27 / Arrependido

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Não aguentava mais aquilo

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Não aguentava mais aquilo. Precisava extravasar o que estava engarrafado no meu peito depois daquele festival de merdas que me acontecera na mesma semana. E quem melhor do que o catalisador daquele inferno para ser o alvo de minhas palavras sinceras?

Tive a brilhante ideia de confrontar Dubois. Nosso probleminha não podia ficar por isso mesmo. Não dava para abrir mão de Sophie tão facilmente. Seria um pecado deixá-la ir sem apresentar resistência por conta de um acordo qualquer com um amigo ciumento.

Fui ao seu encontro, no fim de seu expediente, aventurando-me no território dos Dubois, como prova de minhas boas intenções. Infelizmente, minhas boas intenções de nada me serviram. Não significaram nada para Jean quando ele enfim compreendeu qual era o motivo da minha inesperada visita.

— Não me venha com ideia errada — repreendeu-me. — Ainda mais agora.

— Por favor, repense — supliquei. — Pela consideração que você tem por mim, repense. Você não faz ideia do tanto que eu gosto da sua irmã. Nem do quão sofrido tá sendo viver sem ela — apelei, abrindo meu coração.

— Eu tô falando sério, Hoffmann. Fique longe da minha irmã — recomendou Dubois, em tom de ordem.

— Mas... — tentei retorquir, mas fui cortado com ignorância.

— Mas o quê? Não combinamos que você continuaria sendo meu amigo e deixaria a Sophie em paz? — lembrou-me do nosso trato, como se eu precisasse daquele lembrete nada amigável.

— Combinamos, mas... — tentei de novo. A esperança é a última que morre.

— Se combinamos, tá combinado — interrompeu-me com brusquidão. — Nem uma palavra a mais, tá ok? — decretou ele. — Passar bem, Juninho. — Fechou sua pasta e saiu de seu escritório pisando firme, como se quisesse descontar sua irritação no chão.

Tive um déjà vu horrível com o tal de "passar bem, Juninho". Calei-me depois de suas palavras. Fiquei completamente sem reação, parado feito um bobalhão.

Não tive atitude alguma. Não me impus. Não realizei nada do que eu viera fazer. Não esbravejei, não me fiz ser ouvido. Fui apenas o Otto de sempre. O cara bacana que aceitava qualquer coisa de bom grado.

Patético. Eu nunca iria a lugar algum assim. No máximo, tornaria meu lance com Sophie algo às escondidas das escondidas, top secret do governo estadunidense. Isto é, SE ela quisesse. Ainda tinha esse pequeno probleminha. Ainda tinha de falar com ela.

Passei na casa dos Dubois — num horário em que Jean com certeza não estaria em casa —, busquei-a e a encontrei. Fui recepcionado por uma Sophie mal-humorada, cujas respostas monossilábicas me brocharam, drenaram meu espírito de insistência de um modo nunca antes visto, num nível que quase meti o pé na hora, só pelo clima pesado e a sensação de que eu não era bem-vindo.

A IrmãOnde histórias criam vida. Descubra agora