13 / Pecadora

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Ajoelhada há quase uma hora, tentava terminar minhas orações

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Ajoelhada há quase uma hora, tentava terminar minhas orações. Sem sucesso. As palavras embaralhavam-se. Eu perdia o fio da meada e me via obrigada a voltar ao início. Começava tudo de novo e chegava ao ponto onde me desconcentrava novamente.

Não era o meu dia.

Justamente quando eu precisava pagar todas as penitências possíveis para absolver meus pecados, nem o padre estava presente na paróquia. Eu estava sozinha na igreja, a poucos passos do confessionário, de joelhos, em contrição. Terrivelmente só.

Horas depois, farta de tanto tormento, sem nem conseguir terminar uma simples oração, levantei-me de supetão, pisando na barra do hábito sem querer, e quase caí. Ágil, apoiei-me nas costas do banco da frente e não fui ao chão.

Naquele instante, esse pequeno milagre reacendeu a chama da devoção em meu coração. Por um segundo, acreditei que havia sido perdoada e a graça recaíra sobre mim.

Todavia, eu não era o filho pródigo. Eu havia ido para o mundo, me esbaldado e adorado. Não havia um pingo de arrependimento genuíno em mim. Eu era movida pela culpa, pelo medo de julgamento, pela minha própria ganância.

Eu era gananciosa e muito. Queria tudo. Queria ter o conforto do meu cargo, da minha fé, e ter a consciência limpa com a absolvição de pecados que eu tão desesperadamente desejava cometer outra vez.

Passaram-se os dias e as imagens relutavam em sair da minha cabeça. Eu não conseguia me desassociar daquela mulher profana se entregando a quatro homens numa única noite. As coisas que ela fazia...

Uma onda de calor me abatia só de lembrar. As minhas roupas pareciam ainda mais quentes do que eram na realidade. Dava vontade de tirá-las. Tirá-las e me render àquelas memórias impuras. Despir-me de tudo que me lembrava da minha vida religiosa e atirar-me de cabeça nas aventuras daquela Sophie.

Eu não podia ceder a essas vontades. Estava determinada a não o fazer. Então voltei para casa, numa outra espécie de fuga da realidade. Lancei-me ao trabalho manual assim que cheguei, sem nem dispensar o jardineiro ou trocar de roupa.

Não queria pensar muito. Precisava apenas de agir, focar no agora, preencher a mente com pensamentos inofensivos. Ficar em meio às plantas e permitir a calmaria da natureza me invadir me traria inúmeros benefícios, antecipei eu.

Então ali fiquei, vagando pelo gramado, podando arbustos enquanto o profissional de verdade regava os canteiros. O cheiro de terra molhada e o canto dos passarinhos compunham o mais perfeito plano de fundo. Enfim, um pouco de paz.

Quando terminei minha tarefa, permaneci ali. Deitei-me na grama e apanhei meu terço. Só então, naquela calmaria, as palavras se formaram e saíram de minha boca em sussurros plácidos.

Permaneci rezando até o dia se tornar noite e o prenúncio do fim do expediente no jardim chegar. Rezei bastante. Mas era como dizem: quanto mais se reza, mais assombrações aparecem.

A IrmãOnde histórias criam vida. Descubra agora