A vida sabe o que eu quero e fica se fazendo de difícil.
— Sergio Vaz
Seis meses atrás eu estava assistindo ao casamento do Vacchiano, um dos melhores eventos da minha vida. Recebi a maior das honras quando conduzi a noiva ao altar, na minha melhor pose de pai postiço, e experimentei em primeira mão o quão espetacular a cerimônia podia ser.
Como o pai babão da vez, celebrei com gosto o casamento do meu melhor amigo (e da minha amiga de curta data), tirei fotos a rodo, como se fosse aquela tia sentimental que está sempre orgulhosa dos feitos dos sobrinhos, dancei com a recém-casada, tentei tirar uma casquinha das madrinhas (não deu certo).
— Então, me diz uma coisa: o que uma mulher tão linda faz por aqui desacompanhada? — perguntei a uma delas enquanto dançávamos.
— Vim pelo casamento, óbvio. Tô em sua companhia. E você? Bebeu além da conta? Que tipo de pergunta é essa? — inquiriu ela.
— Nada disso. Tô ótimo. Foi modo de falar. É só que... você é tão bonita que me deixou sem jeito — inventei a desculpa, com a esperança de me safar daquele fracasso da pérola sagrada da arte da sedução.
— Nossa, você me desculpe — ela parou de dançar abruptamente —, mas com esse papo não rola, tá? Cê pode até ser bonito, mas, pra mim, não dá mesmo.
Dito isso, ela me deu as costas e sumiu em meio à pequena multidão de pessoas que dançavam extasiadas ao som de "Meu Cenário", na voz de Flávio José. Fui deixado para trás apenas para ficar ouvindo sobre o cenário de amor enquanto tentava lidar com a minha própria inabilidade para construir um.
Mesmo tentado a ficar para baixo com o acontecido, não me permiti ficar abatido. Bola pra frente. Escaneei o salão de festas em busca de uma potencial parceira para o fim da noite e encontrei outra madrinha — decerto alguma prima do Vacchiano, dada sua aparência familiar — e fui atrás dela.
— Sozinha, linda? — Cheguei nela, à mesa de frios, ignorando o quão investida ela estava em seu prato de queijo e salame.
— Muito bem acompanhada. — Apontou, com um gesto de cabeça, o homem mal-encarado que, provavelmente por desconfiar das minhas intenções com sua mulher, caminhava em nossa direção a passos firmes.
— Algum problema? — O homem, largo como uma geladeira, quis saber.
— Problema nenhum — falei de imediato. — Com licença — pedi, antes de sair às pressas, com medo de apanhar de graça de um cara capaz de me fazer voar longe só com um tapa.
Com esses e mais alguns insucessos na conta, busquei completar a lista de falhas da noite. Um vexame a mais, um a menos, não faria diferença. Sendo assim, corri atrás de Nicolly, a irmã mais nova do Vacchiano. A mulher que nunca me dissera um "sim".
E que não mudou de ideia só pelo clima de festa. Mal cheguei perto de sua mesa e ela anunciou que não estava interessada. Eu defendi minha causa e insisti (no erro).
— Você nem me deixou terminar de falar. Assim não tem como saber se você tá interessada ou não — apelei para o seu senso de justiça.
— Não importa, Juninho. Eu não tô interessada, tá bom? — frisou. — Mas tenho certeza de que um monte de mulher nessa festa tá louquinha pra encontrar alguém como você. Então nada de ficar com essa carinha triste. Isso aqui não é um funeral! — Tentou me animar depois do gelo que me deu.
Ah, se você soubesse a quantidade de mulher que não quer nada comigo, não me diria um negócio desses... Afastei-me dela como o cão arrependido, com o rabo entre as pernas, cabisbaixo, acanhado.
Depois desses (muitos) foras, desisti da minha caça ao tesouro. Sentei-me à mesa dos abomináveis homens da noite, os famigerados Cinco Fabulosos, e comecei a beber com meus amigos, que estavam igualmente livres e desimpedidos — porém, ao contrário de mim, por opção própria.
Sentado, enchendo a cara, observei as solteironas disputando o buquê e me perguntei se aquela era uma superstição válida para homens também. Questionei-me quão inadequado seria se eu me levantasse, me valesse da minha estatura para segurar as flores lá no alto, onde nenhuma delas alcançaria, e garantisse meu vale-casório.
Seria, no mínimo, deselegante. Disso eu sabia. Apesar de toda a vontade de avacalhar só para ver se eu trazia um pouco de sorte para minha vida, permaneci em meu lugar e continuei apenas observando. Principalmente os pombinhos, ambos de branco, rodando pelo salão de festas, como num filme de conto de fadas.
Meu relógio biológico apitava. Como não despertar para a vida, perceber que o tempo estava se passando, que eu não estava ficando mais novo e, mesmo assim, ainda não tinha uma companheira? Como não me perguntar se eu tinha algum defeito de fábrica e, por isso, ficava para escanteio?
Quando o garçom passou, peguei um copo de uísque e afoguei as mágoas. À mesa, tinha um companheiro de copo, o estimado e discreto Asimov. Alguém que eu julgava ser um solteirão inveterado. Alguém tão inalcançável para o amor quanto eu era.
Pela milésima vez na vida, julguei errado. O Asimov, poucos meses depois, me surgiu todo apaixonado e, atualmente, estava namorando. Fora a reviravolta das reviravoltas. Um solteiro a menos.
O círculo da solteirice se estreitava. E o que eu menos queria era continuar dentro dele. Precisava descobrir qual era o meu problema. Para ontem.
E aí? Gostou do prólogo? Fique um pouco mais pra saber o que vai acontecer com o pobi do Hoffmann (*^_^*)
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A Irmã
Romance+18 | Completo | Otto Hoffmann Junior é um encalhado de carteirinha. Vive dando de cara no muro quando o assunto é amor. Seus dotes não falham, mas é só ele abrir a boca que logo chega à conclusão de que seria melhor ter ficado calado. No entanto, s...