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Pedro Tófani, point of view,
São Paulo.

Alguns anos haviam se passado desde que terminei com o Jão, eu havia escrito e publicado meu livro A Última Noite, mas não sabia como andava sua própria vida, isso me doía, pois queria saber sobre tudo, sua carreira, seus shows. Mas sabia que doeria mais se eu ficasse por perto.

Pedi a meus amigos para não falarem sobre ele, mas uma vez, Renan sem querer se deixou soltar que ele estava bebendo demais e saindo com todo tipo de pessoa. Aquilo foi como uma facada no peito, sabia que João seguiria em frente, mas não queria saber que ele beijava, não queria saber dele se divertindo em festas. Eu só... Queria deixar ele ir.

Eu ainda me lembro dos bons momentos, mas uma coisa que nunca sai da minha cabeça foi o momento, meses antes dele ter uma crise de ciúmes de um editor da minha atual editora, o momento em que eu soube que não dariamos certo.

Flashback on...

Estava em um quarto de hotel, sem conseguir dormir, quando escuto batidas na porta. Suspiro e me levanto, para olhar no olho mágico da porta, me surpreendo ao encontrar João, que parecia mexer os dedos de maneira ansiosa, logo me apresso para abrir a porta.

— Oi... — Ele diz de forma insegura, com a cabeça baixa assim que abro a porta.

— Oi, tá fazendo o que aqui?! — Perguntei surpreso. Tinhamos tido uma briga por telefone no início daquele dia, já que eu estava em Minas visitando meus pais, e estava em um quarto de hotel pois meus parentes conseguem ser bem barulhentos e eu realmente precisava dormir.

— Me desculpa por hoje mais cedo, de verdade, eu estava fora de mim! Eu disse como coisas que não deveria ter dito, amo você, Peu! — O cantor afirmou, ainda sem olhar em meu rosto. Seguro sua mão, puxando-o para dentro do quarto.

Fecho a porta e então o sento no sofá. A TV estava ligada em um programa qualquer.

— Tudo bem, eu tendo você, de verdade... Só que doeu, sabe?! A gente tem estado tão ocupado com a vida ultimamente que não tem se preocupado com o relacionamento, eu sinto sua falta, amor... — Respondi olhando em seus olhos. Romania arregalou levemente os olhos, e então puxou-me para mais perto.

— E-eu sei... Toda essa confusão de show, entrevista, escrever, tem nós deixado tão... Distantes... E eu prometo que não vou mais deixar isso acontecer, te amo muito! O estresse tá nos deixando malucos, mas isso não pode interferir no nosso relacionamento! — Ele disse, e então assinto positivamente, deitando minha cabeça no encosto do sofá, olhando em seus olhos, segurando fortemente sua mão. Nessa altura do campeonato estava sentado com os joelhos contra meu peito e o capuz do moletom estava erguido em minha nuca.

Eu tô aqui com meu peito aberto pra você, nesse quarto de hotel, a chuva lá fora, eu não quero te perder! — Pedi em um sussurro.

— Você não vai me perder! — Devolveu João em um mentira, nós dois tinhamos nos perdido a muito tempo. A chuva caia lá fora, então o moreno olhou pra TV, comentando sobre ser ali a chuva.

Talvez, se afastassemos um pouco, mas sem perder de vista, obviamente, parecesse certo que ficaríamos juntos.

Flashback off...

Mas a gente era muito novo, e ele foi muito longe pra perder seu tédio. Ele me perdeu... A essa altura, as lágrimas já inundavam meu rosto, comecei a limpa-las e escrever mais um pouco. Estava tentando a quase dois anos lançar um livro novo, havia lançado A Última Noite em 2019 e um conto com o Pedro Rhuas, que escreveu a maior parte, não nego, no meio de 2020, mas desde 2019 não me vinha nada feliz e não queria mais escrever histórias de amor tristes.

Eu queria viver algo milenar, surreal, que valesse a pena ser escrito. Mas, tudo ainda me lembrava o João, e no auge da pandemia ter qualquer tipo de casinho para alguém como eu, bissexual, conhecido e ético, era algo terminante impossível.

Meus amigos continuam sendo amigos dele, aliás Ana se aproximou mais de nós depois de um tempo do nosso relacionamento, eu continuava sendo amigo dos amigos dele, Giovana sempre pedia por chamadas de vídeo, mas ainda sim não sabia nada sobre ele, pois pedi para não me falarem.

Não seguia o mesmo no Instagram, e pelo que li no twitter com as teorias malucas dos meus fãs, ele também não me segue. Todos os nossos momentos passam como um filme em minha cabeça.

Como quando eu tinha acabado de comprar um Corsa lá em Minas e ele íamos a praça sete, passando a madrugada inteira nos beijando. Quando usávamos as roupas um do outro, quando ele me levava a pé pra casa dos meus pais quando eu ainda não tinha o carro e estávamos passando um tempo em BH lá em 2018.

Lembro-me de quando ficávamos juntos, acordados escrevendo músicas, quando ele me ajudava com o início de A Última Noite, quando ainda não sabíamos onde a vida nos levaria. A vida foi acontecendo de forma tão estranha.

Eu ainda sinto a falta dele todo dia, das nossas músicas na rádio, dos beijos e saídas de madrugada. Eu ainda sinto falta dele, todos os dias. Mas tento sempre fingir que não, pois com o passar dos anos fiquei bom em ser racional, em mentir e fingir, eu fiquei muito bom em negar.

Eu não sentia nada.
Mas sentia tudo, no final.

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Assim como o Pedro, também fiquei boa em negar que as coisas não afetam... Até sexta!

Capítulo Revisado
Palavras: 940

ɴᴏssᴏs ᴇsᴄʀɪᴛᴏs, au pejão Onde histórias criam vida. Descubra agora