25 • Perdão

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Foi estranho o tanto que me senti confortável para me abrir e compartilhar meu passado com Seunghee. Além de parecer o certo, sinto algo diferente entre nós, uma conexão que não tive nem com a minha mãe. Tudo bem, ela era incrível comigo, mas não conseguia me abrir assim principalmente por esconder quem eu sou.

Naquele mês, tudo aconteceu muito rápido. Eu me assumi, eles me julgaram, me chamaram de pecadora e que iria para o inferno, depois fizeram minhas malas e me levaram até o antigo prédio da minha tia, já que tinham o apartamento dela. Me deram as chaves e me mandaram dinheiro, tudo isso em silêncio. Dentro do carro. Foi aterrorizante e me deixou com muita, mas muita raiva deles. Hoje é só... triste.

- Meu bem... sinto muito por ter passado por isso. - minha sogra diz e me abraça. Estou sentada entre elas no sofá da sala. - Infelizmente nem todos conseguem aceitar que isso é natural e que pode acontecer com qualquer pessoa. - ela nos separa e seca minhas lágrimas com sua mão. - Quando Siyeon se assumiu para nós, o pai dela não aceitou nada bem, mas eu me mantive calada para evitar agressões. Depois, fui conversar com ela em seu quarto e disse que estava tudo bem. Desde que ela esteja com alguém que a faça feliz, está tudo bem. E vejo que você a faz muito feliz, Bora. - ela sorri e eu a acompanho.

- E-eu tento. Realmente espero ser o suficiente para a sua filha. - digo e abaixo a cabeça, tímida.

Sinto Siyeon se levantar do sofá e se distanciar por alguns momentos. Ela abre algumas gavetas e pega algo em uma delas. Depois, ela se abaixa ao meu lado e noto uma caixinha preta de veludo em suas mãos. Meu coração acelera.

- Siyeon, o que...

- Eu queria te entregar isso há um tempo, mas nunca pareceu o momento propício pra isso. Mas agora, ouvindo você dizer que espera ser o suficiente pra mim... - ela suspira e abre a caixinha. Duas alianças de prata com frequências cardíacas desenhadas e uma nota musical ao meio, uma maior e uma menor. - Você é muito mais do que suficiente, Bora. Você me faz feliz de maneiras que nunca achei que iria. Você mudou completamente minha visão de relacionamento e como deveria ser, além de me mostrar que mereço muito mais do que tive no passado. - ela pega minha mão e a beija, delicadamente. - Eu te amo, Kim Bora.

- Eu também te amo, Lee Siyeon. - sorrio e sinto mais lágrimas molharem meu rosto. Mas, dessa vez, eram de felicidade.

Ela pega o anel menor e segura minha mão direita, o colocando em meu anelar. Pego o anel maior, seguro sua mão direita e também o coloco no anelar, dando um beijo em sua mão em seguida.

- Okay, isso tudo foi lindo, mas vocês estão atrasadas e Minji logo estará aqui. - Seunghee diz nos arrancando risadas.

Siyeon seca minhas lágrimas e logo nos levantamos para nos trocarmos e pegarmos nossas coisas no andar de cima. Conseguimos nos arrumar em cinco minutos e descemos, já que Minji estava na frente da casa. Nos despedimos da minha sogra e fomos em direção ao carro, entrando.

- 'Tá tudo bem, Bora? - Yoohyeon pergunta olhando pelo retrovisor de dentro.

- Eu esqueci de lavar o rosto, droga... - digo olhando para Siyeon, que me lançou um olhar de confiança.

- O que houve? - Minji pergunta e todas se viram para olhar para nós.

Eu e Siyeon, quando estávamos nos arrumando, combinamos de fazer uma coisa. Nós iríamos brincar com elas um pouco, mas depois contar a verdade. Por isso não lavei o rosto. Foi de propósito.

- Nós conversamos agora e... resolvemos terminar. - Siyeon diz e até eu fico convencida. Essa mulher é boa em tudo mesmo, né?

- O que? Como assim? - Gahyeon exclamou. Ela estava na minha frente, então fiquei um pouco surda.

- Tem muita coisa acontecendo. Ela indo pra gravadora, cuidando da mãe... não vai ter tempo sobrando. - digo, entrando na conversa. Fico espantada comigo mesma com minhas habilidades de atuação.

Suspiro e olho para baixo, mexendo em minhas mãos. Elas se olham por alguns momentos, até que resolvo olhar para Siyeon. Péssima escolha. Segundos depois, começamos a rir muito. Vejo suas caras de alívio e de irritação ao entender que era uma brincadeira.

