Conheci Antonella aos 15 anos, quando estava andando de bicicleta. O pneu da frente sofreu um rasgo bem feio, e não vi outra escolha além de voltar para casa por um atalho, atravessando uma pequena fazenda.
Fui andando com a bicicleta ao meu lado, as vezes olhando o pneu furado e me lembrando de que deveria ter sido mais cuidadoso. Também acabei ralando uma boa parte dos antebraços e joelhos na queda, e como era de lei, os machucados doíam a cada movimento.
Quando adentrei a trilha, andando pela pequena propriedade (já era tradição de alguns passarem por lá. Os donos sabiam e falavam que estava tudo certo), senti uma sensação de adrenalina em meu corpo, como se fazer algo proibido como o 007 fosse a coisa mais incrível do mundo.
Fui seguindo a pequena estradinha e parei na metade dela para um descanso. Usei a bicicleta vermelha como banco, pois não queria me sentar na grama molhada.
Enquanto tomava alguns goles do Gatorade ainda frio em minha garrafa e pensava no resto da caminhada, avistei alguém andando à cavalo vindo em minha direção, parecendo também seguir a trilha. Porém, ao contrário do que imaginei, não fui ignorado.
- Olá - Falou, em um francês educado. - Está perdido?
Me levantei, ainda com a garrafinha na mão. Meus joelhos gritaram em ardor, e por pouco meus olhos não lacrimejaram.
- Talvez - Eu ri.
A garota abriu um sorriso improvisado.
- Para onde está indo?
- A fazenda dos Laurent.
Ela assentiu com a cabeça.
- Então - Gesticulou. -, você vai seguindo a trilha reto até encontrar uma porteira perto de uma macieira. Ela dá para uma outra estrada, e você vai seguir à direita.
Sorri.
- Muito obrigado.
A garota desceu de seu cavalo e tirou o capacete. Me senti um pouco desnorteado quando ela me olhou nos olhos.
- Você está bem?
Dei de ombros.
- O pneu estourou, e aí eu me desequilibrei e caí.
- Caramba... você tem água?
Neguei com a cabeça, arrependido de ter só levado hidroeletrolítico sabor morango na térmica.
Ela se voltou ao cavalo e começou a mexer no alforje.
- Isso pode ajudar - A garota pegou uma garrafa de água. - Pode lavar os machucados. Vai doer, mas pelo menos não correrá tanto risco de piorar.
Sorri, de jeito confuso. Não era todo dia que alguma garota falava comigo assim, principalmente uma que provavelmente nem sabia que eu era bem... eu.
- Nossa, isso é sério? - Perguntei, incrédulo com a atitude dela. - Posso mesmo?
- É claro - Ela respondeu. - Por que não?
Não respondi, apenas sorri e assenti enquanto pegava a garrafa.
- À propósito - Falei, lhe oferecendo um aperto de mãos. -, me chamo Jacques.
- Antonella - A garota retribuiu. - É um prazer.
Quando ela pegou em minha mão, senti como se um raio tivesse atravessado o meu corpo. Uma faísca repentina, mas que também parecia premeditada segundos antes do contato.
Me senti corar levemente, sorrindo de jeito bobo.
- E então - Falei. -, para onde está indo?
- Estou dando um passeio pelos campos - Respondeu, sorrindo. - Faz bem para a alma.
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𝐆𝐋𝐎𝐑𝐈𝐀 𝐄𝐌 𝐂𝐇𝐀𝐌𝐀𝐒 | Fórmula 1 [EM HIATO]
AventuraJean-Jacques Laurent era um fenômeno instantâneo por onde passava. Bicampeão de Fórmula 2 em suas duas primeiras temporadas competindo na categoria, ele ostentava um talento nato para isso; todos ficavam impressionados com a técnica com que o garoto...