diamante negro

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poderíamos ter ido ver a praia,
pintar paredes juntos no sul
de alguma fazenda,
eu poderia observar você tentar pegar uma onda em Salvador,
poderíamos sentar olhando o sol se pôr, e por algum momento, aquele calor passaria de mim
a você

poderíamos ir ao pelourinho,
poderíamos ter tido uma foto nossa que só abririamos
quando um de nós tivesse
partido
ou pior, por um longo sentimento de ódio
numa certa data,
não importa o que aconteça
ou onde estivesse
você abriria, sem mais aquela vontade de me matar
somente a lembrança que éramos jovens
e tudo isso passou
como tudo isso passa
e não importa.

poderíamos ter cruzado
a América do Sul
numa Van,
parar numa gruta
e chorar
porque Deus fez tudo como fez
e ele entende o silêncio
o silêncio do lindo
do rejeitado
do abandonado
do ferido
do esquecido
como quem dissesse "minhas crianças, minhas crianças... quanto tempo vocês perdem"

logo mais estaríamos na parte gelada da patagônia
vendo que a vida nasce e morre todo dia
e que não fizemos mais do que
perder tempo. e tudo bem.

o homem que trocou todos seus poemas por amorOnde histórias criam vida. Descubra agora