a sua frente, com o semblante de quem pretendia fazer algo errado naquele dia. O homem resmungou algo e caminhou até ela. Por conta do toque de recolher, fez as compras da semana mais cedo, e decidiu que naquele domingo faria um churrasco em família. Entretanto, sua filha já parecia ter outros planos para aquele dia.

𝐇𝐀́ 𝐀𝐋𝐆𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐑𝐋𝐎𝐓𝐓𝐄 𝐌𝐀𝐓𝐓𝐇𝐄𝐖𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora