17 • Culpa

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Siyeon POV

- Minji, o que aconteceu? - pergunto rapidamente assim que entro no carro.

Ela chegou no prédio de Bora em torno de três minutos após a ligação, o tempo que levamos para pegar nossos casacos e descer para o térreo. Assim que a ouvi no telefone, algo que não sentia há muito tempo cresceu em mim: ódio. Antes disso apenas irritações e raiva, apenas senti isso com Seungyeon. Tinha certeza de que meu pai encostou na minha mãe e isso me fez querer matá-lo. Ouço Minji respirar fundo e fechar as janelas, ligando o ar-condicionado.

- Não sei exatamente o que houve, mas ela me ligou falando que não conseguiu ligar para você. Nós duas estamos na lista de contatos de emergência dela. - ela diz suavemente. Ela respira fundo novamente antes de dirigir em direção ao hospital. - Pelo que parece, os dois tiveram uma briga feia, pois ele queria beber e se drogar, mas ela não deixou. Então... - a vejo apertar o volante e hesitar em continuar.

- Diga, Minji. - peço firmemente.

- Então ele foi na cozinha e pegou uma faca. Ele a esfaqueou, Siyeon. Assim que aconteceu, ela aproveitou que ele percebeu o que fez e foi para a sala, desesperado. Ela pegou o celular e me ligou, depois liguei para a emergência. A polícia o prendeu em flagrante já que estava com a faca na mão, e a ambulância a levou para o hospital.

Assim que ela termina de falar, eu me sinto gelar. Meu peito aperta como nunca havia apertado antes. Meu coração se quebra em pedaços e minha mente se bagunça. Por que isso está acontecendo comigo? Minha mãe acaba de voltar por minha causa e é esfaqueada pelo meu pai? Eu não consigo acreditar no que está acontecendo. Isso me deixa sem chão. Assim que sinto Bora deixando sua mão em meu braço, percebo que estava tremendo muito e já estávamos no estacionamento do hospital.

Saio do carro antes delas e ando em passos apressados para a entrada do local. Ouço duas portas abrirem e fecharem seguidas do alarme se acionando, indicando que elas haviam saído também. Assim que entro no estabelecimento, vou em direção à recepção.

- Lee Seunghee, onde ela está? Ainda está em cirurgia? - digo rapidamente para a recepcionista.

- Lee Seunghee... sim, senhorita. Ainda está em cirurgia. Assim que sair, te avisarão. A senhorita é familiar? - ela diz calmamente e me olha. Consigo ver compreensão e atenção em seu olhar.

- Sim, sou filha dela. Lee Siyeon. - a vejo digitar algo em seu computador.

- Perfeito. Está registrada, senhorita Lee. Tem passe livre para visitá-la das nove horas da manhã às nove da noite. - assim que iria me virar para sentar, ela se levanta e segura meu pulso. - Vai dar tudo certo, tenha fé. - analiso seu rosto e sinto leve familiaridade. Eu a conheço de algum lugar. Ela solta meu pulso e da um leve sorriso.

- Siyeon, eu... - ouço Bora parando do meu lado. Ali percebi o que estava acontecendo. - Amor, vamos esperar sentadas. - ela diz e olha para a recepcionista, me puxando para uma das cadeiras logo depois. Bora estava com ciúmes.

- Relaxa, princesa. Eu sou sua. - digo e deito minha cabeça em seu ombro após sentar-se ao meu lado. A ouço suspirar e ela faz um leve carinho em minha cabeça. Assim que iria falar algo, vejo uma médica que conheço muito bem chegar na sala de espera.

- Lee Siyeon? - me levanto e vou em direção à ela.

- O que houve, doutora Karina?

- Sua mãe está sendo transferida para uma sala de recuperação. Deu tudo certo. - ela sorri e aperta meu braço de leve, me confortando. Eu suspiro em alívio e sinto lágrimas correrem em meu rosto.

[...]

- Fica parada, mãe. Você não pode ficar se mexendo. - a seguro pelos ombros até que estivesse completamente encostada na cama do hospital novamente.

