Era noite do pôquer. Eu enfrentava o ápice do desastre na minha carreira de jogador experiente. Estava tão desconcentrado que em breve seria superado pelo Dubois, o pior entre nós — por nem sequer ser capaz de esconder um sentimento —, nos ganhos de fichas da noite.
Mas como não me desconcentrar? Estava na casa dos Dubois, na sala de jogos cuja janela dava direto para o mesmo jardim onde eu passara minhas melhores horas dos últimos tempos ao lado de Sophie.
— Ô, Hoffmann, cê tá ruim hoje, meu parceiro! — apontou Takahashi, com mais um de seus comentários previsíveis. — Acabou o gás, foi? Deve ser coisa da idade.
— Não enche, Taka — retruquei, indisposto. Não queria me justificar para senhor ninguém.
— Se tiver tão ruim assim, melhor encontrar alguém pra te substituir, porque ficar jogando de quatro não rola — sugeriu Takahashi, malicioso.
— Prosa ruim da porra, MD — resmungou Vacchiano, sério.
— É pra hoje? — questionou Asimov, ainda com sua cara de pôquer (aparentemente perpétua) e voz monótona. Um estranho diria que ele estava indiferente. Nós, que o conhecíamos há anos, sabíamos que ele estava extremamente puto.
— Quer saber de uma? — Dubois virou-se na cadeira, impaciente, e me encarou. — Chame a Sophie, fazendo o favor.
— O quê? — Meu coração parou por um segundo.
— A Sophie — repetiu ele, paciente. — Ela joga bem. Melhor do que você, se duvidar. Vai te substituir na boa.
— Se você diz... — Levantei-me bem devagar, me contendo para não demonstrar quão alegre eu fiquei com a tarefa de chamá-la, cruzei a sala de estar, subi as escadas, ansioso, e dirigi-me ao quarto dela.
A porta estava entreaberta, por isso, seria sensato bater antes de entrar. E eu o faria assim que chegasse perto o suficiente, pensei eu. O que eu não esperava foi a pedrada que me atingiu antes que eu pudesse bater na porta.
Ao aproximar-me do quarto de Sophie, através da abertura generosa de sua porta, pude vê-la deitada de bruços, distraída, lendo um livro... com o mínimo de roupa possível.
A calcinha branca escapando pela borda da camisola repuxada me fez engolir em seco. Era tão estreita que mal existia. Mas cumpria seu propósito: não cobria nada e realçava as belas curvas de sua bunda.
A visão tentadora por pouco não me induziu ao erro. Por sorte, fui forte.
Não iria ficar ali, à sua porta, feito um maníaco, observando-a do jeito menos decente possível. Embora a vista estivesse muito bonita, precisava bater.
Ao som das batidas, ela derrubou o livro, puxou os lençóis e cobriu as vergonhas por instinto. Fez bem (para si mesma e para mim).
Ficamos nos entreolhando por segundos que mais pareceram uma eternidade. O silêncio parecia correto frente aos ares de estranheza, mesmo assim eu o desafiei para falar com ela.
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A Irmã
Romance+18 | Completo | Otto Hoffmann Junior é um encalhado de carteirinha. Vive dando de cara no muro quando o assunto é amor. Seus dotes não falham, mas é só ele abrir a boca que logo chega à conclusão de que seria melhor ter ficado calado. No entanto, s...