7 / Boate

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As luzes piscavam

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As luzes piscavam. Suas cores vibrantes ocupavam todo o meu campo de visão. Admirava os corpos suados que se movimentavam ao ritmo da música. Tudo no Risca Faca era dinâmico. Vivo. Não só existente. Realmente vivo.

Era minha primeira vez em uma boate. Eu sabia que não devia estar ali. Mas não resisti. Do mesmo jeito que não resisti ao dono do lugar.

Inclinada para observar melhor o andar de baixo, apoiando os cotovelos sobre o guarda-corpo, matava o tempo ao lado de Otto. Educativo, encheu-me de narrativas a respeito da casa noturna.

— O Risca Faca já foi um bar, sabia? — dividiu comigo a curiosidade. — Daqueles capengas, com um jukebox quebrado, seresteiro desafinado, cerveja quente e muita briga. Mesmo assim, meu pai viu potencial, comprou o bar e as casas vizinhas, construiu essa maravilha que a gente vê hoje.

Hoffmann falava de seu estabelecimento de uma maneira tão apaixonada que eu não conseguia parar de me questionar se ele seria capaz de falar sobre uma mulher daquele jeito. Falar sobre mim, quem sabe.

Sobre mim? Até parece! Não resisti e ri de minha própria tolice.

— É incrível, né? — Otto sorriu para mim, confundindo meu riso direcionado ao mundo interno com uma reação ao mundo externo, onde ele me contava suas histórias.

Pelo menos ele ficou feliz, alegrei-me com o prêmio de consolação. Apesar de eu não ser uma forte candidata ao cargo de assunto de suas falas enérgicas, fora eleita para o posto de resgatadora de ânimo.

— Incrível mesmo — concordei, meneando a cabeça e alargando meu sorriso. Naquele momento, já não estávamos mais na mesma página.

A minha vista incrível tinha nome e sobrenome. Meu senhor incrível estava postado ao meu lado, assistindo ao mundo no modo panorâmico, de cima, conversando sobre seu assunto favorito.

— Pra você ter uma ideia, a MC Beyoncé já fez show aqui no Risca — contou ele, com ares de página de fofoca. — Quando ninguém botava fé, nós conseguimos lotar a casa com ela. Agora ela é uma das nossas maiores investidoras, nos ajudou a crescer por termos dado essa forcinha no início de carreira — gabou-se. Com razão.

— Isso é ótimo, não? — Tentei me equiparar ao seu nível de entusiasmo na hora de enunciar as palavras. Queria acompanhá-lo e ativar meu modo animação também.

— É uma das partes mais gratificantes de trabalhar aqui. Esse retorno. Dos clientes, dos funcionários, dos artistas que performam aqui todo fim de semana. É indescritível — confessou.

— Imagino — disse eu, admirando seus olhos brilhantes, que reluziam ainda mais sob as luzes da boate.

Só podia imaginar mesmo.

Permanecemos assim, juntos, ao longo da noite, para sua surpresa (surpresa que estava estampada em sua cara e ele não conseguira esconder). Depois de assegurar-se de que eu realmente não iria para casa tão cedo, tratou de me levar a um canto reservado da área VIP e me trazer um coquetel sem álcool.

Sua preocupação fora louvável. No entanto, se havia alguma coisa que eu precisava naquele momento, era encher a cara.

O cansaço de ser a Sophie certinha batera mais forte naquele dia e, como eu já o atendera, por que não o deixar assumir as rédeas da minha conduta? Estava em uma casa noturna, na chuva metafórica, por que não me molhar todinha?

— Vodca e tônica — disse eu, colocando minha mão sobre a sua antes de ele pedir mais uma dose de suco tunado.

— Hã? — Seus olhos se arregalaram, como se eu houvesse dito algo ofensivo ou cometido um crime.

— Vodca e tônica, por favor — repeti, numa voz de súplica.

— Você é quem manda. — Atendeu ao meu apelo e arranjou-me a bendita bebida.

Quando o barman entregou o copo em mãos e eu dei as primeiras goladas, ele, como um bom anfitrião, quis saber a minha opinião.

— Tá gostoso? — indagou Otto.

Suas perguntas com um duplo sentido não intencional me arrasavam. Eu sabia que ele estava falando do drink, mas, por motivos de força maior, interpretava como se ele estivesse falando de si mesmo.

— Muito — afirmei com determinação. Você é muito gostoso, quase deixei escapar.

Bebemos juntos, varamos a madrugada, dançamos descalços no fim da festa. Fizemos tudo o que podíamos fazer. Ou melhor, quase tudo.

Não havíamos cruzado a linha da amizade. Permanecemos na área segura de brindes e conversas banais. E isso lembrava-me da minha própria condição.

Eu tinha um compromisso a honrar. Não podia me render às fantasias da adolescência, por mais tentadoras que elas fossem. Mesmo assim...

Os sentimentos mistos tomavam conta de mim. Por um lado, havia o peso do erro, do pecaminoso. Por outro, estávamos tão perto, tão em sintonia, que seria um desperdício não aproveitar o momento e fazer uma investida ousada.

Nenhum de nós foi ousado o suficiente para dar o primeiro passo. Quando não havia mais energia em nossos corpos, simplesmente nos sentamos no chão sem cerimônias. Exausta, escorei a cabeça no ombro dele e por pouco não adormeci.

Recobrei o ânimo apenas quando ele tocou em meu ombro com gentileza e sussurrou:

— Hora de ir embora. — Afastou-se com cuidado, levantou-se e me estendeu a mão.

Ainda sem soltar minha mão, conduziu-me até o estacionamento e chamou seu motorista prontamente. Colocou-me no carro com o mesmo zelo de antes. Quando fez menção de ir embora e deixar que o motorista me levasse sozinha, protestei.

Afinal, fazia questão de ser escoltada pelo meu companheiro de bebedeira. Queria sua companhia como nunca. Precisava dela.

Tanto precisava que, como resultado de todo o sono acumulado ao perder a noite, tombei em seu colo no meio do caminho e cochilei durante o percurso. Quando ele me acordou, já estávamos à porta da minha casa.

Após uma breve e acanhada despedida, na qual trocamos dois beijos nas bochechas, corri para a porta dos fundos e tratei de subir ao meu quarto furtivamente. Não queria preocupar ninguém. Nem me denunciar.

Minha escapada fora errada. Muito errada. Fora minha fraqueza que permitira a série de transgressões cometidas num curto espaço de tempo. Ninguém poderia saber daquela falta cometida. Minha vergonha teria de permanecer comigo até a minha próxima confissão.

 Minha vergonha teria de permanecer comigo até a minha próxima confissão

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Alguém não tava querendo ir embora...

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Beijos mil 🩷

A IrmãOnde histórias criam vida. Descubra agora