O dia seguinte foi tranquilo e decorreu com certa calmaria. Não pudemos sair ainda, Bellator disse ser perigoso pois as árvores ainda estavam acordadas e prontas para matar qualquer criatura que se aproximasse demais de suas raízes ou galhos. Nossos estômagos apertavam de fome e descobri por uma frase inocente dela que a falta de mana não só causava fraqueza como fome e dores de cabeça. Bem, estou sentindo ambos - pensei.
Entediados em nosso abrigo, começamos a contar histórias de nossa infância e estava decorrendo bem por um tempo. Descobri algumas das brincadeiras que ela fazia quando menor parecidas com as brincadeiras que eu fazia, no entanto ela tinha companhia quando as fazia. Ela me contou sobre como aprendeu á montar em grifos, o que eu imagino que não seja muito diferente do quê montar em cavalos e ambos eu desconheço como se faz.
Falou sobre ter aprendido á lutar desde muito cedo, sobre terem lhe ensinado costumes nobres, falou sobre a riqueza dos elfos e muitos outros assuntos até que em determinado momento todas as suas palavras lhe traziam o sentimento da dor de ter perdido tudo que lhe era mais importante. Seu olhar tornou-se frio e distante.
Ela encolheu seu corpo abraçando seus joelhos e abaixando sua cabeça como quem esconde um rosto coberto de lágrimas.
Respeitando seu luto, me afastei dela de forma educada e passei a me concentrar em olhar para o nosso exterior. Vi pelas frestas abertas pela elfa na árvore que chovia e relampejava fortemente lá fora. Havia também uma neblina úmida que não me permitia ver as outras árvores de forma completa. Para mim, eram apenas vultos enormes se movendo de forma conturbada.
Passei vários minutos somente observando o nosso exterior quando tive uma idéia para animar minha relação com a elfa. Uma idéia que senti doer em cada parte do meu corpo.
- E se lutássemos? - perguntei.
- Como assim? - ela rebateu a pergunta.
- Aproveitarmos que estamos á sós para treinar! - eu disse caminhando até ela - vem, levante-se! - ordenei.
Ela se sentiu surpresa por um momento e eu a estendi meu braço. A elfa sorriu, deu um tapa em minha mão e com uma cambalhota para trás se pôs de pé.
Seu corpo era ágil e ela parecia ter total controle dele.
- Talvez você se arrependa disso, humano! - ela respondeu enquanto fazia movimentos que pareciam o de um alongamento.
Animado, também me alonguei. Fomos até o centro da caverna, onde havia mais iluminação e pouca goteira. Fiz uma posição de combate, dei alguns socos no ar para me exibir o que somente lhe arrancou uma risada baixa e debochada.
- Como vai ser, então? - ela perguntou.
- Sem golpes baixos, sem golpes mortais ou fatais. O treino acaba quando qualquer um dos dois desistir, o que acha? - respondi - ah, sem usar magia também!
- A boa e velha força bruta! - ela respondeu com animosidade, também se pondo em pose de combate.
O primeiro round estava iniciado. Fui em passos rápidos até a elfa. Estava disposto á dar o primeiro golpe, usar todo meu conhecimento adquirido em várias seções de aulas de Muay Thay em minha adolescência.
Meus primeiros golpes foram contundentes e firmes na altura do rosto da elfa. Facilmente ela bloqueou alguns deles e desviou de outros. Tentar atingir ela era como acertar socos inúteis no ar.
Pouco á pouco fui ganhando terreno e me aproximando cada vez mais, restringido grosseiramente a distância entre nossos corpos até que ela não fosse mais capaz de somente se defender. Bastou um leve vacilo para que eu conseguisse lhe acertar o queixo. Meu soco não foi muito eficaz, percebi. Mas tê-lo acertado arrancou um sorriso tanto em mim quanto nela.
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Despair Land - A Queda Dos Deuses
FantasiSinopse: Afro é um jovem rapaz de 21 anos. Acabou de sair da casa dos pais. Estava morando sozinho em uma cidade nova há 2 anos mas, enquanto sua entrada na vida adulta e independente fora cheia de vontade e esperanças, a permanência na mesma o afas...