Eu, Jansen e minha família passamos o resto do dia lendo o contrato. Era percebível que meus pais se seguravam para dizer que eram bons termos, mas não queriam me encorajar. Enquanto isso, Marilyn apresentou um ou outro comentário envolvendo a questão da cláusula de escape ou a pintura do carro, que ela achava bonita.
- É... - Meu pai disse, andando de um lado para o outro no quarto. - Você que sabe, Jacques.
- Mãe? - Perguntei.
- Sem comentários - Ela respondeu, tentando fingir indiferença. Era óbvio que ela era contra.
- Jansen?
Ele fez um joínha com a mão direita e deu de ombros. Interpretei como um "tudo bem. Escolha o que quiser".
- Eu te apoio - Marilyn disse, sem nem me esperar dizer seu nome. - Assino em baixo de tudo o que fizer.
Eu a fitei e sorri. Minha irmã retribuiu o gesto.
Nossa mãe nos encarou, revezando entre nós dois o seu olhar fulminante.
- Como pôde, Marilyn? - Ela disse, chateada. - Depois de tudo que aconteceu, você ainda quer isso para o seu irmão!?
Ela continuou como estava, sentada na beirada da cama com as pernas cruzadas. Porém, consegui perceber a mágoa lutando para aparecer em seu semblante, e Mary estava ganhando a briga de jeito magistral.
- Minha irmã só deu a opinião dela, mãe.
Ela não disse mais nada, mas era visível que estava incomodada com a situação.
Decidi dar um fim logo naquela confusão toda. Um veredito era necessário.
"Vamos, Jacques... pense. Continuar sendo o queridinho, mas ganhar de pessoas que você tem certeza que não estão no seu nível, sendo covarde, ou competir na Fórmula 1, tendo a chance de poder mostrar seu talento entre os melhores? Lembre-se dos perigos; quanto mais alta uma aposta, pior irá ser o prejuízo. Lembre-se de seu tio, seu bisavô, sua irmã... eles não fizeram nada de errado, mas mesmo assim foram pegos pelo destino... mas e o meu avô? Ele conseguiu ser exceção... mas por quê? Por quê?"
"Jacques, e se você for uma exceção?"
Um misto de medo e esperança percorreu meu corpo, o fazendo tremer.
Juntei peça com peça. Meu bisavô se acidentou, meu avô não. Meu tio também, mas meu pai saiu quase ileso. Minha irmã? Sim, mas e eu?
Era uma teoria sem noção, mas com um fundo de lógica. Pensar nisso só me deu um empurrãozinho, mas era logo aquele que eu precisava.
"Só tem um jeito de descobrir."
Rápido, peguei o contrato da mesa e o assinei em todos os espaços designados. Senti uma adrenalina enorme ao fazer isso, pois nem todo mundo iria aprovar minha atitude.
Quando me virei, vi minha mãe atônita, Jansen sorrindo enquanto limpava sua boina, meu pai com um semblante frio de surpresa e minha irmã, que havia levantado da cama. Em poucos segundos, ela já estava me abraçando.
- Meus parabéns, Jacques! - Marilyn disse, com uma alegria contagiante. - Eu sabia que conseguiria.
Ela me soltou, e em seguida, Jansen me ofereceu um aperto de mãos. Quando retribuí, ele me puxou e nos abraçamos pela segunda vez naquele mesmo dia.
Meu pai, já um pouco mais conformado, me parabenizou. Minha mãe, porém, ficou tentando processar a situação, em silêncio.
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𝐆𝐋𝐎𝐑𝐈𝐀 𝐄𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐌𝐀𝐒 | Fórmula 1 [EM HIATO]
AventuraJean-Jacques Laurent era um fenômeno instantâneo por onde passava. Bicampeão de Fórmula 2 em suas duas primeiras temporadas competindo na categoria, ele ostentava um talento nato para isso; todos ficavam impressionados com a técnica com que o garoto...