- Eu estou bem, Siyeon. Pode ir pra casa, não se preocupe. - ela responde segurando uma de minhas mãos.

- Não vou embora até o horário de visitas acabar. - a solto e me sento na poltrona ao seu lado e suspiro. - Mãe... me perdoa. Eu deveria estar lá, isso não teria acontecido. - digo com minha voz falando levemente.

- Ou aconteceria com nós duas e seria pior. - ela me olha e lança um sorriso fraco. - Não se preocupe, lobinha. O que importa é que você está bem e ele não está aqui.

- Recebi uma ligação da delegacia antes de vir para o quarto. Eles querem os depoimentos e que alguém vá buscar as coisas dele.

- Não se preocupe. Eu cuido disso quando sair daqui, okay? Vá pra casa com aquela sua linda namorada e descanse, dê um tempo pra você mesma. Essa briga é minha e do seu pai, não compre-a. - ela diz calmamente. Sinto um nó se formar em minha garganta e me permito chorar. Ela segura meu rosto com uma das mãos.

- Eu 'tô tão exausta, mãe... - digo com certa dificuldade. - Problema em casa, na faculdade... não sinto que tenho paz e, quando tenho, minha cabeça não permite. Tudo que consigo pensar é como será quando encarar esses problemas novamente e começo a ter crises. Estou tendo menos do que antes e acho que sei o porquê. Bora está me ajudando muito com tudo e não sei nem como a agradecer. - digo limpando minhas lágrimas e sorrindo. - Não mereço alguém como ela.

- Quer agradecê-la? Fique com ela. A faça feliz, sei que consegue. Você é incrível, lobinha. Merece alguém como ela mais do que ninguém, assim como ela merece alguém como você. Ambas têm muita sorte. Ah, e é bom você casar com ela, senão te obrigo a fazer isso. - ela diz, me fazendo rir. Ouço batidas na porta e rapidamente termino de limpar minhas lágrimas.

- Desculpe-me atrapalhar, mas o horário de visitas terminou, Siyeon. - a doutora Karina avisou na porta junto com Minjeong.

- Obrigada, Karina. Fica com ela, okay? - digo me levantando e dou um beijo em sua testa. - Eu vou casar com ela, mãe. - vou em direção à porta e sou abraçada por ambas.

- Se cuida, Siyeon. Pode deixar com a gente. Nos vemos em breve. - Minjeong diz e eu me despeço.

Antes de entrar no quarto, pedi para que Minji deixasse Bora em casa e disse que voltaria sozinha, já que não é longe. Passei diretamente pela recepção e vi de relance aquela mulher se levantar para falar algo, mas resolvi ignorar. Já havia deixado Bora desconfortável. Saio do hospital e vou caminhando em direção ao prédio.

Assim que chego, o porteiro me reconhece e libera minha entrada, então o desejo boa noite e me dirijo ao elevador. Subo até seu andar e vou em direção ao apartamento. Abro a porta já que Bora avisou que a deixaria aberta e a encontro na sala, sentada no sofá. Tranco a porta e ela me avista.

- Eu fiz o jantar. Vamos comer, está há muito tempo sem comer. - ela diz e se levanta, vindo em minha direção.

Quando olho em seus olhos, lembro do que havia conversado com a minha mãe. Ela aprova Bora e tudo que ela falou é verdade. Eu tenho sorte, ela é a pessoa certa, ela nunca saiu do meu lado. Aproveito sua aproximação e a puxo pela cintura, a beijando de forma intensa e fazendo questão de transmitir todos os meus sentimentos. Nos separamos assim que o ar fez falta.

- Uau... o que houve? - ela pergunta ofegante e nós rimos.

- Namora comigo? - faço o pedido e ela olha em meus olhos, sorrindo.

- É sério? - assinto com a cabeça. - É claro que sim, bobinha.

Sorrimos e nos beijamos novamente. Kim Bora é minha namorada.

Shadow • SuayeonOnde histórias criam vida. Descubra agora