- Vocês são duas idiotas. Se merecem mesmo. - Minji diz, mas ri depois.

- Estamos brincando, gente. - digo e sorrio. - Na verdade, foi o contrário. - levanto minha mão, mostrando a nova aliança. - Ficamos ainda mais sérias pelo jeito.

- Finalmente, Lee Siyeon! Não aguentava mais segurar isso! - Yoohyeon exclama.

- Espera, você sabia? E eu não? Como assim? - Minji diz e Yubin concorda.

- Eu precisava saber o tamanho dela, gente. Só isso. - Siyeon afirma, nos fazendo rir.

[...]

Estamos todos no intervalo mais uma vez, comendo e conversando sobre nossas vidas. Parece que conhecendo os nojentos, minha raiva por eles diminui muito. E diminuiu rapidamente, pois estava o intervalo todo rindo com Sorn. Mas nossa paz acabou momentos depois ao sentir duas pessoas se aproximando.

- Olhe só, é o grupo dos perdedores. - uma voz masculina já conhecida por nós soa atrás de mim. Me viro e vejo Vernon com suas mãos no bolso olhando para mim. Assim que seu olhar cai sobre mim, ele abre a boca novamente. - Está ainda mais gata hoje, Bora. Se eu te pegasse, você nunca mais ia andar com esses aí. Ia ficar viciada em mim.

Assim que ele termina de falar e começa a se aproximar, Siyeon se levanta rapidamente e fica em sua frente, o encarando mortalmente. Ele parece ter entendido o recado e riu debochado, mas deu alguns passos de distância. Eu me levanto e seguro sua mão, tentando a acalmar.

- Se você é homem, você vai repetir essa merda pra mim agora. - ela se aproxima mais dele. - Fala assim da minha namorada na minha frente, Vernon? Eu sabia que era nojento, mas não a esse nível. - quando ia falar algo para tentar acalmá-la, vejo uma mão no peito dele, o empurrando para longe.

- Não é pra isso que viemos, Vernon. Pare já com isso. - Seungyeon diz e se vira para Siyeon logo depois. - Nós... podemos conversar? Nós três. - ela pergunta e também me olha. Ela quer conversar comigo junto? O que está acontecendo?

- Podemos. - minha namorada aperta minha mão após aceitar.

Seungyeon se vira e vai em direção à saída, nos levando para um local menos agitado. Assim que a seguimos, Siyeon fez questão de esbarrar em Vernon, que parecia espantado com algo e ficou no lugar, sem ir conosco. Ignorei isso e segui com elas até a parte de fora da universidade, na árvore mais conhecida entre nós. Ela para um pouco antes e se vira.

- Eu gostaria... de me desculpar. Novamente. Mas, dessa vez, é sério. - ela diz nos olhando e mexendo nas mãos. Parecia nervosa.

- C-como assim? - minha namorada pergunta.

- Eu fiz merda com vocês. Principalmente com você, Siyeon. Eu fui uma merda com vocês sem terem feito nada. Não precisam me desculpar, eu entendo, fiz muito mal à vocês. Mas saibam que realmente me arrependo e gostaria de pedir desculpa. Na verdade, não desculpa, mas sim perdão. Perdão por todas as vezes que as deixei mal. - ela diz e suspira. Vejo lágrimas se formando em seus olhos e, dentro deles, vejo um verdadeiro sentimento de arrependimento.

- O que aconteceu? - pergunto para ela.

- E-eu... conversei com Yujin. Parece que essa conversa abriu meus olhos e mudou minha cabeça de várias formas. Então perdão. Perdão, Siyeon. Perdão por ter te traído, te manipulado, te colocado em último lugar e priorizado minha popularidade. Fico feliz que encontrou alguém que te trate tão bem e que te defenda de tudo como Bora. Espero que sejam muito felizes, vocês merecem. - ela sorri e lágrimas escorrem de seus olhos.

Nesse momento, olho para Siyeon para ter certeza de que estava bem. Ela estava chorando junto com Seungyeon. Vendo essa cena, sinto algo estranho, como felicidade e tristeza ao mesmo tempo, ruim e bom. Meus olhos se enchem de lágrimas e também acabo chorando com elas.

Essa foi a primeira conversa genuína que tive com Seungyeon e que, com certeza, vai me marcar para o resto da vida.

Shadow • SuayeonOnde histórias criam vida. Descubra agora