21 • Julgamento

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Bora POV

Apesar dos recentes acontecimentos, estava tudo perfeito. Nos aproximamos mais do outro grupo, mas sem afetar o nosso. A mãe de Siyeon ganhou alta do hospital e foi para um apartamento perto da faculdade, então seria fácil de visitar. Mas, como gay não tem paz, não ficaria assim por muito tempo. Hoje é o julgamento do pai da minha namorada, que estava extremamente nervosa em pisar no local, já que também teria que depor.

- Amor, relaxa. Vai dar tudo certo. - digo fazendo um leve carinho em seu braço. - Estamos todos aqui com você, tente ao máximo manter a calma, okay?

- Eu vou tentar. - ela responde e suspira. A vejo olhar para todos e sorrir. - Obrigada por virem. Até mesmo vocês. - diz olhando para nossos novos amigos.

Eles pareciam bem dispostos a fazer a aproximação acontecer. Descobrimos que Yeeun e Dino são coreanos, mas Sorn é tailandesa e Elkie é de Hong Kong, o que deixou Handong feliz. Também percebi uma inquietação entre Gahyeon e Yubin em relação a essa aproximação, mas preferi não me meter.

- O julgamento vai começar. Vamos lá. - Seunghee diz, aparecendo na sala de espera. Ela se aproxima de Siyeon e segura seus braços. - Respira fundo. Nós conseguimos fazer isso, lobinha. - ela sorri e a puxa para um abraço curto. Elas se separam e entramos.

[...]

Chegou a vez de Siyeon depor. Já foi a vez de sua mãe, na qual me senti extremamente mal. Como pode um marido estuprar sua própria esposa? Se não declararem esse cara culpado, minha fé na humanidade acaba agora.

- Qual é o seu nome? - o advogado dela pergunta.

- Lee Siyeon.

- Qual é sua relação com o senhor Lee Youngsik, acusado de múltiplos abusos? - ele pergunta gesticulando com a mão, a olhando.

- Ele é meu pai. - ela responde, simples.

- Poderia nos contar sobre sua experiência com essas acusações? - ele alterna seu olhar entre ela e a Juíza.

- Quando minha mãe saiu de casa, as agressões começaram em menos de dois meses. Ele sempre falava que eu pareço muito com minha mãe e que eu era uma inútil. A maioria das vezes bêbado. - ela diz e respira fundo. - Ele começou com breves apertos em meus braços, depois com tapas e as mais pesadas se iniciaram em janeiro desse ano. - ela diz e eu sinto um nó se formar em minha garganta. Estava triste, magoada e com raiva. Muita raiva.

- Há cerca de um mês atrás, você deu entrada no hospital. O que houve? - após ouvir a pergunta, ela suspira e olha para nós. Assinto com a cabeça como um apoio silencioso, assim como Minji. Ela se vira novamente para frente e começa a falar.

- Ao contrário do que minhas amigas pensam, não foi um acidente. - ela suspira antes de continuar. Ouço sussurros ao meu lado.

- Ordem! - a Juíza diz, batendo seu martelo. Nosso grupo se cala após isso. - Prossiga.

- Assim que cheguei da faculdade naquele dia, resolvi ir para a cozinha, já que estava com fome. Quando havia decidido o que preparar, escutei a porta se abrindo e fechando. Ele estava em casa mais cedo, já que geralmente só volta no fim da tarde ou de madrugada. Ele é recém desempregado, então usava seu FGTS para pagar as contas e depois gastar tudo em bebida.

- Protesto! - o advogado dele levanta. - Ela está fugindo da pergunta principal.

- Protesto negado. Essas informações são importantes para o caso. - a Juíza diz, deixando o advogado frustrado. - Prossiga, senhorita Lee.

