30 / Irmão

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A minha vida agora se dividia entre dois marcos: antes e depois de flagrar o Hoffmann macetando minha irmã

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A minha vida agora se dividia entre dois marcos: antes e depois de flagrar o Hoffmann macetando minha irmã. Esse era o tipo de pesadelo do qual não se dava para escapar. Quanto mais o tempo passava, mais aquela cena horrenda se repetia na minha cabeça.

O mais horrível era o fato de que se tratava de duas pessoas que eu amo profundamente — com um amor fraterno verdadeiro. Vê-los juntos foi como se ambos estivessem furtando algo de mim, usurpando um ao outro no meu coração.

Aquela visão foi uma abominação. Minha irmãzinha, que não passava de uma menina — que nunca passaria dos 15 anos aos meus olhos —, e um homem velho (rodado) igual ao Hoffmann era algo tão desproporcional quanto um rato e um elefante.

A analogia talvez fosse meio exagerada. Isso não importava. O que me importava foi que eu me senti traído. Fiquei às escuras naquele caso. Nem um dos dois confiou em mim o suficiente para abrir o jogo.

O quê? Eu era um péssimo irmão ou um péssimo amigo? Os dois ao mesmo tempo? Não me parecia justo. Descobrir daquela maneira foi o fim da picada.

Tudo bem que, se algum dos dois houvesse me contado, eu reagiria mal de qualquer forma. Mas reagir do pior jeito possível? De um jeito que, com certeza, não foi agradável para ninguém? Aí é foda.

E foda era uma coisa que eu nem queria conta depois daquela.

Aliás, eu também não quis conta com o Hoffmann até nosso acerto de contas na reunião extraordinária dos Cinco Fabulosos. Até ele me prometer não triscar um dedo na minha irmã novamente. Uma promessa que eu esperava que fosse lei.

Esperei tranquilidade e paz de espírito depois de ter dado o caso como encerrado ao resolver o assunto com Hoffmann, mas não tive nem um pingo disso. Além da estranheza entre mim e ele, virei um estranho para a minha irmã.

Fora de casa, não tinha normalidade quando saía com os amigos e ficava aquele clima desconfortável no ar quando eu e Hoffmann nos encontrávamos. Em casa, o desconforto dobrava quando minha irmã me tratava secamente, como a um desconhecido. Nem parecia a mesma Sophie de sempre. Parecia que alguém a substituíra por uma pedra de gelo.

O pior golpe me atingiu quando ela anunciou que retornaria ao convento mais cedo do que o estipulado. Ficou na cara que ela estava fugindo de toda aquela situação, na qual eu diretamente lhe metera. Senti-me um monstro diante dessa percepção.

O que foi que eu fiz?

Meu caro amigo Asimov respondeu a essa pergunta em um de nossos sábados de reunião ordinária, durante o churrasco na casa do Vacchiano.

— Você sabe que foi egoísta pra caralho, não sabe? — Asimov indagou.

— Não, não sei do que você tá falando. — Fiz-me de desentendido.

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