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Seguimos com o jantar como se nada tivesse acontecido; pelo menos, eu achava. Estava com muita fome para me importar naquele momento. Após o jantar, permanecemos sentados na sala. Um filme passava na TV, e eu assistia enquanto meu pai conversava com seus amigos. O único que não participava da conversa era Sanzu. Eu repousava a cabeça em seu ombro, aproveitando o cafuné que ele fazia em meu cabelo.
—— Você sabia disso, Haru? — murmurei para que apenas ele escutasse.
—— Sim. — respondeu ele.
—— Então... Você chegou a conhecer a minha mãe? — perguntei novamente.
—— Sua mãe era uma mulher incrível. Além de ser prima do Kokonoi, ela era da Tenjiku. Não éramos tão íntimos, mas eu a considerava como ao Mikey, tanto que ela me deu uma missão antes de partir. — ele explicou, e, em sua vez, eu sentia a sinceridade em suas palavras. Eu me orgulhava ainda mais e agradecia por ela ser a minha mãe, pois todos que falam dela mencionam que ela era realmente extraordinária.
—— Que missão?
—— Que missão?
—— Você soube da causa da morte de seu pai, sim? Esse foi um dos motivos da minha missão.— apenas concordei com a cabeça. — Ela já sabia que não iria sobreviver ao parto, isso porque... ela estava doente. Ela me procurou e disse: "Haruchyo, eu não vou conseguir sobreviver após o parto, tenho certeza. Eu sei que todos vão cuidar da Harleen junto com o Manjiro com muito amor, mas me prometa que, quando ela gritar por socorro, você estará lá para salvá-la. Eu sei que você irá protegê-la assim como protege o Mikey. Mas, além de tudo, seja amigo dela, não a deixe se sentir sozinha, assim como não me deixou. Eu confio em você." Nesse dia, eu me senti importante, ainda mais ao saber que ela me considerava assim como eu a considerava. Mas lamento ter demorado tanto para me aproximar.
—— Ela acertou muito em escolher você para ser meu amigo. Eu gosto muito, muito de você, Haru. — Ele vira o rosto, mas consigo notar suas maçãs do rosto vermelhas, tão fofo... — Posso estar sendo meio insensível, mas como foi a gestação da minha mãe?
Eu posso estar fazendo muitas perguntas, mas, poxa, eu acabei de descobrir algo que mudou a minha vida.
—— Ela passou meses de sua gestação sem sair desacompanhada, pois estava sentindo uma angústia, um pressentimento ruim. E quando saiu, uma gangue a parou no meio da rua. O pior de tudo foi saber que o líder dessa gangue era amigo dela. — Ele disse, suas expressões já não estavam tão relaxadas como antes, estavam pensativas, tristes... —— South Terano era o nome dele.
—— Acho que eu não conheço. Mas posso jurar que já ouvi o sobrenome em algum lugar.— murmuro pensativa; acho que nunca tinha ouvido esse nome "South". Mas Terano?... Acho que já ouvi em algum lugar.
—— Ela se assustou ao ver tantos homens perigosos, grandes e sérios diante dela.— "Haru, você acabou de se descrever", pensei comigo mesma. — Ela ficou tão desesperada que isso a afetou, e você chegou a correr risco de vida. Quando South, amigo dela, a reconheceu, ele a levou rapidamente para o hospital.
—— Se não fosse minha mãe, o pessoal dele machucaria outra mulher?
—— Não, Harleen. O South pode ser um homem de 2 metros, mas ele, assim como a Bonten e a Toman, tem um acordo de nunca machucar, matar ou tocar em uma mulher sem permissão, desde que não haja um motivo. — Ele articulava enquanto eu absorvia todas aquelas informações. Ele parou de falar e ficou um pouco pensativo, antes de olhar novamente para mim. — Apesar de ter sido bem embaraçoso, engraçado e desafiador cuidar de uma garotinha para a Bonten e a Toman, conseguimos, com a ajuda da Senhorita Emma, Hina e Yuzuha. Hoje você é grande, forte, saudável e muito linda. É o nosso grande orgulho; todos nós te amamos.
—— Também amo todos vocês, Haru. — Isso é verdade; não ser filha verdadeira de Manjiro ou de algum deles não impediu que eu amasse e criasse laços com eles. — E afinal, o que aconteceu com o tal South Terano?
—— Ele se afastou muito após a morte de sua mãe. Eles eram bastante amigos. Recentemente, ele vem se aproximando bastante, após a Bonten e a Tandai terem um inimigo em comum — ele explicou, um pouco pensativo — mas você o conhece.
—— Conheço? — franzi o cenho, sorrindo um pouco nervosa. South Terano? Nunca ouvi falar desse nome!
Sanzu estava prestes a falar quando os irmãos Haitani se aproximaram com um telefone em mãos, um pouco animados, até demais.
—— Desculpe interromper a conversa de vocês, mas Sanzu, encontrei um lugar incrível, uma boate chamada Mercury. Vamos para lá? Essa ainda não frequentamos. — Ran mostrou uma foto, onde várias mulheres estavam fazendo pole dance, acompanhadas de bebidas e drogas. Já mencionei as mulheres? Ainda não consigo imaginar o Haru, meu motorista e amigo, que é tão gentil comigo, frequentando esses lugares.
—— Com certeza, não é? — ele virou-se para mim com um grande sorriso no rosto. — Podemos continuar nossa conversa depois?
—— Claro, nos vemos em outro dia. — sorri de forma simpática.
—— Tchau, mocinha. — ele pegou minha bochecha e deixou um pequeno beijo em minha testa, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar com aquele contato inesperado. — Cuide-se.
—— T-tchau, Haru! — murmurei envergonhada. — Tchau, Ran e Rindou! Cuidem-se também.
—— Pode deixar. Tchau, chefinha! — responderam em uníssono.
Observei-os se afastarem até desaparecerem pela porta de entrada. Voltei a assistir ao filme, que estava quase no fim. Conversar com Sanzu realmente me fez perder a noção do tempo, mas foi tão bom ter algumas questões esclarecidas.
Aos poucos, os meninos foram se retirando, até que restassem apenas eu, meu pai e o tio Hajime na casa, os dois sentados em outro sofá, conversando. Eu estava deitada sobre o sofá quando meu corpo começou a adormecer, até que finalmente me entreguei ao sono.
— Manjiro percebeu que Harleen não estava tendo surtos com o filme, nem sorrindo sem motivo, e decidiu olhar para ela, vendo-a completamente adormecida sobre o sofá. Ele apontou sutilmente com a cabeça na direção dela, e Hajime seguiu seu olhar.
Manjiro a pegou no colo e caminhou em direção às escadas, subindo lentamente com Hajime ao seu lado, até chegarem ao seu quarto, onde a colocou delicadamente sobre a cama.
—— Não irei contar sobre Terano. Ela está se envolvendo sentimentalmente com ele, mas há algo que está fazendo ela não se entregar, algo dela. Já resolvemos nossos assuntos pendentes, deixe que eles se resolvam, Kokonoi. — Manjiro murmurou, fechando a porta atrás de si.
—— Que ironia do destino, não? — sorriu sutilmente, acompanhando o amigo.
