4 / Carona

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Segundou

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Segundou. Meu dia de folga enfim chegara. Nada melhor do que uma boa noite de sono, vitamina de maçã e uma ducha gelada. Nessa exata ordem. Na maior paz. Sem interrupções.

Até o momento.

Estava saindo do banho quando o toque do celular ecoou pelo cômodo. Logo fui ao encontro do aparelho. Ligação do Dubois. O que é desta vez? Se for encheção de saco pra me meter em alguma furada, desligo na cara desse infeliz.

— Fala, Jean — atendi à chamada, sem muita paciência, antecipando uma proposta merda de sua parte.

— Porra, Juninho, seco desse jeito? — questionou ele.

— Nem venha de drama, vá direto ao assunto — pedi, categórico. Apesar do receio de ter magoado sua constituição sensível não me rendi à tentação de recuar e me retratar como se houvesse dito a pior ofensa do mundo.

— Se você quer assim... — enunciou com sua voz ressentida. — Preciso te pedir um favor.

— Manda. — Estava doido para me livrar do suspense e ver qual proposta desfavorável ele me faria a seguir.

— Minha irmã tá pra chegar de viagem e não tem ninguém pra pegar a piveta — enfim revelou o mistério. — O motorista falou que o carro deu PT e não ficará pronto a tempo da chegada dela — explicou ele. — E eu nem posso sonhar em sair daqui antes do fim do expediente. Mas também não quero deixar a caçulinha esperando. Então... Poderia quebrar esse galho pra mim?

— Sem problema, parceiro — respondi com a maior disposição, num tom bastante diferente do qual comecei a conversa. Até porque não mais se tratava do Dubois. Agora era sobre sua irmã.

Nunca seria capaz de negar um favor à irmã de Jean. Nunca negaria qualquer coisa.

Sophie, o melhor resultado possível de uma adoção motivada pelo delírio de brancos salvadores dos pais do Dubois, era um anjo em forma de gente. Não à toa havia virado freira quando completou 18 anos.

Com o maior prazer, enfrentei um engarrafamento absurdo e fiquei de castigo, sentado numa cadeira de aeroporto, até a sua chegada. Esses infortúnios, entretanto, foram o de menos. Ninharia. Tudo de ruim desapareceu quando ela chegou.

Acenei quando a vi de longe, saindo pelo portão de desembarque, arrastando suas malas, toda desengonçada. Enquanto acenava, não pude deixar de reparar nela como um todo, no quão diferente estava.

Usava as vestes típicas de uma irmã de ordem religiosa, um hábito de um marrom sóbrio, quase da cor de sua pele, acompanhado por sapatos baixos e crucifixo de madeira. Mas tinha um rosto de mulher feita, de traços afiados, contrastando com toda a inocência do resto do corpo.

Em meio à distração, ela finalmente me viu.

Surpresa com a minha presença, largou a bagagem de qualquer jeito, disparou numa espécie de corrida em minha direção e lançou-se num pulo. Pendurada em meu pescoço, deu-me um beijo na bochecha que me deixou encabulado.

A IrmãOnde histórias criam vida. Descubra agora