Não esperava encontrá-la ali, em meu escritório, sentada na mesa, de pernas cruzadas. Muito menos esperava por aquele vestido. Seu comprimento, seu decote, o corpo que ele abrigava.
Preparado para outra de nossas sessões de beijos, fui logo me adiantando e busquei seus lábios. Apenas para ser driblado e receber um beijo no pescoço que descompassou meu coração.
Havia algo de premonitório naquele beijo. Ao menos tive essa impressão.
Minha leve impressão encontrou sua justificativa quando ela expressou sua vontade de dançar. Eu bem sabia quais sentimentos eram despertados ao dançar com ela. Só não sabia o quanto eu resistiria a eles na presente noite.
Mesmo assim, segui-a. Fosse qual fosse seu plano, eu a acompanharia na execução sem me opor. Já não tinha mais forças para me conter, então apenas dancei conforme a música. Nós dançamos conforme a música.
Era noite de funk. Eu nunca havia agradecido tanto por ter instituído aquela noite em minha casa noturna. Fora esta determinação que permitira meu presente entretenimento: admirar a habilidade daquele quadril, que fazia um quadradinho perfeito.
Cada rebolada dela me afetava em intensidades diferentes, gradativamente maiores à proporção em que me atingiam em cheio. Mas o que acabou comigo mesmo foi quando ela se aproximou, ainda de costas para mim, e começou a roçar seu corpo no meu enquanto dançava.
Isso foi covardia. Apelação. Uma tremenda duma delícia. Não demorou muito para minha mão encontrar o caminho de sua barriga, agarrar sua cintura e trazê-la para mais perto de mim (algo praticamente impossível de tão colados que estávamos).
Afundei a cabeça em seu cangote e absorvi o cheiro da deliciosa fragrância de seu perfume — o mesmo perfume que se tornara meu favorito desde que o sentira pela primeira vez — enquanto o beijava. De quebra, aproveitei a proximidade de sua orelha para cochichar uma pérola da sedução e, assim, entretê-la.
— Gata, seu pai é advogado? — Minha cabeça vazia formulou a pergunta em uma forma de gracejo.
Naquela hora, esqueci-me completamente de que os Dubois tinham uma firma de advocacia que ocupava uma cobertura inteira no maior centro empresarial da cidade. O pai dela tinha literalmente um outdoor com o rosto dele e a logomarca da Dubois & Associados em todas as principais avenidas da capital.
E eu inventando de dar uma cantada dessas... Só posso ter perdido o juízo de vez.
— Sim? Até onde eu sei, ele não mudou de ramo. Tá tudo bem com você? — interrogou ela, preocupada com uma embriaguez precoce ou eventual perda de memória. Coisa da idade, na cabeça dos mais jovens.
— Tá sim. Deixe isso pra lá. Foi coisa da minha cabeça. — Tentei disfarçar a gafe.
Mesmo com a falha épica da cantada, ao fitá-la, não conseguia deixar de pensar que seu pai biológico, a exemplo do adotivo, havia feito direito. Uma beleza daquelas não se encontrava em qualquer canto.
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A Irmã
Romance+18 | Completo | Otto Hoffmann Junior é um encalhado de carteirinha. Vive dando de cara no muro quando o assunto é amor. Seus dotes não falham, mas é só ele abrir a boca que logo chega à conclusão de que seria melhor ter ficado calado. No entanto, s...