Maybe it' love || Carlos Sainz

gentleman

Elouise González Vasseur.
GP da Grã-Bretanha.
📍Silverstone.

Mais de um mês se passou desde aquele beijo, e, desde então, tenho tentado colocar essa situação para trás. Segui em frente, afastando-me o máximo possível de Carlos. Contudo, minha carreira como jornalista esportiva inevitavelmente me mantém próxima dele, já que frequentemente somos colocados juntos em entrevistas em salas isoladas, sob a presença de câmeras por todo lado.

Preparar-se para uma entrevista de qualidade implica em um extenso "dever de casa", que inclui pesquisar sobre eventos recentes e revisar entrevistas anteriores do piloto em questão. Embora eu prefira evitar qualquer informação sobre Carlos e sua vida pessoal, minha profissão exige que eu esteja atualizada sobre suas aparições públicas.

Durante a última entrevista que assisti dele, o entrevistador perguntou qual corrida desse ano foi a mais marcante para ele. Carlos, sem hesitar, mencionou o Grande Prêmio de Mônaco. Intrigado, o jornalista questionou o porquê dessa escolha, considerando que os pilotos geralmente citam suas home race. Carlos explicou que não era tanto pela corrida em si, mas pelos eventos que ocorreram antes e depois, que mudaram sua percepção sobre muitas coisas e trouxeram sentimentos intensos.

Pode ser apenas ilusão minha, mas uma parte de mim suspeita que ele possa estar se referindo ao dia em que Liv e Charles nos convidaram para ser padrinhos de seu casamento, e, talvez mais significativamente, ao nosso beijo. A razão me diz que ele provavelmente se refere a algo completamente diferente, e que aquele momento pode nem mesmo estar em sua memória, mas para mim, aquele beijo significou mais do que palavras podem expressar.

É estranho como algumas memórias podem permanecer vivas em nossa mente, ressurgindo com a menor provocação, e como outras podem ser deixadas para trás. No entanto, a entrevista recente de Carlos me fez questionar quão profundamente certos eventos realmente ficam gravados em nós.

Apesar de estar decidida a seguir em frente e manter minha vida pessoal e profissional estritamente separadas, essas palavras dele, involuntariamente, me fizeram revisitar aquele dia em Mônaco. Não importa o quanto eu tente esquecer, ou quão insignificante eu diga a mim mesma que aquele momento foi, parece que ele continua a ecoar em alguma parte de mim que não consigo calar.

E agora, aqui estou eu, novamente em uma sala de conferência, preparando-me para entrevistá-lo antes do próximo GP. Minha mesa está repleta de notas e pesquisas, meu laptop aberto com a entrevista dele ainda na tela, como se eu esperasse que, ao assistir novamente, ele revelasse algo que eu perdi antes, algum sinal de que ele também sentiu que aquele momento foi mais do que um deslize passageiro.

Enquanto organizo meus pensamentos e materiais, percebo quão incoerente é essa situação. Por um lado, estou aqui como uma profissional, pronta para fazer meu trabalho com a competência de sempre. Por outro, há essa parte de mim que deseja entender o significado por trás das palavras de Carlos, essa parte que quer saber se, de alguma maneira, aquele momento em Mônaco foi tão significativo para ele quanto foi para mim.

A porta se abre, e ele entra, acompanhado de seu assessor. Sua presença muda a energia da sala imediatamente. Ele me cumprimenta com um aceno, seu olhar um pouco mais demorado do que o necessário, talvez tentando decifrar o que passa pela minha mente. Respiro fundo, recordando a mim mesma de minha promessa de manter as coisas profissionais, independentemente das marcas que nossos encontros passados deixaram.

— Bom dia, Carlos. Obrigada por estar aqui. — Digo, iniciando a entrevista. Meu coração bate um pouco mais rápido, mas minha voz permanece calma e minha mão firme ao segurar as anotações.

— Bom dia, Elouise. É sempre um prazer. — Ele responde, com um sorriso que, de alguma forma, parece carregar mais do que cortesia profissional.

A entrevista começa, e com cada pergunta e resposta, encontro-me analisando cada palavra, cada pausa, tentando descobrir o que está escondido nas entrelinhas.