Peguei meu capacete e me sentei na carenagem do JT24, o novo carro da Jameson F1 para aquela temporada. Ele era branco e dourado, como uma Haas ou uma Lotus ao contrário. Haviam também detalhes pretos no halo, no aerofólio e no meio do carro, dando uma quebrada nos tons mais claros.
Eu estava vestido com o uniforme da equipe, mais ou menos naquele estilo. A base era na cor preta, e algumas partes, como o colarinho e a faixa onde meu nome, bandeira e tipo sanguíneo estavam bordados, eram de um tom dourado levemente envelhecido, mas não muito escuro e nem ofuscado. Também haviam algumas partes dessa mesma cor nas laterais do macacão, como um contorno. Esse detalhes me lembraram o traje que Ayrton Senna usava quando corria pela Lotus.
Jameson era um fã daquela antiga equipe, era visível.
Eles haviam caprichado bastante na reformulação da identidade visual. Em 2024, iriam se completar 10 anos de Jameson F1 no paddock. Tinha de ser especial.
– Isso – O fotógrafo disse. – Tente sorrir um pouco menos. Só mais um pouquinho... perfeito!
Olhei para Olívio, que esperava minha parte solo do ensaio acabar sentado numa cadeirinha. A cara dele me fez querer rir.
– Jean, agora vamos sem o capacete.
Me levantei e o coloquei sobre a mesa com alguns equipamentos, como câmeras, lâmpadas para iluminação do cenário e mais coisas que eu nem sabia dizer para que serviam.
Eu havia pedido para que fizessem um modelo mais clássico, em homenagem aos de antigamente. Ele era azul escuro, com uma faixa branca na altura da viseira, como o de Ayrton Senna. No meio dela, passava uma linha vermelha, para completar o jogo de cores da bandeira de minha pátria. Jean Laurent estava escrito em um dos lados, perto de meu queixo, como o de Mika Häkkinen, por exemplo.
Me ajeitei para tirar mais algumas fotos. Cruzei os braços e fiz uma cara de paisagem. Ela geralmente saía bonitinha nesse tipo de ocasião.
– Então, vamos olhar para aquele lado – Ele mostrou o canto da parede. – Com vigor.
Olhei para o ponto indicado, como o instruído.
– Não, Jean... espere, vamos fingir que esse cantinho é o infinito e além, o seu futuro. Olhe para ele com determinação, garra, ousadia.
Fechei os olhos e suspirei.
“Meu futuro? E se eu acabar... acabar não tendo um?”
Apesar de tudo, aquelas incertezas ainda insistiam em me atormentar de vez em quando. Elas doíam mais a cada vez que eu as tinha.
Será que ainda daria para desistir?
Me recompus e me concentrei em fazer o que ele disse. Fuzilei a parede de forma tão séria e obstinada que a mesma teria ficado chateada se tivesse sentimentos.
Escutei alguns cliques.
– Essas ficaram mais que perfeitas, Jean. Muito obrigado – Ele sorriu. – Olívio, sua vez.
Peguei meu capacete e saí do estúdio, andando de forma taciturna. Percebi que meus olhos lacrimejavam um pouco, eles insistindo para que pelo menos uma lágrima saísse.
Fui ao trocador e tirei o traje o mais rápido o possível, dobrando-o em seguida.
– Não pense nisso, Jacques – Sussurrei para mim mesmo, em francês. – Você não precisa desse tipo de pensamento agora.
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𝐆𝐋𝐎𝐑𝐈𝐀 𝐄𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐌𝐀𝐒 | Fórmula 1 [EM HIATO]
AdventureJean-Jacques Laurent era um fenômeno instantâneo por onde passava. Bicampeão de Fórmula 2 em suas duas primeiras temporadas competindo na categoria, ele ostentava um talento nato para isso; todos ficavam impressionados com a técnica com que o garoto...