- Ele entrou na cozinha e começou com o mesmo de sempre. Falou que sou inútil por não ter arrumado a casa e suas coisas. Então ele quebrou a garrafa que segurava em suas mãos no balcão, depois apontando para mim, fazendo menção de me cortar. Ele não me cortou, mas me socou na costela e me jogou no chão, em cima dos cacos de vidro. Estava com múltiplos hematomas por alguns apertos que me deu e quando me empurrou contra o balcão, mais o soco e os pequenos cortes causados pelo vidro. - ela termina e sinto meu rosto molhado. Olho para os lados e vejo que o grupo inteiro estava igual, até mesmo Yubin, que nunca chora.

- Isso é tudo. - Seu advogado diz e se senta, dando espaço para o outro.

- Senhorita Lee Siyeon. - ele arruma seu terno e fica na frente dela. - A senhorita disse que seus amigos pensam que isso foi um acidente, correto? - ela assente com a cabeça. - Por que não contou a verdade para eles? E acha mesmo que um pai faria isso com sua filha? O sonho do senhor Lee sempre foi ser pai, certo? Então acho que algo está errado aqui. - o nojento conclui, com um sorriso convencido no rosto.

- Não os contei a verdade pois não queria preocupá-los, mas minhas melhores amigas e minha namorada souberam de tudo após o ocorrido. Elas sempre foram minhas maiores parceiras, me ajudam em tudo. E sim, eu tenho certeza de que um pai faria isso com uma filha. Tantos outros casos de abusos e violência doméstica já denunciados e resolvidos, não acho que o senhor nasceu ontem para não saber disso. O problema real é a ignorância da sociedade. Muitos tratam casos de violência e abusos como uma frescura, principalmente estupro. A justiça nunca é feita, mas os casos são reais. Para estar aqui, tive que pensar muito, pois achava que não daria em nada. Estou expondo partes de mim extremamente sensíveis, que me fazem muito mal. Então sim, eu acho sim que seja possível e é, pois senti na pele. - ela finaliza e respira fundo. Sorrio orgulhosa quando vi o advogado vacilar.

- I-isso é tudo. - ele diz com um tom derrotado e foi se sentar, o que fez meu sorriso aumentar.

[...]

Retornamos do pequeno intervalo que a Juíza estabeleceu antes do resultado. Estava confiante, já que minha namorada demonstrou toda a sua inteligência em seu último depoimento. Realmente poderíamos ganhar isso. Nos sentamos atrás de Seunghee e Siyeon, que estavam na mesa junto com o advogado.

- Os jurados já tomaram suas decisões. Sendo uma decisão unânime, o senhor Lee Youngsik é declarado... - ela diz e nessa hora o tempo para. Meu coração dispara com o nervosismo em relação ao resultado, principalmente sendo unânime. - ... culpado pelos crimes de estupro e violência doméstica, sendo física e psicológica. A sentença será de quinze anos de prisão.

Nós... ganhamos. Realmente ganhamos. Vejo Siyeon se levantar rapidamente junto com sua mãe, a abraçando. Ambas estavam chorando. Observo os policiais algemando Youngsik e ele grita algumas coisas, como "isso não vai ficar assim" e "quando eu sair vocês vão ver". Ainda nos ameaça na frente da Juíza.

[...]

- Então, vocês vão morar aqui? - Gahyeon pergunta para elas.

- Vamos sim. A casa sempre esteve em meu nome, então isso facilita muito. Consegui um emprego na área de advocacia com os pais de Minji. Serei uma das advogadas da empresa. - Seunghee diz e sorri para Minji, que sorri de volta.

- Seja bem-vinda a equipe, tia Seung. Vai ser ótimo ter você.

- Obrigada. - ela assente com a cabeça.

- Vamos reformar a casa aos poucos, deixar do nosso jeito. Temos todo o tempo para fazer isso. - minha namorada diz com um lindo sorriso no rosto, que não havia visto antes. Ela parecia mais leve, mais tranquila, com menos preocupações.

Depois de algum tempo, ela finalmente estava feliz.

Shadow • SuayeonOnde histórias criam vida. Descubra agora