A campainha tocou, e ao pedir para Lilian — a empregada, detesto usar essa palavra para me referir a ela — ir atender, Hitto Kakucho e Akashi Takeomi vieram até o escritório. Eles dois foram os primeiros a chegarem, e confesso que até então eles eram bem legais.
Principalmente Kakucho, ele é atencioso, gentil com as palavras, sabe manter uma conversa interessante, tem uma postura impecável, é muito educado e extremamente bonito. Takeomi é sério, sabe como se expressar, também é bonito, mas desde que chegou não parou de beber as bebidas da adega. Ah, e ele é irmão de Sanzu.
Eu estava usando uma camisa de meu pai sem estampa e um short por baixo. Se eu me importava? Não, até eles estavam vestindo roupas casuais. No começo, pensei que seria um jantar de negócios, algo do tipo, mas agora vejo que é algo entre amigos.
—— Vou pegar meu celular lá no quarto — levanto-me do sofá depois de deixar um beijo na bochecha de meu pai. — Não demoro!
—— Hm. — saio da sala fechando a porta bem devagar.
Estava subindo as escadas quando a porta de entrada se abriu e me virei para ver quem era; eram os Haitanis. Continuei subindo até chegar no corredor e caminhar em direção ao meu quarto. Ao abrir a porta, ouvi um barulho vindo de dentro do quarto do meu pai, então decidi ir até lá. Ao entrar, avistei dentro do closet outra empregada, Mito, junto com alguns cacos de vidro ao lado de uma caixa no chão. Rapidamente me aproximei dela.
—— Me desculpe, minha senhora, não foi minha intenção! — notei seu corpo trêmulo e senti meu coração apertar. Observei seus dedos com alguns cortes e resquícios de sangue saindo.
—— Olha, está tudo bem, não se preocupe. Agora vá fazer um curativo nesses cortes, eu limpo tudo aqui — disse, pegando os cacos e a pazinha de sua mão.
—— Não! Você precisa ir se arrumar para o jantar, senhorita. — ela disse, desesperada.
—— Eu já disse que pode ir. — Dou uma piscadela para ela, e ela sai às pressas do closet.
Coloquei os cacos no saco de lixo; tudo indicava que antes aquilo era um quadro de fotos, mas até onde eu me recordo não tinha nenhum quadro aqui no closet. Pego a caixa para colocar no lugar quando algo ali dentro chama minha atenção, e, como uma boa curiosa, me sento no chão retirando as coisas de dentro. Tinha brinquedos, fotos, muitas fotos do meu pai mais novo com nossa família, a tia Emma com o Ryuki e a zoe, e uma no meio da rua com meu pai sentado bem na frente com uma bandeira com um desenho budista e logo atrás dele, o tio Ken, tio Mitsuya e os demais que eu vejo raramente.
—— Essa é a... Mamãe? — murmurei, olhando fixamente para a mulher de rosto jovial, um sorriso magnífico nos lábios, com as mãos sobre a barriga, mas não parecia grávida. Ao lado dela estava meu pai, e do outro lado um homem lindo, pele escura, olhos violetas... mas aquilo estava estranho, ele estava tão... Íntimo dela.
Ele sorria olhando para ela, e era recíproco. Folheei o álbum, admirando outras fotos, entre elas estava o Hajime que eu não vejo há dias. Ele estava em uma pose engraçada como se estivesse discutindo com Izana... E bem abaixo tinha algo escrito:
"Kokonoi não aceita que eles agora são cunhados."
O papai e o Kokonoi, né?
Quem eu quero enganar? Era só ligar os fatos, e também tem aquela pergunta estranha que meu pai fez. Peguei a foto de Izana e minha mãe, e caminhei em passos largos até o espelho. Posicionei as duas fotos perto do meu rosto, e com um nó preso na garganta, eu notei a semelhança. Meus olhos violetas que tanto quis esconder se parecia com o dele.
A porta do quarto bateu e eu corro para perto da caixa, tropeçando entre meus pés, guardando tudo com urgência. Assim que coloquei a caixa no alto, meu pai apareceu e me encarou desconfiado.
—— O que estava fazendo? — cruzou os braços e encostou-se de lado no batente da porta.
—— Juntando uns cacos de vidro, desculpa pai, mas acabei por quebrar um quadro. — murmurei.
—— Tudo bem, vamos? O pessoal está todo lá embaixo. — estendeu a mão na minha direção.
Encarei a mesma antes de tocá-la e me aproximar, colocando o melhor sorriso no meu rosto — vamos. — respondi.
Descemos para o andar de baixo, onde todos estavam espalhados pela sala conversando. A cozinheira avisou que o jantar estava quase pronto, então tínhamos algum tempo para conversar. Afastei-me de meu pai e fui em direção a Sanzu, que estava em pé conversando com Kakucho.
—— Olá, mocinha... — ele se assustou quando passei os braços em sua cintura, abraçando-o. Logo os pensamentos chatos se afastaram. Acontece que acabei me apegando a ele... — Está tudo bem?
—— Está sim, eu só estava com saudade, mesmo que tenhamos nos visto há umas duas horas. — ele passou a mão direita em volta da minha cintura, enquanto a livre ele usou para acariciar meu rosto. Olhei para Kakucho, que me encarava como se estivesse a me admirar. — Você conheceu...
—— Senhores, o jantar está pronto! — a cozinheira entrou na sala e avisou, e logo se retirou.
—— O que ia me perguntar? — Kakucho perguntou.
—— Apenas se você também conhece meu pai desde a infância. — menti.
Meu pai se aproximou com os outros, chamando-nos para prosseguir com o jantar, e assim o seguimos. Em nenhum momento Sanzu deixou de me abraçar, nem eu pensei em soltá-lo até chegarmos na cozinha. Não sei se ele percebeu se tinha algo errado, mas me senti mais calma perto dele.
Assim que nos sentamos à mesa, fiquei entre Sanzu e meu pai, e em frente a Hajime. Sua aparência lembrava muito a da minha mãe, e a cada segundo ali, sentia vontade de chorar.
—— Está tudo bem, Harleen? — ouço meu pai sussurrar. — estou te achando muito tristonha.
—— Está sim, só estou um pouco pensativa. — ele acenou com a cabeça, e vejo a cozinheira colocar a comida na mesa.
Eu só preciso manter as aparências até o fim desse jantar.
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🃏𝗔 𝗗𝗘𝗔𝗗𝗟𝗬 𝗣𝗨𝗥𝗜𝗧𝗬; 𝗦𝗼𝘂𝘁𝗵 𝗧𝗲𝗿𝗮𝗻𝗼
Fanfic"Apenas um perverso das três divindades apaixonado por alguém tão inocente ao ponto de incomodá-lo"