Coisas estranhas

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Capítulo Vinte e Oito

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       A sensação é como se o tempo tivesse retrocedido, jogando-me de volta àqueles dias turbulentos que preferia esquecer. Minha mãe, em sua ânsia por uma nova vida, nos arrastou para um novo casamento três anos depois do meu pai nos deixar. Vicent era mais velho e um homem cuja aversão por crianças era palpável. Desde o início, nossa relação foi marcada por tensão, como se ele tivesse ressentimento por nossa presença em sua vida.

E então havia Damien, seu filho, um garoto sombrio e perturbador. Desde o primeiro momento, sua presença trouxe uma aura de inquietação à casa toda vez que ia nos visitar nos finais de semana. Ele não era apenas um menino problemático; era um tormento ambulante. Lembro-me das brincadeiras cruéis, dos passarinhos mortos e da violência desmedida que ele infligia aos objetos ao seu redor. Mas nada se comparava ao dia em que ele tentou me afogar na piscina, movido pela inveja mesquinha do meu talento para nadar.

Aquela quase tragédia desencadeou uma tempestade de confrontos entre minha mãe e Vincent. Ela, sempre cega para os defeitos dele, insistia em manter a fachada de uma família feliz, enquanto ele, distante e indiferente, concordava apenas para manter as aparências.

No desfecho doloroso, Elodie proibiu veementemente que Damien voltasse a cruzar o limiar da casa. Sua determinação era firme: não desejava mais a presença do garoto perto de mim, alegando que representava um risco para minha segurança ou, no mínimo, uma má influência. Vincent, por sua vez, não ousou defender o filho. Além de evitar qualquer conflito com minha mãe, nunca demonstrou interesse em assumir um papel paterno verdadeiro para com o menino. Sempre o deixou à própria sorte, sem se importar com os rumos que sua vida poderia tomar. A verdade crua é que Vincent nunca soube lidar com a responsabilidade de cuidar de crianças, seja Damien ou eu.

Pelos relatos escassos que me chegaram, parece que Damien também enfrentou negligência por parte de sua mãe, que raramente estava em casa. Quando ele acabou voltando a ficar sob os cuidados dela, não consigo nem ao menos imaginar como foi o restante de sua adolescência. O vazio deixado pela ausência materna, somado à falta de orientação e apoio paterno, provavelmente lançou Damien em um labirinto de desafios e incertezas durante os anos cruciais de sua formação.

E agora, anos depois, ele está aqui diante de mim, ocupando o sofá da minha sala com um olhar sínico, como se o tempo não tivesse passado e seus erros não tivessem sido graves. Mais velho, mais alto, sua presença irradia uma aura de insolência ainda mais marcante, uma ousadia que parece ter crescido com ele. Observo-o atentamente, notando cada traço alterado pelo passar dos anos, cada sombra de estranheza que parece envolvê-lo como um manto. Ele está aqui, desconhecido e familiar ao mesmo tempo, um enigma que desafia a lógica do tempo e da memória.

- Sentiu minha falta, maninha? - ele indaga, e sinto meu estômago revirar. Sempre odiei quando as pessoas nos referiam como irmãos, isso sempre me causou uma repulsa visceral. Damien e eu não compartilhamos o mesmo sangue, não somos próximos, muito menos amigos. Definitivamente, não somos irmãos, e só de ouvir isso, sinto vontade de vomitar.

- O que tá fazendo aqui? - questiono ignorando completamente a indagação absurda dele. Não, definitivamente não sinto sua falta Damien Park.

- Vim visitar minha família! Faz tanto tempo que não os vejo, senti saudades - ele profere de uma maneira tão falsa que me dá vontade de pular pela janela.

- Conta outra! - murmuro, revirando os olhos. Não acredito em meia palavra do que esse rapaz diz.

No mesmo momento, Yoná entra pela porta da frente com um grande sorriso, disposta a me contar tudo o que a agência disse no telefone. Mas assim que nota a presença de Damien na sala, sua expressão muda para confusão.

O destino em meus olhos - Choi Beomgyu (TXT)Onde histórias criam vida. Descubra agora