15 / Sopa

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Para expiar meus muitos pecados, envolvi-me em muitas ações da paróquia mais próxima — uma espécie de barganha que funcionava em teoria, mas na prática se provava infrutífera

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Para expiar meus muitos pecados, envolvi-me em muitas ações da paróquia mais próxima — uma espécie de barganha que funcionava em teoria, mas na prática se provava infrutífera. Não se tratava de fé com ou sem obras. Mas, sim, de um acúmulo de faltas não confessas e, para piorar, sem o mínimo de arrependimento verdadeiro.

No fundo, no fundo, eu não me arrependia. Sentia culpa, vergonha, medo de ser descoberta. Entretanto, dada a oportunidade, eu faria tudo outra vez. Sem tirar nem pôr. Aproveitaria cada segundo no paraíso proibido.

Nessas horas de fraqueza, nas quais eu lembrava dos meus atos com certo saudosismo, a vontade de pagar penitência falava mais alto. Então eu caçava alguma tarefa para me dedicar. Mais especificamente, trabalhos voluntários.

Ocupar a cabeça com atividades produtivas parecia-me o certo a se fazer quando tudo que eu fazia (e tinha em mente) era errado. Com essa decisão a me guiar, caminhava até a igreja a passos lentos e firmes.

A brisa suave acariciava meu rosto. Veio-me a vontade de soltar os cabelos para ficarem à mercê do vento. Embora a vontade de sentir na pele o toque dos fenômenos naturais fosse enorme, naquela ocasião, eu realmente não podia ceder aos meus caprichos.

Assim, continuei andando, abafada sob minhas vestes longas e de tecido espesso, apenas flertando com o frescor da tarde batendo nas escassas partes do meu corpo descobertas. Precisava tolerar o calor em nome da modéstia — o que, em si, já seria uma punição —, era a escolha correta.

As coisas corretas, entretanto, encontraram um fim precoce quando um carro reduziu a velocidade e buzinou para me abordar. Em um desses acasos traiçoeiros, tendo minha casa como destino, Otto havia passado por mim, me reconhecido e oferecido carona.

A princípio, fiquei relutante. Ficar perto dele soava como a receita para o desastre. Após ter sido submetida às suas habilidades de persuasão, aceitei a carona. Não era como se eu preferisse andar a pé do que ser conduzida pelo príncipe encantado em seu Audi branco.

Ao enfim chegarmos às portas da igreja, chegamos também ao ponto de uma daquelas despedidas esquisitas — que não se sabe se é "adeus" ou "até logo". Prontamente, meus pensamentos, eufóricos, pulularam. Levantei dúvidas pertinentes apenas para o lado do meu Eu que era tiete do Hoffmann.

Será que eu iria vê-lo mais tarde? Iria encontrá-lo assistindo a algum jogo acompanhado por meu irmão? Ou será que ele já terá ido embora há muito quando eu finalmente voltasse?

Não posso correr o risco, o pensamento intrusivo passou à frente. Quando dei por mim, o estrago estava feito e eu não podia retirar o que disse.

De um ímpeto, o convidei para ser voluntário também. Falei às pressas, no automático, incapaz de controlar minha própria língua — que verbalizou meus desejos sem filtro algum.

Ele aceitou sem pensar duas vezes, deixando-me sem fala. O convite havia nascido de um impulso. Eu sequer cogitara uma resposta que não fosse um "não" direto ou uma desculpa cheia de rodeios, com o propósito de não me magoar após um convite tão enérgico da minha parte.

A IrmãOnde histórias criam vida. Descubra agora