Capítulo 40 - The end of innocence

11 2 22
                                    

O céu chorava novamente, como se a ilha inteira estivesse sendo constantemente sendo abraçada pelo frio, pelas nuvens de chuva e pelo medo. Meu corpo tremia incontrolavelmente. O medo e a sensação gélida de temer á morte me dominavam. Essa sensação horrível fora a mesma que sofri após a minha primeira morte, mas agora vinha por outros motivos... Eu havia esquecido o que era este temor. Havia esquecido o significado deste conceito. Ele invadia meu corpo como uma serpente fantasma, traiçoeira e rastejante que vinha do solo, subindo em minhas pernas e abrindo um vazio em meu estômago onde ia passeando por minhas entranhas e devorava pedacinho por pedacinho e envenenando todos os meus ossos e tornando minha alma podre sem que eu pudesse fazer qualquer coisa para a impedir.

Eu havia conseguido, por muito pouco, me salvar de uma queda severamente dolorosa e violenta conseguindo também salvar Asdriel usando meu sangue como garras que seguraram seu corpo de uma morte certa e horrenda.

Passei horas caminhando com ela em meus braços, cansado fisicamente e emocionalmente mas tentando fugir o máximo possível dos meus algozes. Não havia tido mais notícias deles desde minha queda, mas o temor de suas presenças ainda me assustava. Então eu apenas andava, sem parar, sem olhar para trás. Engraçado como que em motivos semelhantes, há algumas semanas atrás eu também carregava Bellator em meus braços, em outra chuva, em outras circunstâncias.

Olhei para a pequena Succubus que agora parecia ainda mais pequena, se encolhendo em meus braços, tremendo de frio. A morte lhe acariciava a pele pálida, lhe beijava os lábios, lhe abraçava com ternura querendo a capturar para si.

— Outro cadáver para sua conta, Afro! — dizia ele, a morte encarnada, Super-Ego. A existência que eu desejo nesse momento que não exista — Você percebeu, não é, Gael? Ser praticamente imortal e ser praticamente invencível são duas coisas bem diferentes. Você também não pode conseguir o que quiser sozinho, não importa quanto queira.

— Cala á porra boca... — eu disse de forma fria, sabendo que essa ordem jamais seria obedecida por esse demônio.

— Essas pessoas confiaram em você, e você as matou. Você pode quebrar um braço, perder a cabeça, pode até mesmo ser fatiado ao meio como um pedaço de carne qualquer que ainda assim vai se curar como agora. Olhe pra si mesmo... Limpo! Imune. Curado. Bem. Mas e eles? Eles não são como você, Gael... São quebradiços, são frágeis, são fracos... E o pior erro que tiveram foi confiar suas vidas á você — ia dizendo a inexistência.

Cala á porra da boca, por tudo que você ama, cala a porra da boca..! — eu disse agora mais irritado que antes.

— Você disse que não precisava de nós... Mas o que você conseguiu fazer sozinho? Matar seus amigos! Seus únicos amigos — ele parecia se animar cada vez mais com meu tormento — Olha pra essa garota que está em seus braços. Ela teria muito mais chances de sobreviver sem você por perto. Você é fraco, Gael! Você e essa sua arrogânciazinha de merda te trouxeram até aqui. Humilhado, abusado e sozinho.

Parei de caminhar por um momento. Eu queria afastar sua voz, queria afastar o sentimento de impotência, abatimento, queria poder arrancar meu coração do peito e o jogá-lo na lama... Mas provavelmente nasceria outro no lugar.

Enfim a chuva parou. Consegui á muito custo encontrar um lugar seco e coberto entre algumas pedras enormes, com espaço suficiente para dois humanos.

O sangramento entre suas pernas havia enfim parado. Usei a pouca mana que tinha para tentar a curar, mas minha pouca habilidade pesou novamente. Sinto que não ajudei em nada. Ainda assim, mesmo que eu curasse seu corpo, o que seria da sua alma?

Seu corpo ainda estava muito frio. Me aproximei do seu peito para sentir seu coração com meus ouvidos e então percebi uma aritimia inquietante em seu coração. Haviam duas batidas em ritmos diferentes. Dois pulsares de sangue. Um no esquerdo e outro no direito. Logo entendi o que significava aquilo. A biologia Succubus é ainda mais diferente quê eu imaginava.

Despair Land - A Queda Dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora