19 / Ordinária

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Quando soube que os Fabulosos apareceriam por aqui para a noite do pôquer, gastei toda a minha energia para esconder a empolgação

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Quando soube que os Fabulosos apareceriam por aqui para a noite do pôquer, gastei toda a minha energia para esconder a empolgação. Ou melhor, guardei a energia para dedicá-la às minhas maquinações.

Hoffmann vinha incluso no pacote dos Cinco Fabulosos. E sua presença mudava tudo. Eu precisava fazer algo a respeito dela. Esse algo não poderia ser apenas um tímido "oi" à distância. Deveria ser incisivo.

Com isso em mente, desenterrei um antigo conjunto de camisola e calcinha de renda branca — parte do pacote "perder a virgindade de um modo romântico" utilizado pela primeira e última vez anos atrás — para me ajudar na tarefa.

O caimento da camisola continuava péssimo e a calcinha, antes pequena, ficara minúscula e apertada. Mesmo assim, serviria. Descontaria um pouco do meu sofrimento. Não seria tão efetivo quanto seu tentador corpo molhado, mas chamaria sua atenção.

Atenta ao movimento à porta da casa, espiando pela janela, avistei-o e acompanhei sua entrada. De imediato, esperando por uma visita sua, ajeitei as roupas e me posicionei de acordo com o cenário perfeito que minha imaginação produzira.

Peguei um livro, deitei-me de bruços, levantei a borda da camisola o suficiente para dar-lhe uma amostra grátis daquilo que (em um universo ideal) ele podia ter nas mãos e assim permaneci. Uma hora ele viria, convenci-me.

A qualquer momento, lutava para convencer a mim mesma à medida que os minutos se passavam. Uma hora, sim, uma hora ele viria. Não viria?

Demorou. Mas ele veio.

E me pegou desprevenida a despeito de toda a minha preparação.

Tomei um susto daqueles. Derrubei o livro no processo. Sem pensar direito, puxei os lençóis para me cobrir, receosa de ser meu próprio irmão a bater na porta, entrando em pânico com a mera perspectiva de inventar uma desculpa elaborada para justificar a cena.

"Tirei a camisola do guarda-roupa e vesti só pra arejar", seria essa a minha desculpa. Não era muito boa, mas serviria. Jean gostava de acreditar na minha inocência. Para ele, eu não passava de uma criança crescida. A justificativa ia servir.

Ao processar a imagem de Otto, finalmente me acalmei, perguntei-lhe se ele desejava entrar e, quando ele fechou a porta atrás de si, senti-me no topo do mundo. Enfim estava numa posição de poder.

O sentimento de retaliação havia me tomado por inteiro. É hoje que esse homem vai ter um gostinho do que ele faz comigo. Otto iria provar do seu remédio amargo. E eu o ofereceria de canudinho.

Para ser honesta, eu sequer sabia se Otto agia como agia de forma intencional, querendo instigar, despertar algum desejo oculto em mim, ou se apenas o calor e outras causas quase naturais o levavam a tirar a camisa e entrar em outro nível de sensualidade.

Fosse como fosse, eu sabia de — ou ao menos pensava ter certeza sobre — sua atração por mim. Graças às suas inúmeras desculpas para passar tempo comigo, empenhando-se muitas vezes em tarefas nada atrativas, deduzira seu interesse.

Muito ou pouco, de natureza platônica ou não, interesse duradouro ou passageiro, tanto fazia. O importante era que eu não estava sozinha naquele barco.

Infelizmente, nesse mesmo barco, só eu andava sofrendo com o tranco do bater das ondas de seu abdome definido. Em momento algum, eu apresentara uma ameaça com meus hábitos, saias longas, conjuntinhos surrados e macacões velhos. Nesse sentido, eu continuava sozinha.

Por isso, me vinha a necessidade de igualar nosso placar. E pelo menos uma vez colocá-lo no meu lugar. Essa era a meta. Era.

Ao vê-lo tropeçar no tapete, sentir meu coração parar por um segundo pelo medo de uma queda feia e suspirar aliviada após ele se estabacar ao meu lado na cama, compreendi que meu plano de ser a sedutora da noite fora por água abaixo.

Nós dois juntos, sozinhos, sobre a minha cama — que tanto testemunhara minhas aventuras —, fez com que eu caísse na minha própria rede e me visse seduzida, tentada por aquele homem de fala suave e modos amigáveis.

O sentimento apenas escalou conforme trocamos palavras. Conversa foi, conversa veio. Então, eu sofri um golpe fatal. Otto Hoffmann admitiu seu interesse por mim, a seu próprio modo, mas com todas as letras.

Não me pareceu uma revelação leviana. Seu semblante sério, seus olhos azuis que não se desviavam nem por um segundo, ombros tensos, punhos fechados apoiados na cama: nele lia-se convicção.

Senti-me na obrigação de ser tão honesta com ele quanto ele fora comigo. Assim, demonstrei que o via com os mesmos olhos, do melhor jeito que pude, com a melhor linguagem do meu corpo. Dei-lhe um beijo.

Um beijo virou dois. Depois três. Quatro. Por aí foi. Quando percebi que sua mão descia pelas minhas costas, me dei conta de onde aquilo iria parar. Fiquei bastante animada, não podia negar.

Pena que teve um fim precoce.

Otto se desvencilhou a contragosto, pude notar. Seu senso de lealdade aos amigos era admirável. Havia um quê de irmandade entre os Fabulosos que nunca cessava de me impressionar. Então eu o compreendi apesar de ainda lamentar a interrupção.

Ao passo que eu tentava ser compreensiva e deixá-lo ir, sem apelar para artifícios capazes de fazê-lo ficar, uma necessidade absurda de repetir a dose me tomava. Então tratei de cavar aquele pênalti e perguntar se nos veríamos de novo.

— Claro. Quando você quiser — disse ele, solícito.

Quando eu quisesse. Assim alegou ele. Desse modo, passou as rédeas para mim e garantiu-me a posição privilegiada de determinar nossos encontros. Uma posição perigosa para alguém como eu.

Fiquei outra vez entre a cruz e a espada. Tinha novamente em minhas mãos o poder de escolher entre cessar minhas aventuras ou perpetuá-las a meu bel prazer. Poderia repelir as ideias impuras, confessar-me e seguir a minha vida em paz.

Também poderia me render às delícias de me envolver com alguém. E não qualquer alguém. Um alguém que concretizaria meu sonho de infância. Colocando assim, a resposta parecia bastante óbvia.

Só me restava esperar a devida oportunidade para mergulhar de cabeça naquele novo velho mundo.

Esperar a hora certa: isso era o que eu faria. Sim, eu escolhi esperar.

Quero só ver até onde chega essa espera rsss

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Quero só ver até onde chega essa espera rsss

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Beijos mil 🩷

A IrmãOnde histórias criam vida. Descubra agora